sábado, 14 de maio de 2022

Mediunidade na Adolescência

 Casa Espírita Missionários da Luz

Mocidade: > 14 anos 13/05/2022

Estudo virtual Google Meet

Tema: Mediunidade na Adolescência

Objetivo:

  • Identificar os indícios da mediunidade na adolescência e como lidar com o fenômeno;

  • Perceber a mediunidade como instrumento de progresso para o Espírito encarnado;

  • Conhecer a vida e obra da médium Yvonne do Amaral Pereira.


Bibliografia:

O Livro dos Espíritos, Cap IX – ‘Da intervenção dos Espíritos no mundo corporal’ perg 459 à 461, 467,469, 471, 472, 495;

O Evangelho segundo o Espiritismo. Cap. 24, item 12 (Os sãos não precisam de médico); Cap. XXVI (Dai Gratuitamente o que Gratuitamente Recebestes), itens 1 e 2;

O que é o Espiritismo, Cap. 2, item 79;

Livros dos Médiuns, 1ª parte, Cap. III (Do Método), item 18, 32, 35; 2ª Parte, Cap. XIV ‘Dos Médiuns’, itens 159, Cap. XVII ‘Da Formação dos Médiuns’, itens 217, 200, 220- perg. 12ª e 14ª; Cap. XVIII (Dos Inconvenientes e Perigos da Mediunidade), itens 221 e 222;

Adolescência e Vida, Joanna de Ângelis/Divaldo Franco, Cap 20 ‘O adolescente e os fenômenos psíquicos’;

Recordações da Mediunidade, Yvonne Pereira;

Os Mensageiros, André Luiz/Chico Xavier, Cap VII - A queda de Otávio.

Biografias de Yvonne Pereira:

- Jornal Macaé Espírita - Nº 289/290 - Janeiro e Fevereiro de 2000

- Biografia compilada por Rocky Antonio Valencia Oyola

(http://www.espiritismogi.com.br/biografias/yvonne.htm)

- (http://www.espiritismogi.com.br/biografias/yvonne_do_amaral_pereira.htm)

- https://www.youtube.com/watch?v=KxkP6sWeCqE - Yvonne Pereira - Entrevista com Wagner Gomes da Paixão

Material:

Desenvolvimento:

  1. Hora da novidade, exercícios de respiração profunda e prece Inicial

  1. Motivação ao tema:


Vamos ver a vida de dois médiuns: Yvonne Pereira, que já estudamos ano passado e vimos esse ano mesmo, 3 reencarnações dela na trilogia de Nas Voragens do Pecado, e um caso relatado por André Luiz, psicografia de Chico Xavier, no livro Os Mensageiros. Vamos analisar essas duas experiências, para uma análise comparativa.


Dívidas de encarnações passadas:


Yvonne Pereira

Otávio

Resgate por ela ter se suicidado nas duas últimas encarnações, não valorizando a família que tinha.

Contraiu dívidas enormes na esfera carnal, noutro tempo. Débitos contraídos na área sexual.



Planejamento da próxima encarnação:


Yvonne Pereira

Otávio

Mediunidade desde a infância, com atendimento aos Espíritos suicidas em sofrimento, e escrever a obra “Memórias de um Suicida”.

  • Dificuldades financeiras a vida toda;

  • Sem acesso a estudos acadêmicos;

  • Sem matrimônio nem filhos.

Se preparou durante trinta anos consecutivos, para voltar a Terra em tarefa mediúnica, para saldar dívidas e elevar-se alguma coisa. Não faltariam lições verdadeiramente sublimes, nem estímulos santos ao seu coração imperfeito.

- Sem acesso a estudos acadêmicos, mas com acesso desde cedo à cultura dos Evangelhos.


Técnicos do Auxílio acompanharam-me a Terra, nas vésperas do meu renascimento, entregando-me um corpo físico rigorosamente sadio. Segundo a magnanimidade dos meus benfeitores daqui, ser-me-ia concedido certo trabalho de relevo, na esfera de consolação às criaturas. Permaneceria junto das falanges de colaboradores encarregados do Brasil, animando-lhes os esforços e atendendo a irmãos outros, ignorantes, perturbados ou infelizes.”


O matrimônio não deveria entrar na linha de minhas cogitações.”


Nada obstante, solteiro, deveria receber, aos vinte anos, os seis amigos que muito trabalharam por mim, em “Nosso Lar”, os quais chegariam ao meu círculo como órfãos. Meu débito para com essas entidades tornou-se muito grande e a providência não só constituiria agradável resgate para mim, como também garantia de triunfo pelo serviço de assistência a elas, o que me preservaria o coração de leviandades e vacilações”



Realizado:


Yvonne Pereira

Otávio

Nasceu em 24-12-1900 no Rio de Janeiro.

Reencarnou a partir de Nosso Lar, com apoio dos benfeitores que o orientavam.

Família: Teve 5 irmãos mais moços e um mais velho, filho do primeiro casamento da mãe.

O exemplo de conduta dos pais teve influência capital no futuro comportamento da médium.

Era comum albergar na casa, pessoas necessitadas e mendigos.

- Mãe espírita desde moça; pai homem de bem.

- Aos 13 anos, ficou órfão de mãe;

- Aos 15 anos, o pai casou de novo com mulher com 3 filhos pequenos. Apesar da bondade da madrasta, Otávio colocou num plano de falsa superioridade a respeito dela.

Instrução Escolar: Primário

Desde muito pequena cultivou o estudo e a boa leitura.

Aos 16 anos já tinha lido obras dos grandes autores como Goethe, Bernardo Guimarães, José de Alencar, Alexandre Herculano, Arthur Conan Doyle e outros.

Não possuía títulos oficializados de competência, mas dispunha de considerável cultura evangélica, coisa que, para a vida eterna, é de maior importância que a cultura intelectual, simplesmente considerada.”

Vidência e Audição: desde os 4 anos de idade via seus familiares da última encarnação, na Espanha. Teve uma infância infeliz.

- Aos quinze, vieram para mim os primeiros chamados da esfera Superior.

  • Aos 8 anos teve o primeiro contato com um livro espírita.

  • Aos 12, o pai deu-lhe de presente “O Evangelho segundo o Espiritismo” e o “Livro dos Espíritos”.

  • Aos 13 anos começou a frequentar as sessões práticas de Espiritismo.

Os parentes conduziram-no a um grupo espírita de excelente orientação evangélica onde suas faculdades poderiam ser postas a serviço dos necessitados e sofredores; entretanto, faltavam-lhe qualidades de trabalhador e companheiro fiel.

  • Situação Financeira: modesta.

  • Precisou trabalhar desde cedo para seu próprio sustento (costureira).

Com 19 anos, entregou-se ao abuso das forças sexuais.

- Com pouco mais de 20 anos, o pai morreu. Ficaram na orfandade 6 crianças desfavorecidas. Em vão a pobre viúva pediu auxílio.

- Após 2 anos de segunda viuvez, a madrasta foi recolhida a um leprosário. Os pequenos órfãos ficaram abandonados.

Não chegou a constituir família.

Foi obrigado a se casar por ter se tornado pai. O filho, em ligação espiritual com a mãe, era de nível evolutivo inferior.

Apoio espiritual:

  • Charles, o espírito elevado, foi seu orientador durante toda a sua vida e atividade mediúnica.

  • O espírito Roberto de Canalejas, que foi médico espanhol em meados do século XIX era a outra entidade pela qual nutria um profundo afeto e com a qual tinha ligações espirituais de longa data e dívidas a saldar.

  • Na vida adulta, manteria contatos mediúnicos regulares com outras entidades não menos evoluídas, como o Dr. Bezerra de Menezes, Léon Denis, Frederic Chopin e outras.

Teve amigos generosos do plano superior, que se faziam visíveis aos seus olhos, recebeu mensagens repletas de amor e sabedoria.


Os beneméritos amigos do invisível estimulavam ao serviço, mas ele duvidava deles com a sua vaidade doente.

Desencarnou em 19-03-1984, aos 83 anos de idade.


Desencarnei mal tendo completado quarenta anos, roído pela sífilis, pelo álcool e pelos desgostos...”


  1. Vamos então conversar um pouco sobre a mediunidade na vida das pessoas, algumas desde a infância, como Yvonne, Divaldo, Chico Xavier, outras aparecendo na adolescência, e como viver essa faculdade.


- Como começou a mediunidade no caso de Yvonne?

- desde sempre! E como vimos, foi oportunidade de resgate; ressarcir o débito trabalhando no Bem!

- Como ela trabalhou no Bem?

- atendendo, esclarecendo Espíritos sofredores e muitos suicidas, através da mediunidade. A mediunidade é uma forma de crescimento espiritual. É um instrumento de evolução, de ressarcimento de débitos passados! É doação!


Vamos ver algumas perguntas sobre a mediunidade, porque nós espíritas, temos a responsabilidade de auxiliarmos aos não espíritas que conhecemos que podem estar vivenciando experiências mediúnicas e não tem informações a respeito.

i. O que é a mediunidade?

Todo aquele que sente, num grau qualquer, a influência dos Espíritos é, por esse fato, médium. Essa faculdade é inerente ao homem; não constitui, portanto, um privilégio exclusivo. Por isso mesmo, raras são as pessoas que dela não possuam alguns rudimentos. Pode, pois, dizer-se que todos são, mais ou menos, médiuns.” (LM, item 159)


ii. Por que uns tem mediunidade ostensiva e outros não?

Usualmente, assim só se qualificam aqueles em quem a faculdade mediúnica se mostra bem caracterizada e se traduz por efeitos patentes, de certa intensidade, o que então depende de uma organização mais ou menos sensitiva.” (LM, item 159)

A faculdade medianímica prende-se ao organismo; ela é independente das qualidades morais do médium, e é encontrada nos mais indignos como nos mais dignos. Não ocorre o mesmo com a preferência dada ao médium pelos bons Espíritos.” (O que é o Espiritismo, Cap. II, item 79)

iii.Para que serve a mediunidade?

Devem lembrar-se de que ela lhes foi dada para o bem e não para satisfação de vã curiosidade.” (LM, item 217)

Com que fim a Providência outorgou de maneira especial, a certos indivíduos, o dom da mediunidade?”

É uma missão de que se incumbiram e cujo desempenho os faz ditosos. São os intérpretes dos Espíritos com os homens.” (LM, item 220, item 12ª)

A faculdade lhes é concedida, porque precisam dela para se melhorarem, para ficarem em condições de receber bons ensinamentos.” (LM, item 220, item 14ª)


iv.O médium pode fazer da sua mediunidade uma profissão?

Restituí a saúde aos doentes, ressuscitai os mortos, curai os leprosos, expulsai os demônios. Dai gratuitamente o que gratuitamente haveis recebido. (S. Mateus, 10:8.)

Dai gratuitamente o que gratuitamente haveis recebido”, diz Jesus a seus discípulos. Com essa recomendação, prescreve que ninguém se faça pagar daquilo por que nada pagou.(Evang.Seg.Espiritismo, Cap. XXVI, itens 1 e 2)


v. Com qual idade começa a mediunidade?

Ela se manifesta nas crianças e nos velhos, em homens e mulheres, quaisquer que sejam o temperamento, o estado de saúde, o grau de desenvolvimento intelectual e moral.” (LM, item 200)

Quando numa criança a faculdade se mostra espontânea, é que está na sua natureza e que a sua constituição se presta a isso.” (LM, Cap. XVIII, item 221, 7ª).


vi. O que deve fazer o jovem que tem mediunidade?

O adolescente deve enfrentar os desafios de natureza parapsicológica e mediúnica com a mesma naturalidade com que atende as demais ocorrências do período de transição, trabalhando-se interiormente para crescer moral e espiritualmente, tornando a vida mais digna de ser vivida e com um significado mais profundo, que é o da eternidade do ser.” (Joanna de Ângelis, Adolescência e Vida, Cap. 20).

Dissemos que o Espiritismo é toda uma ciência, toda uma filosofia. Quem, pois, seriamente queira conhecê-lo deve, como primeira condição, dispor-se a um estudo sério e persuadir-se de que ele não pode, como nenhuma outra ciência, ser aprendido a brincar.” (LM, 1ª parte, Cap. III (Do Método), item 18).

Ainda outra vantagem apresenta o estudo prévio da teoria — a de mostrar imediatamente a grandeza do objetivo e o alcance desta ciência. (...) Temos notado sempre que os que creem, antes de haver visto, apenas porque leram e compreenderam, longe de se conservarem superficiais, são, ao contrário, os que mais refletem. Dando maior atenção ao fundo do que à forma, veem na parte filosófica o principal, considerando como acessórios os fenômenos propriamente ditos. (LM, 1ª parte, Cap. III (Do Método), item 32).

35. Aos que quiserem adquirir essas noções preliminares, pela leitura das nossas obras, aconselhamos que as leiam nesta ordem: 1.º. O que é o Espiritismo?; 2.º. O Livro dos Espíritos; 3.º. O Livro dos Médiuns; 4º. A Revue spirite. (LM, 1ª parte, Cap. III (Do Método), item 35).

vii. Em qual idade o médium deve começar a desenvolver sua mediunidade?

Não há idade precisa, tudo dependendo inteiramente do desenvolvimento físico e, ainda mais, do desenvolvimento moral. Há crianças de doze anos a quem tal coisa afetará menos do que a algumas pessoas já feitas.” (LM, Cap. XVIII, item 221, 8ª).

A prática do Espiritismo, como veremos mais adiante, demanda muito tato, para a inutilização das tramas dos Espíritos enganadores. Se estes iludem a homens feitos, claro é que a infância e a juventude mais expostas se acham a ser vítimas deles. Sabe-se, além disso, que o recolhimento é uma condição sem a qual não se pode lidar com Espíritos sérios.” (LM, Cap. XVIII, item 222).

  1. Prece final e passes

Avaliação:

Encontro com 12 jovens, sendo 2 no virtual. Não chegamos a ver as perguntas de OLE. Ficamos somente com as reflexões com relação às vidas de Yvonne e Otávio.

Anexos

Subsídios teóricos:

Devem lembrar-se de que ela lhes foi dada para o bem e não para satisfação de vã curiosidade. Convém, portanto, que só se utilizem dela nas ocasiões oportunas e não a todo momento. Não lhes estando os Espíritos ao dispor a toda hora, correm o risco de ser enganados por mistificadores. Bom é que, para evitarem esse mal, adotem o sistema de só trabalhar em dias e horas determinados, porque assim se entregarão ao trabalho em condições de maior recolhimento e os Espíritos que os queiram auxiliar, estando prevenidos, se disporão melhor a prestar esse auxílio.” (LM, item 217)

14ª Se é uma missão, como se explica que não constitua privilégio dos homens de bem e que semelhante faculdade seja concedida a pessoas que nenhuma estima merecem e que dela podem abusar?

A faculdade lhes é concedida, porque precisam dela para se melhorarem, para ficarem em condições de receber bons ensinamentos. Se não aproveitam da concessão, sofrerão as conseqüências. Jesus não pregava de preferência aos pecadores, dizendo ser preciso dar àquele que não tem?” (LM, item 220)

Adolescência e Vida, Joanna de Ângelis/Divaldo Franco, Cap. 20

O Adolescente e os Fenômenos Psíquicos

No período da adolescência, porém, em pleno desabrochar das forças sexuais, a mediunidade se apresenta pujante, necessitando de educação conveniente e diretriz adequada para ser controlada e produtiva.

No momento em que a glândula pineal libera os fatores sexuais complementares, e as demais do sistema endocrínico contribuem para o desenvolvimento da libido, a primeira, que era veladora da função genésica, transforma-se num fulcro de energia portador de possibilidades de captação parapsíquica, que dá lugar a uma variada gama de manifestações.

Os conflitos comportamentais do adolescente, naturais, nesse período, abrem espaço para um mais amplo intercâmbio com os Espíritos, que se comprazem em afligir e em perturbar, considerando a ignorância da realidade em que se demoram.

Tratando-se de ser humano em progresso com um passado a reparar, o adolescente é convidado ao testemunho evolutivo, por cujo meio se retempera no exercício do bem e das disciplinas morais, fortalecendo-se para desempenhos futuros de alto coturno.”

(...)

O adolescente deve enfrentar os desafios de natureza parapsicológica e mediúnica com a mesma naturalidade com que atende as demais ocorrências do período de transição, trabalhando-se interiormente para crescer moral e espiritualmente, tornando a vida mais digna de ser vivida e com um significado mais profundo, que é o da eternidade do ser.”

Os Mensageiros, André Luiz/Chico Xavier, Cap VII - A queda de Otávio

(André Luiz, conversa com Otávio, no Centro de Mensageiros, em Nosso Lar)


Em breves momentos, não me achava tão só à frente das irmãs Isaura e Isabel, mas do próprio Otávio, um pálido senhor que aparentava quarenta anos.

Também sou principiante aqui — expliquei — e minha condição é a do médico falido nos deveres que o Senhor lhe confiou.

Otávio sorriu e respondeu:

Possivelmente, o meu amigo terá a seu favor o fato de haver ignorado as verdades eternas, no mundo. O mesmo não ocorre comigo, ademais; não desconhecia o roteiro certo, que o Pai me designava para as lutas na Terra. Não possuía títulos oficializados de competência entretanto, dispunha de considerável cultura evangélica, coisa que, para a vida eterna, é de maior importância que a cultura intelectual, simplesmente considerada. Tive amigos generosos do plano superior, que se faziam visíveis aos meus olhos, recebi mensagens repletas de amor e sabedoria e, no entanto, caí mesmo assim, obedecendo à imprudência e à vaidade. (...)


Ignorava a extensão das responsabilidades mediúnicas — respondi.

As tarefas espirituais — tornou o interlocutor, algo acabrunhado — ocupam-se de interesses eternos e da grande enormidade de minha falta. Os mordomos de bens da alma estão investidos de responsabilidades pesadíssimas. Os estudiosos, os crentes, os simpatizantes no campo da fé, podem alegar ignorância e inibição; todavia, os sacerdotes não têm desculpa.

É o mesmo que se verifica na tarefa mediúnica. Os aprendizes ou beneficiários, nos templos da Revelação nova, podem referir-se a determinados impedimentos; mas o missionário é obrigado a caminhar com um patrimônio de certezas tais, que coisa alguma o exonera das culpas adquiridas.

Depois de contrair dívidas enormes na esfera carnal, noutro tempo, vim bater às portas de “Nosso Lar”, sendo atendido por irmãos dedicados, que se revelaram incansáveis para comigo. Preparei-me, então, durante trinta anos consecutivos, para voltar a Terra em tarefa mediúnica, desejoso de saldar minhas contas e elevar-me alguma coisa. Não faltaram lições verdadeiramente sublimes, nem estímulos santos ao meu coração imperfeito. O Ministério da Comunicação favoreceu-me com todas as facilidades e, sobretudo, seis entidades amigas movimentaram os maiores recursos em benefício do meu êxito. Técnicos do Auxílio acompanharam-me a Terra, nas vésperas do meu renascimento, entregando-me um corpo físico rigorosamente sadio. Segundo a magnanimidade dos meus benfeitores daqui, ser-me-ia concedido certo trabalho de relevo, na esfera de consolação às criaturas. Permaneceria junto das falanges de colaboradores encarregados do Brasil, animando-lhes os esforços e atendendo a irmãos outros, ignorantes, perturbados ou infelizes. O matrimônio não deveria entrar na linha de minhas cogitações, não que o casamento possa colidir com o exercício da mediunidade, mas porque meu caso particular assim o exigia. Nada obstante, solteiro, deveria receber, aos vinte anos, os seis amigos que muito trabalharam por mim, em “Nosso Lar”, os quais chegariam ao meu círculo como órfãos. Meu débito para com essas entidades tornou-se muito grande e a providência não só constituiria agradável resgate para mim, como também garantia de triunfo pelo serviço de assistência a elas, o que me preservaria o coração de leviandades e vacilações, porquanto, o ganha-pão laborioso me compeliria a não aceder a sugestões inferiores nos domínios do sexo e das ambições incontidas. Ficou também assentado que minhas atividades novas começariam com muitos sacrifícios, para que o possível carinho de outrem não amolecesse a minha fibra de realização, e para que se não escravizasse, minha tarefa a situações caprichosas do mundo, distantes dos desígnios de Jesus, e, sobretudo, para que fosse mantida a minha impessoalidade do serviço. Mais tarde, então, com o correr dos anos de edificação, me enviariam de “Nosso Lar” socorros materiais, cada vez maiores, à medida que fosse testemunhando renúncia de mim mesmo, desprendimento das posses efêmeras, desinteresse pela remuneração dos sentidos, de maneira a intensificar, progressivamente a semeadura de amor confiada às minhas mãos.

Tudo combinado, voltei, não só prometendo fidelidade aos meus instrutores, como também hipotecando a certeza do meu devotamento as seis entidades amigas, a quem muito devo até agora.


Otávio, nesse momento, fez uma pausa mais longa, suspirou fundamente, e prosseguiu:

Mas, ai de mim, que olvidei todos os compromissos! Os benfeitores de “Nosso Lar” localizaram-me ao lado de verdadeira serva de Jesus. Minha mãe era espiritista cristã desde moça, não obstante as tendências morais de meu pai, que era, todavia um homem de bem. Aos treze anos fiquei órfão de mãe e, aos quinze, vieram para mim os primeiros chamados da esfera Superior. Por essa ocasião, meu pai contraiu segundas núpcias, e, apesar da bondade e operação que a madrasta me oferecia, eu me colocava num plano de falsa superioridade a respeito dela. Então, minha genitora endereçou do invisível, apelos sagrados ao meu coração. Eu vivia revoltado, entre queixas e lamentações descabíveis. Meus parentes conduziram-me a um grupo espírita de excelente orientação evangélica onde minhas faculdades poderiam ser postas a serviço dos necessitados e sofredores; entretanto, faltava-me qualidades de trabalhador e companheiro fiel. Minha negação em matéria de confiança nos orientadores espirituais e acentuado pendor para a crítica dos atos alheios compeliam-me a desagradável estacionamento. Os beneméritos amigos do invisível estimulavam ao serviço, mas eu duvidava deles com a minha vaidade doente. Como prosseguissem os apelos sagrados, por mim interpretados como alucinações, procurei um médico que me aconselhou experiências sexuais. Completara, então, dezenove anos e entreguei-me

desenfreadamente ao abuso de faculdades sublimes. Desejava conciliar, a força, o prazer delituoso e o dever espiritual, alheando-me, cada vez mais, dos ensinos evangélicos que os amigos da esfera superior nos ministravam. Tinha pouco mais de vinte anos, quando meu pai foi arrebatado pela morte. Com a triste ocorrência, ficavam na orfandade seis crianças desfavorecidas, porquanto minha madrasta, ao se consorciar com meu genitor, lhe trouxera para a tutela três pequeninos. Em vão implorou-me socorro a pobre viúva. Nunca me dignei aceitar os encargos redentores que me estavam destinados. Após dois anos de segunda viuvez, minha desventurada madrasta foi recolhida a um leprosário.

Afastei-me, então, dos pequenos órfãos, tomado de horror. Abandonei-os definitivamente, sem refletir que lançava meus credores generosos, de “Nosso Lar”, a destino incerto. Em seguida, dando largas a ociosidade, com uma ação menos digna e fui obrigado a casar-me pela violência. Mesmo assim, porém, persistiam os chamados do invisível, revelando-me a inesgotável misericórdia do Altíssimo. Contudo, à medida que olvidava meus deveres, toda tentativa de realização espiritual figurava-se-me mais difícil. E continuou a tragédia que inventei para meu próprio tormento. A esposa a que me ligara, tão somente por apetites inconfessáveis, era criatura muito inferior à minha condição espiritual e atraiu uma entidade monstruosa, em ligação com ela, para tomar o papel de meu filho. Releguei à rua seis carinhosas crianças, cuja convivência concorreria decisivamente para minha segurança moral, mas a companheira e o filho, ao que me pareceu, incumbiram-se da vingança. Atormentaram-me ambos, até ao fim da existência, quando para aqui regressei. Mal tendo completado quarenta anos, roído pela sífilis, pelo álcool e pelos desgostos… sem nada haver feito para meu futuro eterno... Sem construir coisa alguma no terreno do bem...

Enxugou os olhos úmidos e concluiu:

Como vê, realizei todos os meus condenáveis desejos, menos os desejos de Deus. Foi por isso que fali, agravando antigos débitos.


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