segunda-feira, 5 de agosto de 2019

As aparências enganam


Casa Espírita Missionários da Luz – Pré e Mocidade > 13 anos – 02/08/2019

Tema: As aparências enganam

Objetivos:
Refletir sobre os diversos papéis que executamos na vida, relacionando-as com as personas da psicologia analítica;
Identificar o perigo da identificação do Ser com a persona;
Perceber a constante influência dos Espíritos em nosso proceder no cotidiano.

Bibliografia:
O Livro dos Espíritos, Perguntas 459 à 461; 919 (Conhece-te a ti mesmo);
O Ser Consciente, Joanna de Ângelis/Divaldo Franco, Cap 2 – Ser e Pessoa (item ‘A Pessoa’, subitem ‘A Personalidade’; item ‘A Individualidade’);
O Homem Integral, Joanna de Ângelis/Divaldo Franco, Cap. 3 ‘A Busca da Realidade’, item ‘Religião e religiosidade’;
Refletindo a Alma, Cap. 6, item ‘Persona’, artigo de Iris Sinoti, Pág 143;

Material: pranchetas, lápis ou canetas e folhas pautadas: um para cada jovem; borrachas, apontadores; cartaz com as perguntas escritas, vídeo da poesia ou texto da poesia.

Desenvolvimento:
1.      Hora da novidade, exercícios de respiração profunda e prece inicial.

2.      Motivação Inicial:
Passar o vídeo com a poesia Se Eu Fosse Eu | Clarice Lispector, por Débora Wainstock: (2min49 seg)

O que acharam dessa poesia? Interessante, né? Essa é uma busca de todos nós, saber quem realmente somos. Perceber que tem coisas que ainda são perturbadoras, e outras simplesmente, sublimes!

E no LE, temos:
Perg. 919. Qual o meio prático mais eficaz que tem o homem de se melhorar nesta vida e de resistir à atração do mal?  “Um sábio da antiguidade vo-lo disse: Conhece-te a ti mesmo.”
ð  Para melhorar na vida, para resistir ao mal, precisamos nos conhecer!!! Conseguir perceber o que fazemos de forma inconsciente para termos controle sobre nós mesmos!

3.      Exercício
Propor um exercício de autoconhecimento que deve ser feito individualmente e em silêncio.
Dar a cada jovem prancheta com folha pautada e caneta, e pedir que respondam as 5 perguntas do cartaz.  Colar o cartaz no quadro. (dar 20 min para a tarefa).
Não se preocupem que as respostam são de vocês. Não precisarão compartilhar, nem será recolhida.

1)    O que se espera de alguém na sua ordem de nascimento?
2)    O que se espera de alguém do seu sexo?
3)    O que você acha que seus pais esperam de você? 
4)    O que você acredita que é aprovado e desaprovado por seus pais?
5)    Você se identifica com algum grupo social atualmente?

Depois de terminarem, perguntar se foi difícil responder às perguntas.
- é importante ter essas reflexões, para que aos poucos, possamos ir identificando quem nós realmente somos, percebendo se agimos como ‘se eu fosse eu mesmo’ ou se exerço inconscientemente o desejo de outras pessoas a meu respeito.

Ex.: Uma pessoa que é a caçula, de uma família de 4 meninas, um menino e logo depois veio ela. A expectativa e a alegria pela vinda do menino depois de 4 meninas, foram tão grandes que não sobrou espaço para ela na família. Então, ela passou a vida assumindo todas as posições de destaque ‘para ser percebida’, pois inconscientemente ela se sentia invisível na família! Não quer dizer que fosse! Era como ela se sentia mesmo sem se dar conta.
Estava sempre cheia de responsabilidades, super atribulada pois assumia todos os papéis de relevância (na ótica dela): líder da turma, síndica, organizadora dos eventos da família e do trabalho, etc.
E era tudo inconscientemente. Quando ela percebeu esse movimento que fazia, foi como se tirasse um peso das costas. Percebeu que ela não precisava fazer tudo.

Outro exemplo: ser dentista numa família em que diversas gerações foram de dentistas, etc.

A questão do grupo social é importante, pois podemos estar assumindo, sem perceber, os comportamentos do grupo. É importante sermos aceitos nos grupos, mas precisamos estar despertos para diferenciar EU mesmo do Eu no grupo!

4.      Teorização sobre conceito de Persona
 Na psicologia existe o conceito de Persona, que representa os diversos papéis que representamos durante a vida: filho, irmão, amigo, primo, neto, aluno, namorado, e outros tantos que passamos a ter qdo entramos na vida adulta: mãe, pai, cônjuge, profissional, patrão, empregado, etc.

“A persona refere-se ao que é esperado socialmente de uma pessoa e como ela acredita que deve parecer. É como um acordo entre o indivíduo e a sociedade.”
(Refletindo a Alma, Cap. 6, item ‘Persona’, artigo de Iris Sinoti, Pág 143)

- todos precisamos de personas, para sermos adequados ao ambiente nos quais estamos inseridos. Só existe problema (neurose) quando achamos que somos a persona.

- Vamos fazer um exercício sobre nossa persona? Sobre os papéis que exercemos?

Pedir que escrevam no verso, ou dar nova folha, para que relacionem quais papéis sociais cada um vivencia hoje, respondendo para cada papel identificado: - O  que é esperado para cada um deles?  - Como você age?  (10 min)

Após terem concluído, reforçar :
- O melhor da persona é poder saber quem se é por trás dela.
- E encontrar um lugar no mundo para esta pessoa...

5.      Fixação de conteúdo 

A Perg 459 de O LE:
Influem os Espíritos em nossos pensamentos e em nossos atos?
“Muito mais do que imaginais. Influem a tal ponto, que, de ordinário, são eles que vos dirigem.”
ð  Como os Espíritos estão sempre nos influenciando, para que possamos perceber se o pensamento é nosso ou vem dessa influência, precisamos saber quem somos!



6.      Exercícios de respiração profunda e prece final.

Avaliação:
Aula para 9 jovens com participação e interesse, principalmente das meninas. Dois meninos não ficaram introspectivos nas atividades.
O texto inicial, eu li ao invés de passar o vídeo. Fiz uma primeira leitura e depois reli aos poucos, comentando as reflexões do texto.

ANEXOS

Personalidade (O Ser Consciente, Cap 2, item ‘A Personalidade’)
“Em permanente representação dos conteúdos mentais, e dominada pela imposição das leis e costumes de cada época e cultura, a personalidade representa a aparência para ser conhecida, não raro, em distonia com o eu profundo e real, gerador de conflitos. ”
“A personalidade é transitória e assinala etapas reencarnacionistas, definidoras de experiências  nos sexos, na cultura, na inteligência, na arte e no relacionamento interpessoal. ”

Personalidade é um conceito em oposição à INDIVIDUALIDADE, que é “o somatório de todas as experiências, o ser pleno e potente, que alcançou a autorrealização”.
“Imperecível, a individualidade é o espírito em si mesmo, que reúne as demais dimensões e sabe conscientemente o que fazer, quando fazê-lo e como realizá-lo, para ser a pessoa integral, ideal.” (Joanna de Ângelis – O Ser Consciente, Cap 2, item ‘A Individualidade’,  )


Persona
“No caleidoscópio do comportamento humano há, quase sempre, uma grande preocupação por mais parecer do que ser, dando origem aos homens-espelhos, aqueles que, não tendo identidade própria, refletem os modismos, as imposições, as opiniões alheias. Eles se tornam o que agrada às pessoas com quem convivem, o ambiente que no seu comportamento neurótico se instala.” (Joanna de Ângelis, O Homem Integral, Cap. 3 ‘A Busca da Realidade’, item ‘Religião e religiosidade’)

“O ego não escolhe deliberadamente identificar-se com uma determinada persona.
As pessoas encontram-se em ambientes onde têm de sobreviver e a maioria esforça-se ao máximo por seguir adiante.
A ordem de nascimento é um fator importante, assim como o sexo.”
(Stein - O Mapa da Alma, Cap. 5, item “O Desenvolvimento da Persona”, p. 108)

“Adaptamo-nos ao que percebemos que as outras pessoas são e ao que querem.
 Isso pode ser consideravelmente diferente de como as outras nos veem ou se veem a si mesmas. (...)
É por isso que os primeiros tempos da infância exercem um tão profundo efeito em personas adultas. ”    (Stein - O Mapa da Alma, Cap. 5, item ”O Desenvolvimento da Persona”, p. 110)



Se Eu Fosse Eu, de Clarice Lispector

Quando eu não sei onde guardei um papel importante e a procura revela-se inútil, pergunto-me: se eu fosse eu e tivesse um papel importante para guardar, que lugar escolheria? Às vezes dá certo. Mas muitas vezes fico tão pressionada pela frase "se eu fosse eu", que a procura do papel se torna secundária, e começo a pensar, diria melhor SENTIR.

E não me sinto bem. Experimente: se você fosse você, como seria e o que faria? Logo de início se sente um constrangimento: a mentira em que nos acomodamos acabou de ser movida do lugar onde se acomodara. No entanto já li biografias de pessoas que de repente passavam a ser elas mesmas e mudavam inteiramente de vida.

Acho que se eu fosse realmente eu, os amigos não me cumprimentariam na rua, porque até minha fisionomia teria mudado. Como? Não sei.

Metade das coisas que eu faria se eu fosse eu, não posso contar. Acho por exemplo, que por um certo motivo eu terminaria presa na cadeia. E se eu fosse eu daria tudo que é meu e confiaria o futuro ao futuro.

"Se eu fosse eu" parece representar o nosso maior perigo de viver, parece a entrada nova no desconhecido.

No entanto tenho a intuição de que, passadas as primeiras chamadas loucuras da festa que seria, teríamos enfim a experiência do mundo. Bem sei, experimentaríamos enfim em pleno a dor do mundo. E a nossa dor aquela que aprendemos a não sentir. Mas também seríamos por vezes tomados de um êxtase de alegria pura e legítima que mal posso adivinhar. Não, acho que já estou de algum modo adivinhando, porque me senti sorrindo e também senti uma espécie de pudor que se tem diante do que é grande demais.


Clarice Lispector, nascida Chaya Pinkhasovna Lispector (em russo: Хая Пинхасовна Лиспектор; Chechelnyk, 10 de dezembro de 1920 — Rio de Janeiro, 9 de dezembro de 1977), foi uma escritora e jornalista ucraniana naturalizada brasileira. Autora de romances, contos e ensaios, é considerada uma das escritoras brasileiras mais importantes do século XX e a maior escritora judia desde Franz Kafka. Sua obra está repleta de cenas cotidianas simples e tramas psicológicas.

Nasceu em uma família judaica russa que perdeu suas rendas com a Guerra Civil Russa e se viu obrigada a emigrar em decorrência da perseguição a judeus, à época, a qual resultou em diversos extermínios em massa. A futura escritora chegou ao Brasil, ainda pequena, em 1922, com seus pais e duas irmãs. Clarice dizia não ter nenhuma ligação com a Ucrânia - "Naquela terra eu literalmente nunca pisei: fui carregada de colo" - e que sua verdadeira pátria era o Brasil. Inicialmente, a família passou um breve período em Maceió, até se mudar para o Recife, onde Clarice cresceu e onde, aos oito anos, perdeu a mãe. Aos quatorze anos de idade transferiu-se com o pai e as irmãs para o Rio de Janeiro, local em que a família se estabilizou e onde o seu pai viria a falecer, em 1940.

Estudou direito na Universidade Federal do Rio de Janeiro, conhecida como Universidade do Brasil, apesar de, na época, ter demonstrado mais interesse pelo meio literário, no qual ingressou precocemente como tradutora, logo se consagrando como escritora, jornalista, contista e ensaísta, tornando-se uma das figuras mais influentes da literatura brasileira e do modernismo e sendo considerada uma das principais influências da nova geração de escritores brasileiros.
Suas principais obras marcam cada período de sua carreira. Perto do Coração Selvagem foi seu livro de estreia, publicado quando Clarice tinha 24 anos de idade. Faleceu em 1977, um dia antes de completar 57 anos, em decorrência de um câncer de ovário. Deixou dois filhos e uma vasta obra literária composta de romances, novelas, contos, crônicas, literatura infantil e entrevistas.
(https://pt.wikipedia.org/wiki/Clarice_Lispector)

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