segunda-feira, 29 de setembro de 2025

Múltiplas Personalidades x Possessão x Sonambulismo

 Casa Espírita Missionários da Luz – Mocidade > 14 anos - 26/09/2025

Tema: Múltiplas Personalidades x Possessão x Sonambulismo

Objetivos:

- Estudar o transtorno de identidade analisando-o frente ao conceitos espíritas;

- Identificar as características da possessão e do estado de sonambulismo.

Bibliografia:

- O Livro dos Médiuns – Cap. IX, item 132, perg. 13ª, Cap. XIV, item 172 ‘Médiuns sonambúlicos’; Cap XIX 'Do papel dos médiuns nas comunicações espíritas', item 223 perg 2ª; Cap. XXIII, Da Obsessão, item 252;

- A Gênese, Cap. XIV, item II 'Obsessões e Possessões', nr 48;

- O Livro dos Espíritos – perg 425 ‘Sonambulismo’; 459; 473 e 474 (Possessos);

RE Dez/1863 ‘Um caso de possessão - Senhorita Júlia’;

RE Out/1867, 'Dissertações Espíritas', 'Os adeuses';

- Condomínio Espiritual, Hemínio C Miranda;

- Nos Domínios da Mediunidade, André Luiz/Chico Xavier, Cap. 22 ‘Emersão no Passado’.

https://br.psicologia-online.com/transtorno-dissociativo-de-identidade-o-que-e-sintomas-e-como-tratar-2092.html – de Jan/2025, acessado em 24/09/2025.

Material: - levar o livro Condomínio Espiritual.

Roteiro do encontro:

1. Hora da novidade, exercícios de respiração lenta e profunda, e prece inicial.

2. Motivação Inicial:

Relatar o caso da RE, Dez/1863 ‘Um caso de possessão - Senhorita Júlia’, da “Sra. A..” a sonâmbula (texto de Kardec):

Dissemos que não havia possessos no sentido vulgar do vocábulo, mas subjugados. Mudamos de opinião sobre essa afirmativa absoluta, porque agora nos é demonstrado que pode haver verdadeira possessão, isto é, substituição, posto que parcial, de um Espírito encarnado por um Espírito errante.

Eis um primeiro fato que o prova, e que apresenta o fenômeno em toda a sua simplicidade.

Várias pessoas se achavam um dia na casa de uma senhora que é médium sonâmbula. De repente ela toma atitudes absolutamente masculinas. Sua voz muda e, dirigindo-se a um dos assistentes, ela exclama: “Ah! meu caro amigo, como estou contente de te ver!” Surpresos, perguntam o que isto significa. A senhora continua: “Como, meu caro? Não me reconheces? Ah! É verdade. Estou coberto de lama! Sou Charles Z...” A este nome, os assistentes se lembraram de um senhor, falecido meses antes, vítima de uma apoplexia, à beira de uma estrada. Ele tinha caído num fosso, de onde o haviam retirado coberto de lama.

Ele declara que, querendo conversar com seu velho amigo, aproveitava o momento em que o Espírito da Sra. A..., a sonâmbula, estava afastado do corpo, para tomar-lhe o lugar. Com efeito, tendo-se renovado a cena vários dias seguidos, a Sra. A... tomava todas as vezes as atitudes e maneiras habituais do Sr. Charles, espreguiçando-se no encosto da cadeira, cruzando as pernas, torcendo o bigode, passando os dedos pelos cabelos, de tal sorte que, não fosse pelas roupas, poder-se-ia crer estar em presença do Sr. Charles. Contudo, não havia transfiguração, como vimos noutras circunstâncias. Eis algumas de suas respostas.

Já que tomastes posse do corpo da Sra. A... poderíeis nele ficar?

Não, mas vontade não me falta. ─ Por que não podeis?

Porque seu Espírito está sempre ligado ao seu corpo. Ah! Se eu pudesse romper esse laço eu lhe pregaria uma peça.

O que faz, neste momento, o Espírito da Sra. A...?

Está aqui ao lado, olha-me e ri, vendo-me em suas vestes.

Estas conversas eram muito divertidas. O Sr. Charles tinha sido um boêmio e não desmentia o seu caráter. Dado à vida material, era pouco adiantado como Espírito, mas naturalmente bom e benevolente. Apoderando-se do corpo da Sra. A..., ele não tinha qualquer má intenção, de sorte que aquela senhora nada sofria com a situação, a que se prestava de boa vontade. É bom que se diga que ela não havia conhecido esse senhor, e não podia saber de suas maneiras. É ainda importante notar que os assistentes nele não pensavam, portanto, a cena não foi provocada, e ele veio espontaneamente.

Quais pontos da DE vimos aqui nesse exemplo citado por Kardec na RE?

a) Um caso de possessão por um Espírito amigo, cujo corpo foi cedido gentilmente pela médium sonambúlica.

- Quem lembra qual a definição de médium sonambúlico?

==> LE, perg. 425:

O sonambulismo natural tem alguma relação com os sonhos? Como explicá-lo? “É um estado de independência da alma mais completo do que o do sonho. (...)

Quando se produzem os fatos do sonambulismo, é que o Espírito, preocupado com uma coisa ou outra, se aplica a uma ação qualquer, para cuja prática necessita de utilizar-se do corpo. Serve-se então deste, como se serve de uma mesa ou de outro objeto material. (…) os sonâmbulos nenhuma lembrança guardam do que se passou enquanto estiveram no estado sonambulismo.

LM, item 172: Mas, o Espírito que se comunica com um médium comum também o pode fazer com um sonâmbulo; dá-se mesmo que, muitas vezes, o estado de emancipação da alma facilita essa comunicação.

b) O que vem a ser possessão? Um Espírito desencarnado pode se apoderar do corpo de um encarnado?

LE, perg. 473: Um Espírito não pode substituir-se ao que está encarnado.

LE, perg. 474Desde que não há possessão propriamente dita, isto é, coabitação de dois Espíritos no mesmo corpo, pode a alma ficar na dependência de outro Espírito, de modo a se achar subjugada ou obsidiada ao ponto de a sua vontade vir a achar-se, de certa maneira, paralisada?

Sem dúvida, e são esses os verdadeiros possessos. Mas é preciso saibas que essa dominação não se efetua nunca sem que aquele que a sofre o consinta, quer por sua fraqueza, quer por desejá-la.”

==> Resumo: Um Espírito desencarnado pode “tomar” o corpo de um encarnado e agir com o corpo como se fosse ele o encarnado. Porém, o encarnado, desdobrado, “permite” essa ação por fraqueza moral ou por vontade própria, se for um Espírito bom ou amigo.

3.Desenvolvimento

Hoje nosso tema é o transtorno dissociativo de identidade (TDI).

==> alguém sabe o que é?

==> a psiquiatria e psicologia entendem como:

O Transtorno Dissociativo de Identidade (TDI) acontece quando uma pessoa tem duas ou mais identidades ou "partes" que se manifestam em momentos diferentes. Essas partes podem ter comportamentos, memórias e até vozes distintas. Geralmente, o TDI está ligado a experiências traumáticas na infância, quando a mente da pessoa tenta se proteger de algo muito doloroso.” (site citado na bibliografia)

a) Condomínio Espiritual (possessão)

Tem casos graves em que a pessoa tem muitas personalidades, que se apresentam, em diversas épocas da vida do encarnado, às vezes até atuando por anos. Hermínio Miranda estuda alguns casos em seu livro Condomínio Espiritual, de 1993. Ele cita alguns casos em que uma das personalidades é criminosa e a pessoa vai parar na prisão; tem casos de personalidades de sexo diferente da pessoa, de idioma diferente. Todos os casos são retirados de livros escritos pelos médicos/psicólogos que trataram a pessoa, às vezes até livros escritos pela própria pessoa.

Alguns casos, depois de anos de tratamento, pessoa ficou curada.

Casos intrigantes para os psiquiatras e/ou psicólogos.

Nesse livro, Hermínio relata, entre outros, os casos:

Sybil – 16 personalidades (Livro de 1973. Foram 2.354 sessões de psicoterapia, durante 11 anos. Eram 14 personalidades femininas e 2 masculinas);

Henry Hawksworth - 5 personalidades (Livro The Five of Me. Aos 3 anos teve um desmaio e só retornou 40 anos depois. Levado aos tribunais pois uma das personalidades que atuou nesse período cometeu crimes);

Eve - 22 personalidades (1958, EUA, virou filme: As 3 Faces de Eva);

Billy Milligan - 24 personalidades (Livro The Minds os Billy Milligan. Tb teve caso policial. Entre as personalidades há crianças e adultos, homens e mulheres, bandidos, talentosos artistas plásticos, de diferentes níveis de inteligência e cultura);

Felida - 3 personalidades (médico publicou livro em 1887, após 29 anos tratando a Felida);

Louis V. - 4 personalidades (de 1885, na França).

Na conclusão do livro, Hermínio aborda a hipótese do condomínio espiritual, ou seja, diversos Espíritos desencarnados, cada qual com suas características, histórias, conhecimentos, que se apoderam o corpo do encarnado em diversas fases da vida dele. Seria um caso de possessão exatamente, como no caso citado por Kardec na RE que vimos no início desse nosso estudo, porém, sem a autorização consciente da pessoa.

Como vimos na perg. 474 do LE, a alma pode ficar na dependência de outro Espírito, de modo a se achar subjugada ou obsidiada ao ponto de a sua vontade vir a achar-se, de certa maneira, paralisada, e são esses os verdadeiros possessos.

Nos casos relatados por Hermínio, sempre havia uma espécie de “síndico” desse condomínio de Espíritos desencarnados, que sabia da existência dos outros “moradores”, e meio que era o mais centrado, coerente, dentre as diversas personalidades atuantes.

Infelizmente, a ciência ainda não admite a existência do Espírito, para tratar não só o doente, mas todas as personalidades (os Espíritos desencarnados) que se apresentam.

- Vamos ver um caso que Kardec acompanhou ele mesmo, do tratamento espiritual de um caso de possessão: RE Dez/1863 ‘Um caso de possessão - Senhorita Júlia

==> relatar o caso copiado no anexo desse roteiro.

b) Emersão do Passado (subpersonalidades)

André Luiz, no livro Nos Domínios da Mediunidade, pela psicografia de Chico Xavier, relata um caso de uma personalidade de encarnação anterior, que emerge do inconsciente e fala através da pessoa, como se fosse uma comunicação mediúnica. São traumas, dores do passado com tanta energia psíquica, que rompem o esquecimento da atual encarnação e se comunica através dela mesma. E o gatilho para essa ocorrência é a aproximação de um Espírito ligado a ela da mesma época em que se deu o conflito.

Vemos essa situação tratada por Kardec no LM, Cap XIX 'Do papel dos médiuns nas comunicações espíritas', item 223 perg 2ª.

4. Conclusão

Então, sob a ótica espírita, podemos pensar em mais de uma causa para esse transtorno:

- possessão por diversos espíritos;

- subpersonalidade que emerge do inconsciente.

==> nos dois casos, a necessidade do tratamento espiritual e também tratamento médico, dependendo da gravidade do transtorno.

E como diz a DE, a cura dos males morais é a moralização de cada um de nós, recebendo assim, a assistência dos Bons Espíritos e por consequência, afastando os maus, como vemos no LE e no LM:

Na perg 459 do LE, vemos que os Espíritos nos influenciam e frequentemente, nos dirigem. E no LM, temos a orientação que para afastar os maus Espíritos, é preciso nos aproximarmos dos Bons Espíritos. E pra isso, é preciso nossa reforma íntima, nossa moral, nosso esforço em controlar nossas más tendências.

O Livro dos Médiuns, Cap. IX, item 132, perg. 13ª

Haverá meios de os expulsar?

Há; porém, as mais das vezes o que fazem, para isso, os atrai, em vez de os afastar. O melhor meio de expulsar os maus Espíritos consiste em atrair os bons. Atraí, pois, os bons Espíritos, praticando todo o bem que puderdes, e os maus desaparecerão, visto que o bem e o mal são incompatíveis. Sede sempre bons e somente bons Espíritos tereis junto de vós.”

5. Comentários do Cap. 22 do livro Céu Azul.

6. Exercício de respiração profunda e pausada, prece final e passes coletivos.

7. Avaliação

Encontro com 10 jovens. Foi bom o encontro. Participaram, perguntaram, um jovem até percebeu que tb poderia uma personalidade da própria pessoa, de vidas anteriores. Abordei todos os pontos previstos, exceto o caso da Senhorita Julia, pois não deu tempo.

Interessante que dois deles se interessaram pelo processo de hipnose, como funciona. Lucas disse sempre achou que isso era fantasia, não tinha ideia que a hipnose era real.

Um jovem disse já tinha sido hipnotizado e contou como foi.

Perguntaram também, é claro, pq um Espírito pode fazer a possessão do corpo de outra pessoa. Reforcei a perg 474 onde os Espíritos responderam que a pessoa "sempre" permite, ou seja, dependência moral. Permissão consciente ou inconsciente.

Um jovem lembrou que tinha visto o filme Fragmentado (nome em inglês é Split), que tb relata casos de TDI.

Concluímos 21:15h, porém fizeram uma pergunta de outro assunto que levou os últimos 15 min. Ou seja, não falamos do livro Céu Azul!

8. Anexos

Subsídios Teóricos:

Livro dos Espíritos

425. O sonambulismo natural tem alguma relação com os sonhos? Como explicá-lo?

É um estado de independência da alma mais completo do que o do sonho. Quando nele, suas faculdades adquirem maior amplitude. A alma tem então percepções de que não dispõe no sonho, que é um estado de sonambulismo imperfeito.

No sonambulismo, o Espírito está na posse plena de si mesmo. Os órgãos materiais, achando-se de certa forma em estado de catalepsia, deixam de receber as impressões exteriores. Esse estado se apresenta principalmente durante o sono, ocasião em que o Espírito pode abandonar provisoriamente o corpo, por se encontrar este gozando do repouso indispensável à matéria. Quando se produzem os fatos do sonambulismo, é que o Espírito, preocupado com uma coisa ou outra, se aplica a uma ação qualquer, para cuja prática necessita de utilizar-se do corpo. Serve-se então deste, como se serve de uma mesa ou de outro objeto material no fenômeno das manifestações físicas, ou mesmo como se utiliza da mão do médium nas comunicações escritas. Nos sonhos de que se tem consciência, os órgãos, inclusive os da memória, começam a despertar. Recebem imperfeitamente as impressões produzidas por objetos ou causas externas e as comunicam ao Espírito, que, então, também em repouso, só experimenta, do que lhe é transmitido, sensações confusas e, amiúde, desordenadas, sem nenhuma aparente razão de ser, mescladas que se apresentam de vagas recordações, quer da existência atual, quer de anteriores. Facilmente, portanto, se compreende por que os sonâmbulos nenhuma lembrança guardam do que se passou enquanto estiveram no estado sonambulismo, e por que os sonhos de que se conserva memória as mais das vezes não têm sentido.

473. Pode um Espírito tomar temporariamente o envoltório corporal de uma pessoa viva, isto é, introduzir-se num corpo animado e obrar em lugar do outro que se acha encarnado neste corpo?

O Espírito não entra em um corpo como entras numa casa. Identifica-se com um Espírito encarnado, cujos defeitos e qualidades sejam os mesmos que os seus, a fim de obrar conjuntamente com ele. Mas o encarnado é sempre quem atua, conforme queira, sobre a matéria de que se acha revestido. Um Espírito não pode substituir-se ao que está encarnado, pois este terá que permanecer ligado ao seu corpo até ao termo fixado para sua existência material.”

O Livro dos Médiuns, Cap. XIV, item 172 ‘Médiuns sonambúlicos’.

172. Pode considerar-se o sonambulismo uma variedade da faculdade mediúnica, ou, melhor, são duas ordens de fenômenos que frequentemente se acham reunidos. O sonâmbulo age sob a influência do seu próprio Espírito; é sua alma que, nos momentos de emancipação, vê, ouve e percebe, fora dos limites dos sentidos. O que ele externa tira-o de si mesmo; suas ideias são, em geral, mais justas do que no estado normal, seus conhecimentos mais dilatados, porque tem livre a alma. Numa palavra, ele vive antecipadamente a vida dos Espíritos. O médium, ao contrário, é instrumento de uma inteligência estranha; é passivo e o que diz não vem de si. Em resumo, o sonâmbulo exprime o seu próprio pensamento, enquanto que o médium exprime o de outrem. Mas, o Espírito que se comunica com um médium comum também o pode fazer com um sonâmbulo; dá-se mesmo que, muitas vezes, o estado de emancipação da alma facilita essa comunicação.

LM, Cap XIX 'Do papel dos médiuns nas comunicações espíritas', item 223 perg 2ª

As comunicações escritas ou verbais também podem emanar do próprio Espírito encarnado no médium?

A alma do médium pode comunicar-se, como a de qualquer outro. Se goza de certo grau de liberdade, recobra suas qualidades de Espírito. Tendes a prova disso nas visitas que vos fazem as almas de pessoas vivas, as quais muitas vezes se comunicam convosco pela escrita, sem que as chameis. Porque, ficai sabendo, entre os Espíritos que evocais, alguns há que estão encarnados na Terra. Eles, então, vos falam como Espíritos e não como homens. Por que não se havia de dar o mesmo com o médium?”

a) Não parece que esta explicação confirma a opinião dos que entendem que todas as comunicações provêm do Espírito do médium e não de Espírito estranho?

Os que assim pensam só erram em darem caráter absoluto à opinião que sustentam, porquanto é fora de dúvida que o Espírito do médium pode agir por si mesmo.

Isso, porém, não é razão para que outros não atuem igualmente, por seu intermédio.”

O Livro dos Médiuns, Cap. XXIII, Da Obsessão, item 252

Ressalta do que fica dito um ensinamento de grande alcance: que as imperfeições morais dão azo à ação dos Espíritos obsessores e que o mais seguro meio de a pessoa se livrar deles é atrair os bons pela prática do bem. Sem dúvida, os bons Espíritos têm mais poder do que os maus, e a vontade deles basta para afastar estes últimos; eles, porém, só assistem os que os secundam pelos esforços que fazem por melhorar-se, sem o que se afastam e deixam o campo livre aos maus, que se tornam assim, em certos casos, instrumentos de punição, visto que os bons permitem que ajam para esse fim.

A Gênese, Cap. XIV, item II 'Obsessões e Possessões', nr 48

Na obsessão há sempre um Espírito malfeitor. Na possessão pode tratar-se de um Espírito bom que queira falar e que, para causar maior impressão nos ouvintes, toma do corpo de um encarnado, que voluntariamente lho empresta, como emprestaria seu fato a outro encarnado. Isso se verifica sem qualquer perturbação ou incômodo, durante o tempo em que o Espírito encarnado se acha em liberdade, como no estado de emancipação, conservando-se este último ao lado do seu substituto para ouvi-lo.

Quando é mau o Espírito possessor, as coisas se passam de outro modo. Ele não toma moderadamente o corpo do encarnado, arrebata-o, se este não possui bastante força moral para lhe resistir. Fá-lo por maldade para com este, a quem tortura e martiriza de todas as formas, indo ao extremo de tentar exterminá-lo, já por estrangulação, já atirando-o ao fogo ou a outros lugares perigosos. Servindo-se dos órgãos e dos membros do infeliz paciente, blasfema, injuria e maltrata os que o cercam; entrega-se a excentricidades e a atos que apresentam todos os caracteres da loucura furiosa. São numerosos os fatos deste gênero, em diferentes graus de intensidade, e não derivam de outra causa muitos casos de loucura. Amiúde, há também desordens patológicas, que são meras consequências e contra as quais nada adiantam os tratamentos médicos, enquanto subsiste a causa originária. Dando a conhecer essa fonte donde provém uma parte das misérias humanas, o Espiritismo indica o remédio a ser aplicado: atuar sobre o autor do mal que, sendo um ser inteligente, deve ser tratado por meio da inteligência.

RE Out/1867, 'Dissertações Espíritas', 'Os adeuses'

Entre as comunicações obtidas na última sessão da Sociedade, antes das férias, esta apresenta um caráter particular, que foge da forma habitual. Vários Espíritos, daqueles que são assíduos às sessões e por vezes se manifestam, vieram sucessivamente dirigir algumas palavras aos membros da Sociedade antes de sua separação, por meio de Sr. Morin, em sonambulismo espontâneo. Era como um grupo de amigos vindo despedir-se e dar testemunho de simpatia, no momento da partida. A cada interlocutor que se apresentava, o intérprete mudava de tom, de atitude, de expressão, de fisionomia, e pela linguagem reconhecíamos o Espírito que falava, antes que fosse nomeado. Era bem ele que falava, servindo-se dos órgãos de um encarnado, e não o seu pensamento traduzido, mais ou menos fielmente, ao passar por um intermediário. Assim, a identidade era patente e, salvo a semelhança física, tínhamos diante de nós o Espírito, como em sua vida. Depois de cada alocução, o médium ficava absorto durante alguns minutos; era o tempo de substituição de um Espírito por outro; depois, voltando a si pouco a pouco, ele retomava a palavra num outro tom.

RE Dez/1863 ‘Um caso de possessão - Senhorita Júlia’

Aqui a possessão é evidente e ressalta ainda melhor dos detalhes, cuja enumeração seria muito longa. No entanto, é uma possessão inocente e sem inconvenientes. Não acontece o mesmo quando se trata de um Espírito malévolo e mal-intencionado, porque ela pode ter consequências tanto mais graves quanto mais tenazes são esses Espíritos, e muitas vezes torna-se difícil livrar o paciente que eles fazem de vítima.

Eis um exemplo recente, que observamos pessoalmente e que foi objeto de sério estudo na Sociedade de Paris:

A senhorita Júlia, doméstica, nascida na Saboia, com vinte e três anos de idade, de caráter muito suave, sem qualquer instrução, há algum tempo era sujeita a acessos de sonambulismo natural que duravam semanas inteiras. Nesse estado ela ocupava-se em seu trabalho habitual, sem que as pessoas suspeitassem de sua situação. Seu trabalho até era muito mais bem feito. Sua lucidez era notável. Ela descrevia lugares e acontecimentos distantes com perfeita exatidão.

Há cerca de seis meses ela tornou-se presa de crises de um caráter estranho, que sempre ocorriam no estado sonambúlico, que, de certo modo, se tornara seu estado normal. Ela se torcia, rolava pelo chão, com se se debatesse em luta com alguém que a quisesse estrangular e, com efeito, apresentava todos os sintomas de estrangulamento. Acabava vencendo esse ser fantástico, tomava-o pelos cabelos, dava-lhe sopapos e lhe dirigia injúrias e imprecações, apostrofando-o incessantemente com o nome de Fredegunda, infame regente, rainha impudica, criatura vil e manchada por todos os crimes, etc. Pisoteava como se a calcasse aos pés com raiva e lhe arrancava as vestes. Coisa bizarra, tomando-se ela própria por Fredegunda, dava em si própria redobrados golpes nos braços, no peito e no rosto, dizendo: “Toma! Toma! É bastante, infame Fredegunda? Queres me sufocar, mas não o conseguirás; queres meter-te em minha caixa, mas eu te expulsarei.”

Minha caixa era o termo de que ela se servia para designar o próprio corpo. Ninguém poderia pintar a expressão frenética com que ela pronunciava o nome de Fredegunda, rangendo os dentes, nem as torturas que ela sofria nesses momentos.

Um dia, para se livrar de sua adversária, ela tomou de uma faca e vibrou contra si mesma, mas foi socorrida a tempo de evitar-se um acidente.

Coisa não menos notável é que ela jamais tomou um dos presentes por Fredegunda. A dualidade estava sempre nela mesma. Era contra si mesma que ela dirigia o seu furor, quando o Espírito estava nela, e contra um ser invisível quando dela se havia desembaraçado. Para os outros ela era suave e benevolente, mesmo nos momentos de maior exasperação.

Essas crises, verdadeiramente apavorantes, por vezes duravam horas, e se repetiam várias vezes por dia. Quando tinha acabado de vencer Fredegunda, ela caía num estado de prostração e de abatimento de que só saía pouco a pouco, mas que lhe deixava uma grande fraqueza e dificuldade de falar. Sua saúde estava profundamente alterada; nada podia comer e por vezes ficava oito dias sem alimento. Os melhores petiscos tinham gosto horrível para ela, que lhe faziam rejeitá-los. Dizia ela que era obra de Fredegunda, que queria impedi-la de comer.

Dissemos acima que a moça não tinha qualquer instrução. Em estado de vigília ela jamais ouviu falar de Fredegunda, nem de seu caráter nem do papel que tinha tido. No estado sonambúlico, ao contrário, ela sabe tudo perfeitamente (…).

Em face de uma situação tão estranha, uns atribuem o seu estado a uma afecção nervosa; outros a uma loucura de caráter especial, e força é convir que, à primeira vista, esta última opinião tinha uma aparência de realidade. Um médico declarou que, no estado atual da ciência, nada podia explicar semelhantes fenômenos, e que não via qualquer remédio. Contudo, pessoas experimentadas no Espiritismo reconheceram sem esforço que ela estava sob o império de uma subjugação das mais graves e que lhe poderia ser fatal.

Sem dúvida, quem só a tivesse visto nos momentos de crise e só tivesse considerado a estranheza de seus atos e palavras, teria dito que era louca, e lhe teria infringido o tratamento dos alienados que, sem a menor dúvida, teria determinado uma loucura verdadeira. Mas tal opinião deveria ceder ante os fatos.

No estado de vigília sua conversa é a de uma criatura de sua condição e compatível com sua falta de instrução. Sua inteligência é mesmo vulgar. Já a coisa é completamente outra no estado de sonambulismo. Nos momentos de calma, ela raciocina com muito senso, justeza e profundidade. Ora, seria singular uma loucura que aumentasse a dose de inteligência e discernimento.

Só o Espiritismo pode explicar essa aparente anomalia. No estado de vigília, sua alma ou Espírito está comprimida por órgãos que lhe não permitem senão um desenvolvimento incompleto. No estado de sonambulismo, a alma, emancipada, está em parte liberta dos laços e goza da plenitude de suas faculdades. Nos momentos de crise, suas palavras e atos não são excêntricos senão para os que não creem na ação dos seres do mundo invisível. Não vendo senão o efeito, e não remontando à causa, eis por que todos os obsedados, subjugados e possessos passam por loucos. Nos manicômios houve, em todos os tempos, pretensos loucos dessa natureza, que seriam facilmente curados se não se obstinassem em neles ver apenas uma doença orgânica. (...)

Eis o que testemunhamos numa dessas lutas terríveis, que não durou menos de duas horas, quando pudemos observar o fenômeno nos mínimos detalhes.

Nos Domínios da Mediunidade, André Luiz, Cap. 22 ‘Emersão no Passado’

- Estamos diante do passado de nossa companheira. A mágoa e o azedume, tanto quanto a personalidade supostamente exótica de que dá testemunho, tudo procede dela mesma... Ante a aproximação de antigo desafeto, que ainda a persegue de nosso plano, revive a experiência dolorosa que lhe ocorreu, em cidade do Velho Mundo, no século passado, e entra em seguida a padecer insopitável melancolia. (...)

- Isso quer dizer que nossa irmã imobilizou grande coeficiente de forças do seu mundo emotivo, em torno da experiência a que nos referimos, a ponto de semelhante cristalização mental haver superado o choque biológico do renascimento no corpo físico, prosseguindo quase que intacta. Fixando-se nessa lembrança, quando instada de mais perto pelo companheiro que lhe foi irrefletido algoz, passa a comportar-se qual se estivesse ainda no passado que teima em ressuscitar. É então que se dá a conhecer como personalidade diferente, a referir-se à vida anterior. (...)

- Sem dúvida, em tais momentos, é alguém que volta do pretérito a comunicar-se com o presente, porque ao influxo das recordações penosas de que se vê assaltada, centraliza todos os seus recursos mnemônicos tão-somente no ponto nevrálgico em que viciou o pensamento. Para o psiquiatra comum é apenas uma candidata à insulinoterapia ou ao eletrochoque, entretanto, para nós, é uma enferma espiritual, uma consciência torturada, exigindo amparo moral e cultural para a renovação íntima, única base sólida que lhe assegurará o reajustamento definitivo. (...)

- Mediunicamente falando, vemos aqui um processo de autêntico animismo. Nossa amiga supõe encarnar uma personalidade diferente, quando apenas exterioriza o mundo de si mesma... (...)

E a pobrezinha efetua isso quase na posição de perfeita sonâmbula, porquanto se concentra totalmente nas recordações que já assinalamos, como se reunisse todas as energias da memória numa simples ferida, com inteira despreocupação das responsabilidades que a reencarnação atual lhe confere.

Achamo-nos,por esse motivo, perante uma doente mental, requisitando-nos o maior carinho para que se recupere.

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