Casa Espírita Missionários da Luz - Mocidade - > 14 anos 23/08/2018
Tema: Sim à Vida!
Objetivo:
Estudar as consequências do suicídio para o Espírito;
Refletir sobre as possíveis causas do suicídio;
Perceber a importância da religiosidade como prevenção ao suicídio.
Bibliografia:
O Livro dos Espíritos, perg 155, 257, 943 à 957, (Desgosto da Vida. Suicídio);
Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap V – Bem-Aventurados os Aflitos, itens 14 à 17 - ‘O Suicídio e a Loucura’;
O Céu e o Inferno, 2ª parte, Cap V ‘Suicidas’;
Evolução em Dois Mundos, André Luiz/Chico Xavier, 2ª parte, Cap.17 – Desencarnação;
Adolescência e Vida, Joanna de Ângelis/Divaldo P. Franco, Cap. 25 ‘O Adolescente e o suicídio’;
Juventude Interrompida, Autores Diversos, DIJ da FEEES, editora AME, Fev2014.
Material: Livro: Juventude Interrompida (ou ter o texto Carta de Caio, desse livro); folhinhas de papel e caneta (1 para cada jovem)
Desenvolvimento:
1. Hora da novidade e prece Inicial
2. Motivação ao tema:
Falar aos jovens que a reflexão da noite se refere ao grande equívoco da pessoa tirar a própria vida.
Distribuir folha e caneta para cada um, pedindo que pensem e escrevam o que acham que leva uma pessoa, um jovem, a tirar a própria vida. (3 min)
==> passado o tempo, recolher os papéis.
3. Exposição dialogada:
Falar do livro Juventude Interrompida, falando que são relatos e alertas de jovens do além, que ditaram cartas a médiuns ligados ao DIJ da FEEES, contando a história deles, que ‘quando chegaram, descobriram que haviam partido cedo demais...’.
No tema ‘suicídio’, são 4 cartas. Vamos ver a primeira delas: Carta de Caio.
==> ler, resumindo, a carta de Caio, de 6 páginas.
Resumo:
Caio se suicidou aos 15 anos de idade. Filho único, nascido em ‘berço de ouro’, alegria e esperanças de futuro aos pais, se percebeu como homossexual aos 13 anos. Não encontrando apoio dos pais, nem na escola, nem na igreja, foi se fechando em si mesmo e pulou da janela do seu quarto no 11º andar do edifício onde morava e descobriu, após a morte do corpo, que continuava vivo. Uma história emocionante. Relata sua surpresa após a morte, sua situação e como foi auxiliado.
Suicídio é uma questão séria. Precisamos falar disso, principalmente nós espíritas, que temos informações sobre a vida no mundo espiritual.
4. Vamos duplas/trios para, juntos, discutirem o ocorrido com o Caio.
==> A dupla/trio deve pensar em uma solução para o problema dele, antes do ato final, ou seja, uma solução para que não haja o suicídio.
5. Apresentação das duplas/trios (procurar levar para uma análise do que fariam se a história fosse com eles: o que fazer quando eles tem um segredo, sentem algo que ninguém compreende? Ou como ajudariam se soubessem de um amigo ou colega que tenha essa mesma situação do Caio).
==> anotar as respostas dos grupos
6.Discussão circular:
Vamos pensar nesse tema em 3 aspectos:
- Possíveis causas do suicídio;
- Consequências do suicídio para o Espírito;
- Prevenção ao suicídio.
Apoio teórico:
Possíveis causas do suicídio – ler as respostas anotadas pelos jovens no início, acrescentando, se necessário:
- um descontentamento, quaisquer que sejam os motivos particulares que se lhe apontem. No caso dos jovens, as pesquisas mostram que normalmente tem um fato estressante que desencadeia o processo. No caso da juventude, tudo parece muito mais ampliado. O problema parece muito mais complexo, denso, sem saída.
- a incredulidade, a simples dúvida sobre o futuro, as ideias materialistas;
- processos obsessivos;
- embriaguez e loucura, aos quais se pode chamar de suicídios inconscientes;
- depressão e outros transtornos psiquiátricos ==> esse foi o caso de Caio
Consequências do suicídio para o Espírito – Kardec tratou desse tema no LE:
- Muito diversas são as consequências do suicídio, variando para cada caso. Há, porém, uma consequência a que o suicida não pode escapar; é o desapontamento;
- A sensação de angústias e de horror pode durar pelo tempo que devia durar a vida que sofreu interrupção;
Vemos na literatura espírita, que as lesões provocadas pelo suicídio podem determinar processos degenerativos e desajustes no perispírito devido aos traumas psíquicos que causam na mente. Esses desajustes podem causar doenças e deficiências na próxima reencarnação.
Prevenção ao suicídio - voltar as soluções que as duplas trouxeram para o caso do Caio, acrescentando:
- informação a respeito da imortalidade do ser e da reencarnação;
- “resistência espiritual para enfrentar as vicissitudes e os desafios, mediante amadurecimento íntimo e compreensão dos valores éticos que constituem a vida”;
- “choques e dores que devem ser atenuados, canalizados pela educação, pelos exercícios moralizadores” ==> ação no bem auxilia a lidar com as dores;
- “o lar se tornar escola de real educação, e a escola se transformar em lar de formação moral e cultural, a realidade do Espírito fará parte das suas programações éticas”;
- pedir ajuda a um adulto de referência (familiar, professor, evangelizador);
- buscar orientação médico-psiquiátrica e apoio psicológico.
7. Conclusão:
A religiosidade é muito importante como prevenção ao suicídio, pois a crença em Deus e na imortalidade da alma, propicia esperança aos que sofrem.
Ninguém está abandonado! Mesmo os Espíritos suicidas se restabelecerão, renascerão, e novas oportunidades terão para refazer os caminhos.
8.Prece final e passes
Avaliação:
Estudo em dois encontros.
23/08/24: 5 jovens com boa participação e interesse. Li um resumo da carta de Caio. Como estavam em 5, fizeram a discussão sobre a solução que poderia ter havido para o Caio entre eles 5. Paramos nesse ponto. Foram recolhidos os papéis onde anotaram as possíveis causas do suicídio.
Trouxeram na discussão (dúvidas deles): vale dos suicidas e Espírito ficar preso ao corpo após a morte.
Comentaram da importância de continuar o estudo na semana que vem, pois a questão da depressão nos jovens têm se mostrado um assunto que precisa ser abordado.
30/08/2024:
Encontro
com 8 jovens.
Iniciei com o áudio do Momento Espírita:
Um Minuto Apenas
https://momento.com.br/pt/ler_texto.php?id=7119 - (5:40 minutos)
Anotei no quadro as causas que os jovens haviam escrito no encontro anterior, e a discussão foi a partir das causas anotadas. Não falei das consequências para o Espírito após o suicídio, apenas na prevenção e na importância da religiosidade na vida das pessoas.
As causas que colocaram foram:
Críticas e cobranças dos pais, sem elogios nem reconhecimento; bullying (3) no colégio, depressão (4), medo de não conseguir ser o que querem que o jovem seja; falta de desejo, algum sentimento, insuficiência, falta de propósito (3), vazio, desânimo, luto, dinheiro, questões profissionais, brigas, problemas familiares, amor, solidão (2), não se sentir vivo, sem visão de futuro promissor, sentir que nada vale a pena, culpa (3), “tirar” sua dor, querer se livrar dos fardos do cotidiano, não saber se sentir ou ser feliz, não ver outro caminho para se livrar da dor, desistir pois não vê razão de continuar, pressão 3), baixa autoestima, não se sentir amado/bom o suficiente, ansiedade, drogas (2), tristeza (2), frustração, ser esquecido pelas pessoas, não aceitação de si mesmo, medo profundo, perda de esperança em algo/alguém, problemas de relação.
Anexos
LE 957. Quais, em geral, com relação ao estado do Espírito, as consequências do suicídio?
“Muito diversas são as consequências do suicídio. Não há penas determinadas e, em todos os casos, correspondem sempre às causas que o produziram. Há, porém, uma consequência a que o suicida não pode escapar; é o desapontamento. Mas, a sorte não é a mesma para todos; depende das circunstâncias.” (...)
“A afinidade que permanece entre o Espírito e o corpo produz, nalguns suicidas, uma espécie de repercussão do estado do corpo no Espírito, que, assim, a seu mau grado, sente os efeitos da decomposição, donde lhe resulta uma sensação cheia de angústias e de horror, estado esse que também pode durar pelo tempo que devia durar a vida que sofreu interrupção. Não é geral este efeito; mas, em caso algum, o suicida fica isento das consequências da sua falta de coragem e, cedo ou tarde, expia, de um modo ou de outro, a culpa em que incorreu.”
Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap V
“14. A calma e a resignação hauridas da maneira de considerar a vida terrestre e da confiança no futuro dão ao espírito uma serenidade que é o melhor preservativo contra a loucura e o suicídio.”
“15. O mesmo ocorre com o suicídio. Postos de lado os que se dão em estado de embriaguez e de loucura, aos quais se pode chamar de inconscientes, é incontestável que tem ele sempre por causa um descontentamento, quaisquer que sejam os motivos particulares que se lhe apontem. Ora, aquele que está certo de que só é desventurado por um dia e que melhores serão os dias que hão de vir, enche-se facilmente de paciência. Só se desespera quando nenhum termo divisa para os seus sofrimentos. E que é a vida humana, com relação à eternidade, senão bem menos que um dia?”
“16. A incredulidade, a simples dúvida sobre o futuro, as ideias materialistas, numa palavra, são os maiores incitantes ao suicídio; ocasionam a covardia moral.”
Evolução em Dois Mundos, André Luiz/Chico Xavier, 2ª parte, Cap.17 - Desencarnação
– Podemos considerar a desencarnação da alma, em plena infância, como sendo uma punição das Leis Divinas, na maioria das vezes?
– Muitas existências são frustradas no berço, não por simples punição externa da Lei Divina, mas porque a própria Lei Divina funciona em todos nós, desde que todos existimos no hausto do Criador.
Frequentemente, através do suicídio, integralmente deliberado, ou do próprio desregramento, operamos em nossa alma desequilíbrios, quais tempestades ocultas, que desencadeamos, por teimosia, no campo da natureza íntima.
Cargas venenosas, instrumentos perfurantes, projéteis fulminatórios, afogamentos, enforcamentos, quedas calculadas de grande altura e multiformes viciações com que as criaturas responsáveis arruínam o próprio corpo ou o aniquilam, impondo-lhe a morte prematura, com plena desaprovação da consciência, determinam processos degenerativos e desajustes nos centros essenciais do psicossoma, notadamente naqueles que governam o córtex encefálico, as glândulas de secreção interna, a organização emotiva e o sistema hematopoético.
Ante o impacto da desencarnação provocada, semelhantes recursos da alma entram em pavoroso colapso, sob traumatismo para o qual não há termo correlato na diagnose terrestre.
Indescritíveis flagelações, que vão da inconsciência descontínua à loucura completa, senhoreiam essas mentes torturadas, por tempo variável, conforme as atenuantes e agravantes da culpa, induzindo as autoridades superiores a reinterná-las no plano carnal, quais enfermos graves, em celas físicas de breve duração, para que se reabilitem, gradativamente, com a justa cooperação dos Espíritos reencarnados, cujos débitos com eles se afinem.
Eis por que um golpe suicida no coração, acompanhado pelo remorso, causará comumente diátese hemorrágica, com perda considerável da protrombina do sangue, naqueles que renascem para tratamento de recuperação do corpo espiritual em distonia; o auto-envenenamento ocasionará, nas mesmas condições, deploráveis desarmonias nas regiões psicossomáticas correspondentes à medula vermelha, conturbando o nascimento das hemácias, tanto em sua evolução intravascular, dentro dos sinusóides, como também na sua constituição extravascular, no retículo, gerando as distrofias congênitas do eritrônio com hemopatias diversas; os afogamentos e enforcamentos, em identidade de circunstâncias, impõem naqueles que os provocam os fenômenos da incompatibilidade materno-fetal, em que os chamados fatores Rh, de modo geral, após a primeira gestação, permitem que a hemolisina alcance a fronteira placentária, sintonizando-se com a posição mórbida da entidade reencarnante, a se externarem na eritroblastose fetal, em suas variadas expressões; e o voluntário esfacelamento do crânio, a queda procurada de grande altura e as viciações do sentimento e do raciocínio estabelecem no veículo espiritual múltiplas ocorrências de arritmia cerebral, a se revelarem nos doentes renascituros, através da eclampsia e da tetania dos latentes, da hidrocefalia, da encefalite letárgica, das encefalopatias crônicas, da psicose epiléptica, da idiotia, do mongolismo e de várias morboses oriundas da insuficiência glandular.
Adolescência e Vida, Joanna de Ângelis/Divaldo P. Franco, Cap. 25
‘O Adolescente e o suicídio’;
“A desinformação a respeito da imortalidade do ser e da reencarnação responde pela correria alucinada na busca do suicídio, com a proposta de encontrar nele solução para as dificuldades que são ensanchas de progresso, sem as quais se permaneceria estacionado no patamar em que se transita.”
“No período de infância e de adolescência, o ser forma o caráter sob as heranças das reencarnações anteriores, que se expressam, nem sempre de forma feliz, produzindo, às vezes, choques e dores que devem ser atenuados, canalizados pela educação, pelos exercícios moralizadores, até que se fixem as disposições definidoras do rumo feliz. Nunca, porém, a caminhada se dará sem dificuldade, sem tropeço, sem esforço. Quem alcança uma glória sem luta, não é digno dela.”
“Quando o lar se tornar escola de real educação, e a escola se transformar em lar de formação moral e cultural, a realidade do Espírito fará parte das suas programações éticas, sem o caráter impositivo de doutrina religiosa compulsivo-obsessiva, porém com a condição de disciplina educativo-moralizadora que é, da qual ninguém se poderá evadir ou simplesmente ignorar, então o suicídio na adolescência cederá lugar à resistência espiritual para enfrentar as vicissitudes e os desafios, mediante amadurecimento íntimo e compreensão dos valores éticos que constituem a vida.”
Juventude Interrompida, Autores Diversos, DIJ da FEEES
Carta de Caio
Meus queridos!
Os mais sinceros agradecimentos, por permitirem que eu coloque para fora estes sentimentos que ainda assolam meu ser. Ao longo de minha narrativa vocês me entenderão, mas, de antemão, solicito suas vibrações positivas a meu favor.
Nascido em “berço de ouro”, meu retorno ao mundo físico foi marcado por festas, comemorações e diversas formas de expressão de alegria de meus pais, Carlos e Martha, que, jovens e bonitos, trouxeram-me para uma nova vida, batizando-me com o nome de Caio, mas me chamavam carinhosamente de Cacá.
Meus pais dedicavam todo o tempo de folga a proporcionar minha alegria, e eu, desde cedo, esmerava-me em caras e bocas para as fotos e as exibições aos amigos e aos familiares, trazendo assim novo sentido a suas vidas. Cresci sob clima de amor e muita expectativa, até que, por volta dos 13 anos de idade, começou a surgir em mim estranho interesse por meu melhor amigo, Eduardo.
Eu não sabia o que estava acontecendo e me culpava por tal sentimento, até porque sempre ouvi dos meus pais planos de como seria deslumbrante a festa de casamento de seu único e amado filho. Depois viriam os netinhos, que seriam tão lindos como o próprio Cacá. Sofria com o fato de meus pais forçarem a barra para dizer que deveria arranjar uma namorada, que deveria me divertir, beijar, conhecer uma garota, para, mais tarde, constituir minha família.
Os sentimentos eram confusos, visto que me sentia bem e gostava mesmo da companhia de Eduardo. Queria, sim, abraçar meu amigo, beijá-lo e viver novas experiências com ele. Percebendo meu interesse por Eduardo, meus pais, preocupados, iniciaram uma lavagem cerebral, comentando sobre o erro que seria um jovem escolher ser gay, como a sociedade via esses estranhos seres e como seria desastroso ao sonho deles. Chegaram ao ponto de dizer-me, categoricamente: “Prefiro ver meu filho morto, a vê-lo gay.” Não sabiam meus pais que eu era gay. Na verdade, nem mesmo eu sabia.
Eduardo não era mais bem-vindo à nossa casa. Isolei-me então no meu quarto e entrei em profunda depressão. Quase dois anos se passaram e eu havia perdido a alegria de viver. Meus pais continuavam lutando para que eu superasse aquele momento difícil e acreditavam que, em breve, surgiria uma garota que me faria feliz. Assim eram conduzidas as conversas, e eu nem ouvia mais o que eles me falavam; a vida não tinha mais graça, pois continuava amando Eduardo e o pior é que nem podia vê-lo.
Minha cabeça era uma confusão imensa. Pensava no meu amor e me entristecia pela impossibilidade de realizá-lo. Ao mesmo tempo, pensava o quanto eu era responsável pela infelicidade dos meus pais. Quanto mais refletia, mais desorganizada ficava minha mente. Nenhuma ajuda! Na escola, todos me olhavam de forma estranha, como se eu fosse um ET; amigos, não tinha; à igreja, não ia mais, pois só ouvia dizer que rapazes se relacionavam com moças, que o sexo é para a procriação, que o sexo pelo prazer era algo impuro... Essas falas me deixavam cada vez pior.
A confusão mental e a falta de perspectiva, a culpa e a fala dos meus pais, que afirmavam preferir ver-me morto, gritavam em meu interior. Já não sabia direito quem eu era ou mesmo se eu era alguma coisa.
Atordoado com tanta confusão e sem refletir direito, disparei em direção à janela do apartamento do 11º andar e joguei-me. A queda foi fatal! Entrei em pânico quando vi meu corpo inerte no chão e me vi fora dele. “Como pôde acontecer algo assim? Eu me matei e estou vivo?!” A dor de minha alma era maior do qualquer dor que havia experimentado até então.
Como foi triste perceber, num lapso de segundo, que a morte não existe e que essa passagem de um lado para o outro não dava conta de minhas angústias. “O que consegui com esse ato impensado? Como pude ser assim inconsequente?” Um estranho sentimento invadia meu ser, como se eu tivesse, naquele momento, percebido que me precipitara.
Ainda questionando meu ato, fiquei pior ao ver minha mãe e, logo em seguida, meu pai chegarem próximo àquele corpo que não mais me pertencia. Meu Deus, que agonia ver o desespero dos meus amados pais. Quanto sofrimento estava novamente causando àqueles seres que um dia me deram a vida!
Fiz menção de sair daquele local, aliás, puxavam-me para fora dali, quando vi Eduardo aproximando-se estarrecido. A alguns metros de distância, reconhecera que era eu ali, estendido no chão. Quis aproximar-se, mas não podia nem conseguia. Ajoelhou-se ao chão, agasalhou seu rosto entre as mãos e caiu em pranto profundo, murmurando baixinho: “Eu te amo Caio, eu te amo, não me deixe sozinho.” Sua fala ecoava em mim, como se ele estivesse gritando por mim, gritando por socorro. Dona Ruth, mãe de Eduardo, aproximou-se, abaixou-se junto ao filho e o amparou. Ele disse: “Mãe, eu o amo.” Amorosa, dona Ruth afagou o filho e o abraçou, dizendo saber o quanto ele me amava, mas infelizmente, agora, não havia mais nada a fazer.
Ouvindo dona Ruth falar, senti uma dor indescritível no peito. Corri em direção aos meus pais para pedir socorro, mas eles não me ouviam. Eu, no entanto, ouvi minha mãe dizer: “Foi minha culpa, foi minha culpa, eu deveria tê-lo aceitado como ele sempre foi, foi culpa minha...”
Ah Deus, essas palavras só fizeram piorar o que eu sentia. Gritei de dor e clamei por socorro. Supliquei: “Deus, se tudo que ouvi a seu respeito for verdade, ampare-me; Jesus, se és de fato o filho de Deus, ajuda-me.”
Que sofrimento ver os enfermeiros recolherem meu corpo e o colocarem dentro daquela ambulância fria. Que coisa horrível ver seres espirituais inferiores atraídos por aquele sangue que ficou pelo chão!
Impossível descrever a dor e o sentimento daquele momento. De joelhos, pedi perdão aos meus pais, pedi perdão a Eduardo, pedi perdão a Deus. Supliquei para Deus ajudar-me, porque eu não sabia o que estava fazendo. Imaginei que minha atitude daria fim às minhas dores. Que ilusão! Meus pais foram retirados dali e levados para algum local que não soube onde era, enquanto isso Eduardo voltou para casa com sua mãe, aos prantos. De repente, estava ali, sozinho com minhas dores. Continuei a chorar e a pedir perdão a Deus. Sentia uns vultos passando por mim como se quisessem me tocar, pegar ou arrastar, não sei ao certo.
Fiquei andando de um lado para o outro sem saber para onde ir e sendo perseguido por esses vultos, que, por algum motivo, não me alcançavam. À medida que o tempo foi passando, tentei esconder-me no prédio onde morava, mas não conseguia entrar. Esperei alguém para entrar junto. Entrei no elevador e fiquei para cima e para baixo, até que uma pessoa parou no meu andar. Sentei-me à porta do meu apartamento e ali fiquei, até que alguém veio pegar algumas coisas para meus pais. Entrei. Vultos continuavam a rondar-me, mas sentei-me diante de uma imagem onde minha mãe rezava e fiquei conversando com Deus, hora após hora, dia após dia. Fiquei ali por um tempo que não sei precisar.
Meus pais não mais voltaram para casa. Só passaram por ali meus tios, buscando as coisas dos meus pais e retirando minhas coisas do quarto, deixando o apartamento vazio. Os dias ali eram intermináveis e eu estava cada vez mais esquisito e sentindo-me muito mal. Estava cheio daquela história de entrar e sair um monte de gente ali e ninguém me ver ou falar comigo.
Um dia, um casal entrou no apartamento, juntamente com outro sujeito, e começaram a olhar tudo. De repente, a senhora, do nada, me perguntou: “O que você está fazendo aqui?” Fiquei meio assustado e disse: “Como assim? Eu moro aqui. Este é meu apartamento.” Ela me perguntou: “Há quanto tempo você está aqui?” Claro que não soube responder. Enquanto o marido foi olhar os outros cômodos do apartamento, ela retirou de dentro da bolsa um pequeno livrinho, fez uma leitura em voz alta e pediu aos amigos dela, que ela chamava de amigos espirituais, que me conduzissem a algum local. À medida que ela fazia sua oração, percebi uma luz entrando em nosso apartamento e aí notei o quanto ele estava escuro. Depois vi que aquela luz fazia o contorno do corpo de uma pessoa, que se aproximou de mim, e senti um bem-estar que havia muito não sentia. Ela me disse: “Vai com ele e você será atendido em suas necessidades.”
O companheiro estendeu a mão, que segurei e, de repente, sem que eu percebesse, estava em outro local. Um ambiente muito mais aconchegante e tranquilo. Passei naquele ambiente longo período, recebendo tratamento específico, visto que estava desfigurado. Disseram-me que eu havia danificado o organismo que dá forma ao corpo e que eu precisava de tratamento para melhorar. Fiz tudo que me mandaram e as coisas foram melhorando.
Hoje ainda encontro-me atordoado, mais com o sofrimento dos meus pais, que ainda buscam entender onde foi que erraram e se martirizam por terem sido tão duros comigo, não me compreendendo. Entenderam, finalmente, que preferiam ter-me do lado deles, mesmo na condição de homossexual, do que perder-me.
Já tive a oportunidade de aproximar-me de Eduardo, o meu querido Dudu, e de falar a ele, mesmo não sendo ouvido, tudo que sinto, pedindo que me perdoe e incentivando-o a prosseguir sua vida. Agora, meu sonho é visitar meus pais para pedir-lhes perdão pelo que fiz. Estou trabalhando para isso e tenho certeza de que conseguirei. Essa certeza é que me dá forças para continuar. Paz!
Caio
(Mensagem psicografada pelo médium Edmar Reis Thiengo, em reunião de preparação para o 34º EMEES.)
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