Casa Espírita Missionários da Luz - DIJ Mocidade: > 14 anos – 25/07/2025
Tema: SIM à Vida
Objetivos:
Identificar no aborto um crime perante a lei de Deus;
Refletir sobre a realidade espiritual de todos os envolvidos nos casos de aborto.
Bibliografia:
O Livro dos Espíritos, pergs: 136a (Alma), 166 (Reencarnação), 258 à 269 (Escolha das Provas); 344 à 359 (União da Alma ao Corpo), 880 (direito natural: o de viver);
ESE, cap. X Os Misericordiosos, Itens 11 e 13 (Não julgueis para não serdes julgados);
Após a Tempestade. Joanna de Ângelis/Divaldo Franco. Cap. 12 – ‘Aborto delituoso’;
Juventude Interrompida - Relatos e Alertas dos Jovens do Além, Espíritos Diversos, FEEES/DIJ, Cap. Aborto (Carta de Joana), O Clarim, 1ª edição.
Material: Livro dos Espíritos, texto do relato de Joana do livro Juventude Interrompida.
Desenvolvimento:
Dar as boas vindas ao grupo, hora da novidade, exercícios de respiração profunda.
Prece Inicial.
Motivação:
Falar aos jovens que vai ler uma carta psicografada numa CE no Espírito do Santo, de uma jovem desencarnada de nome Joana, em 4/12/2012. Portanto, há quase 13 anos atrás.
==> ler a carta, relatada no livro Juventude Interrompida, pausadamente.
Discussão dialogada
a) Depois, pedir que falem o que entenderam do relato de Joana, que pontos acharam relevantes, quais princípios doutrinários vemos no relato, e ir anotando no quadro.
==> reforçar os pontos a seguir, caso não tenham falado:
- como Joana desencarnou: numa clínica de aborto clandestina, onde foi levada pelo namorado, teve complicações e desencarnou.
- porque ela resolveu pelo aborto, mesmo sendo espírita desde o berço? ==> talvez por receio de manter posição, pois o namorado não queria o filho naquele momento de vida, e ela temia perder o namorado. ==> De quem é a responsabilidade pelas consequências? ==> dos dois! Sem falar do pessoal da clínica…
“Uma mãe, ou quem quer que seja, cometerá crime sempre que tirar a vida a uma criança antes do seu nascimento” (LE perg. 358)
- como foi o despertar dela no Plano Espiritual? ==> em região de sofrimentos, cercada de Espíritos inferiores, e ouvindo gritos de pedido de socorro, em sua mente. Depois sentiu dores no baixo ventre e aí lembrou do namorado e da clínica de aborto. Muita confusão mental, sentia-se doente, com medo, e orou a Jesus, sendo adormecida por mentores espirituais. Acordou depois num hospital com uma enfermeira a ajudando.
- Porque ela foi recolhida num hospital, encontrou a mãe e foi atendida pelo mentor se tinha desencarnado por um aborto clandestino? ==> pelos méritos adquiridos na ação no Bem, na evangelização na CE; pela preces dos evangelizandos.
- Que gritos eram aqueles que ela ouvia na casa mental? Eram alucinações? ==> Não. Eram os gritos do filho que ela havia impedido de reencarnar.
- Joana sabia que tinha desencarnado? ==> Não. Estava em confusão mental. Só quando viu a mãe, percebeu que tinha desencarnado.
- Qual era o planejamento reencarnatório de Joana? ==> reencontrar o antigo companheiro, Philipe, se unirem e receberem o Espírito, que a amava, como filho.
- O que significa a pergunta do mentor: “Você tem claro em sua mente que esse envolvimento poderia ter sido diferente, certo?” ==> como poderia ter sido o envolvimento com Philipe? ==> com responsabilidade, com gravidez no tempo certo. Não era a primeira vez que ela falia nessa prova do encontro com Philipe. - Essa era a grande prova de Joana na encarnação:evitar cair novamente no erro da precipitação e do aborto.
- O que significa a frase do mentor: “iremos trabalhar juntos, para trazer de volta o amigo que tanto a ama, mas que, por ora, traz o ódio em seu íntimo”?
==> o Espírito que renasceria por ela, não a tinha perdoado. Estava com ódio dela por tê-lo abandonado; por não ter cumprido a promessa do retorno juntos;
==> que nossas encarnações são planejadas junto a nossos mentores (“Esperávamos muito de você. Investimos muito em você.”)
- E a próxima reencarnação de Joana? Como seria? ==> uma reencarnação de recuperação das decisões equivocadas da última: reorganizar o perispírito danificado pelos ferimentos do aborto. Novos planos para ver como reconquistar o Espírito que estava ressentido com ela.
- Os 3 Espíritos envolvidos tinham um acordo firmado antes da reencarnação? ==> Sim! E Joana e Philipe descumpriram o combinado, prejudicando o que iria reencarnar e até provocando a desencarnação precoce de Joana.
b) Vamos imaginar agora, como deve ter sido essa história pela ótica do reencarnante? O livro sugere uma possibilidade como material de estudo: ==> ler o artigo Diga “sim” à incessante viagem da vida.
==> que comparação podemos fazer com essa preparação da reencarnação dele e a chegada de Cesar Augusto no livro Céu Azul? ==> a ótica da vida pelo lado espiritual, que é o lado verdadeiro da nossa vida! Comemoração, despedidas pela viagem ao renascimento, e essa mesma comemoração pelo retorno da viagem com a missão cumprida conforme planejada!
c) Reflexão
- Pedro, Joana e Philipe tinham um acordo que não foi cumprido.
==> Joana e Philipe tinham o direito de negar a Pedro o retorno? Eles não eram os “donos” do “carro”? Não poderiam desistir da “viagem”?
==> Jesus nos orientou: não faça aos outros o que não quer que façam a você!
==> Pedro tinha direito a exigir que o contrato fosse cumprido conforme acordado?
==> Jesus não nos orientou a perdoarmos 70 x 7 vezes?
- Quando vemos discussões sobre o aborto, é costume ver o lado do reencarnante?
==> Como saber quem é o Espírito reencarnante?
==> E isso importa?
== > o que importa é que é um Espírito, como cada um de nós, que precisa da reencarnação!
Vocês acham que o Espírito reencarnante vem por acaso? Que não está associado à mãe? Ao pai? Que não tem um objetivo na encarnação? Joanna de Angelis nos diz:
“Nenhum processo reencarnatório resulta da incidência casual de fatores que impelem os gametas à fecundação extemporânea. Se assim fora, resultaria permissível ao homem aceitar ou não a conjuntura. (...)”
(Após a Tempestade. Joanna de Ângelis/Divaldo Franco. Cap. 12 – Aborto delituoso )
d) Espiritismo e leis brasileiras
==> Em quais casos o Espiritismo orienta que o aborto é a melhor opção?
LE, perg. 358: Constitui crime a provocação do aborto, em qualquer período da gestação?
Há crime sempre que transgredis a lei de Deus. Uma mãe, ou quem quer que seja, cometerá crime sempre que tirar a vida a uma criança antes do seu nascimento, por isso que impede uma alma de passar pelas provas a que serviria de instrumento o corpo que se estava formando.
LE, perg. 359: Dado o caso que o nascimento da criança pusesse em perigo a vida da mãe dela, haverá crime em sacrificar-se a primeira para salvar a segunda?
Preferível é se sacrifique o ser que ainda não existe a sacrificar-se o que já existe.
==> Somente nessa condição, o aborto seria justificado.
Então, de acordo com a DE, a legislação brasileira comete crime contra as leis de Deus, ao autorizar o aborto em gestação por estupro, e nos casos dos anencéfalos.
Pergunta ao grupo: Em que momento a alma se une ao corpo? Na Concepção! No Livro dos Espíritos, na questão 344, há o registro claro e inequívoco de que a vida humana começa no momento da concepção. Independente das discussões filosóficas, médicas sobre o momento em que começa a vida, nós, espíritas, não temos dúvida!
São muitos os relatos dos Espíritos sobre essa questão. A vida não é um acidente biológico como disse Joanna no trecho que vimos acima!
e) Abuso sexual – Estupro
Mesmo nos casos dolorosos, que nos sensibilizam a todos, de abusos, de estupros, não tenhamos dúvidas! Não esqueçamos de lembrar da ótica do reencarnante!
Uma reflexão interessante é: Sabendo que:
- o Espírito sabe em qual contexto está reencarnando;
- de modo geral, o Espírito escolhe, participa do planejamento de sua encarnação.
==> Então:
- porque um Espírito escolheria reencarnar através de uma gestação resultado de estupro?
==> Vocês já pensaram nisso? Em qual situação, você sendo espírito desencarnado, faria essa escolha? (incentivar a reflexão)
- Poderíamos pensar em 2 possibilidades….
1ª – Espírito que fez muitos abortos (gestante ou aborteira) em encarnações passadas e escolhe essa experiência, onde a possibilidade de ser abortado existe. Para aprender a valorizar a vida, e vivenciar a dor de ser expulso do útero.
2ª – Espírito do BEM, que por missão, por amor, resolve vir demonstrar, caso o aborto não se concretize, como o AMOR sempre vence!
Imagine ter um filho (mesmo vindo nessas condições) para o qual você tem um grande amor e igualmente se sente amada?
Joanna nos traz essa reflexão em Após a Tempestade, nesse mesmo capítulo que já citamos:
“Examinando-se ainda a problemática do aborto legal, as leis são benignas quando a fecundação decorre da violência pelo estupro... Mesmo em tal caso, a expulsão do feto, pelo processo abortivo, de maneira nenhuma repara os danos já ocorridos...
Não raro, o Espírito que chega ao dorido regaço materno, através de circunstância tão ingrata, se transforma em floração de bênção sobre a cruz de agonias em que o coração feminil se esfacelou...”
Conclusão
Quando uma mulher tem um filho, qual o termo que se usa? ==> Dar a luz!
==> No aborto, “apaga-se” a luz! E a mãe, se apaga junto, pois ninguém fica ileso de um assassinato desses, contra um ser que não tem voz, que não consegue se defender...
Ninguém nasce para ser abortado!
Mas se for um Espírito com dívidas no contexto da desvalorização da vida, sabe ao reencarnar, que existe esse risco, essa possibilidade. (LE, perg. 258)
Em todos os casos, importante reforçarmos a questão da visão espírita, e não materialista, das situações da vida, mas sem julgar a atitude de quem quer que seja!
Só Deus conhece todos os escaninhos da alma humana!
==> ESE cap. X Misericordiosos, Itens 11 e 13 :Não julgueis para não serdes julgados
Importante ver todos os envolvidos com essa questão (homem, mulher/jovem/criança, Espírito reencarnante, profissional que pratica o aborto, profissionais da justiça (no caso de processos para permitir ou não o aborto), com a visão da imortalidade, e da fraternidade!
Somos todos filhos de Deus, em experiências reencarnatórias!
E se alguém já fez o aborto? Não julgarmos!
E quem fez o aborto, se auto perdoar!
Que diferença podemos ver entre o despertar de Cesar Augusto, do livro Céu Azul e o de Joana?
==> ele acordou bem, sem as dores da doença que o levou a desencarnação, já no hospital, cercado por Espíritos amigos, e em paz!
==>Joana voltou antes da hora, e prejudicando outro ser, que seria um filho amado… Não cumpriu o planejamento reencarnatório.
Discussão sobre o cap. 15 do livro Céu Azul.
Falamos rapidamente sobre esse capítulo.
Exercícios de respiração lenta e profunda e prece final.
Avaliação
Encontro com 9 jovens. Ficaram meio que em choque com a psicografia do relato de Joana, “principalmente porque é um caso real”!. Ficou um silêncio pesado após a leitura da psicografia.
Reforcei a visão sob o ponto de vista do reencarnante que de modo geral, ninguém observa. Também reforcei a questão da posição bem clara da DE com relação ao aborto, e que não falamos de julgamento de quem quer que seja, mas sim, de acolhimento.
Não lembravam ao certo em quais situações a legislação brasileira permitia o aborto, e como nos outros anos, trouxeram a questão da gravidez em caso de abuso sexual, principalmente em meninas menores de 14 anos.
Perguntaram se em alguma situação a gravidez “precoce” poderia estar planejada.
Houve uma certa dúvida na questão de quem era a responsabilidade pelo aborto, se Joana ou o namorado.
ANEXOS
Subsídios doutrinários:
Livro dos Espíritos
Perg. 345. É definitiva a união do Espírito com o corpo desde o momento da concepção? Durante esta primeira fase, poderia o Espírito renunciar a habitar o corpo que lhe está destinado? R: “É definitiva a união, no sentido de que outro Espírito não poderia substituir o que está designado para aquele corpo. Mas, como os laços que ao corpo o prendem são ainda muito fracos, facilmente se rompem e podem romper-se por vontade do Espírito, se este recua diante da prova que escolheu. Em tal caso, porém, a criança não vinga.”
Perg. 258. Quando na erraticidade, antes de começar nova existência corporal, tem o Espírito consciência e previsão do que lhe sucederá no curso da vida terrena?
“Ele próprio escolhe o gênero de provas por que há de passar, e nisso consiste o seu livre-arbítrio.”
Perg. 260. Como pode o Espírito desejar nascer entre gente de má vida?
“Forçoso é que seja posto num meio onde possa sofrer a prova que pediu. Pois bem, é necessário que haja analogia. Para lutar contra o instinto do roubo, preciso é que se ache em contato com gente dada à prática de roubar.”
Perg. 264. Que é o que dirige o Espírito na escolha das provas que queira sofrer?
“Ele escolhe, de acordo com a natureza de suas faltas, as que o levem à expiação destas e a progredir mais depressa. Uns, podem, portanto, impor a si mesmos uma vida de misérias e privações, objetivando suportá-las com coragem; outros preferem experimentar as tentações da riqueza e do poder, muito mais perigosas, pelos abusos e má aplicação a que podem dar lugar, bem como pelas paixões inferiores que uma e outro desenvolvem; outros, finalmente, se decidem a experimentar suas forças nas lutas que terão de sustentar em contato com o vício.”
Comentário de Kardec à perg. 166:
Assim, pois, o Espírito pode escolher prova muito rude e, conseguintemente, uma angustiada existência, na esperança de alcançar depressa um estado melhor, como o doente escolhe muitas vezes o remédio mais desagradável para se curar de pronto.
Perg. 348. Sabe o Espírito, previamente, que o corpo de sua escolha não tem probabilidade de viver?
“Sabe-o algumas vezes; mas se nessa circunstância reside o motivo de sua escolha, isso significa que está fugindo à prova.”
Peerg. 349. Quando falha por qualquer causa a encarnação de um Espírito, é ela suprida imediatamente por outra existência?
“Nem sempre o é imediatamente. Faz-se mister dar ao Espírito tempo para proceder a nova escolha, a menos que a reencarnação imediata corresponda a anterior determinação.”
Perg. 357. Que consequências tem para o Espírito o aborto? “É uma existência nula, a ser recomeçada.”
E o que diz a legislação brasileira:
https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del2848compilado.htm
DECRETO-LEI No 2.848, DE 7 DE DEZEMBRO DE 1940
Aborto provocado pela gestante ou com seu consentimento
Art. 124 - Provocar aborto em si mesma ou consentir que outrem lho provoque
Aborto provocado por terceiro
Art. 125 - Provocar aborto, sem o consentimento da gestante:
Art. 126 - Provocar aborto com o consentimento da gestante
Aborto necessário
I - se não há outro meio de salvar a vida da gestante;
Aborto no caso de gravidez resultante de estupro
II - se a gravidez resulta de estupro e o aborto é precedido de consentimento da gestante ou, quando incapaz, de seu representante legal.
E a decisão sobre os anencéfalos, de 2012:
https://portal.stf.jus.br/processos/detalhe.asp?incidente=2226954
12/04/2012 – Procedente - TRIBUNAL PLENO
Decisão:
O Tribunal, por maioria e nos termos do voto do Relator, julgou procedente a ação para declarar a inconstitucionalidade da interpretação segundo a qual a interrupção da gravidez de feto anencéfalo é conduta tipificada nos artigos 124, 126, 128, incisos I e II, todos do Código Penal, contra os votos dos Senhores Ministros Gilmar Mendes e Celso de Mello que, julgando-a procedente, acrescentavam condições de diagnóstico de anencefalia especificadas pelo Ministro Celso de Mello; e contra os votos dos Senhores Ministros Ricardo Lewandowski e Cezar Peluso (Presidente), que a julgavam improcedente. Impedido o Senhor Ministro Dias Toffoli. Plenário, 12.04.2012.
Carta de Joana
“Socooooorro! Socoooooooooorro! Socorro...”
Esses gritos ecoavam em minha cabeça. Muita confusão mental. O que estava acontecendo afinal? “Não me tirem daqui, não quero sair... Socorro mamãe, socorro...” “Meu Deus, o que está acontecendo comigo?” — perguntava a mim mesma. Acordei como se estivesse em pleno pesadelo. Mas o pior ainda estava por vir. Estava num lugar horrível, com um monte de gente maltrapilha à minha volta. Um cheiro estranho e forte entrava pelas minhas narinas e me causava náuseas, mas não conseguia colocar nada para fora.
Novamente os gritos na minha cabeça, mas de onde viriam? Enquanto pensava nisso, comecei a sentir uma dor incrível no baixo ventre, como se estivessem arrancando algo de dentro de mim. Foi quando me dei conta de que meu namorado me havia levado para uma clínica e eu estava desconfiada que era para realizar um aborto. Mesmo a contragosto fui, pois não queria perdê-lo. “Deus, o que aconteceu? O que está acontecendo comigo? Onde está Philipe, meu namorado? Por que ele me deixou aqui, sozinha?” Os questionamentos eram muitos e ininterruptos, todos ao mesmo tempo, somando-se aos gritos que ecoavam no mais íntimo do meu ser.
Enquanto minha cabeça ardia em dores, febre e tamanha confusão, umas pessoas esquisitas se aproximaram e falaram: “Você virá conosco. Agora nos pertence.” Sem saber direito o que estava acontecendo, quis correr, mas não consegui; quis reagir, mas não tive forças; fiz menção de gritar por socorro, mas não consegui. Eu estava como que anestesiada e sem possibilidade de movimentar-me.
Os gritos, os risos e o sarcasmo daqueles seres monstruosos me causavam pânico. Pensei: “Jesus, onde o Senhor está que não me ampara? Ajude-me!” Nesse instante, uma luz fez-se à frente, e seres iluminados se aproximaram, espantando aqueles monstros horrorosos que tentavam me levar. Uma mão foi colocada em minha fronte e nada mais vi.
Adormecida, fui levada para algum local. Ao acordar, ao meu lado, estava uma bondosa enfermeira que, com seriedade, perguntou se eu estava me sentindo bem. Respondi que sim e perguntei há quanto tempo estava ali. Ela respondeu-me que já fazia um tempinho. Disse ainda que eu tinha uma visita e que essa pessoa já estava me aguardando há algum tempo. Perguntou se eu estava preparada para recebê-la. Respondi que sim, mas antes gostaria de saber o que havia acontecido comigo. A enfermeira me interrompeu dizendo que, quando a visita entrasse, eu iria entender tudo.
A enfermeira saiu e, pela porta, entrou minha amada mãezinha. O pranto foi inevitável e, de fato, eu entendi tudo: eu havia desencarnado. Isso mesmo, rever minha mãe era sinal de que eu não estava mais na Terra, visto que a perdera quando ainda tinha 9 anos de idade. Um abraço forte marcou aquele momento cercado de ternura e amor. Um misto de felicidade e tristeza tomou conta do meu ser: felicidade por reencontrar minha amada mãezinha e tristeza por perceber que havia retornado à pátria espiritual bem mais cedo que deveria. Eram esses os meus sentimentos.
Nossa conversa iniciou-se com amenidades, para que eu recobrasse o equilíbrio necessário. Perguntei à minha mãe sobre o ocorrido e ela me disse que eu sairia do hospital brevemente, visto que estava bem melhor. Falou-me docemente que, em breve, conversaríamos e tudo seria esclarecido.
Em poucos dias deixei o leito do hospital e, junto à minha querida mãezinha, desloquei-me para a cidade espiritual mais próxima àquele pronto-socorro, onde fui atendida. Na chegada, fomos conduzidas a um pequeno edifício de salas amplas e corredores iluminados, por onde passamos, até chegarmos à penúltima sala, onde fomos recebidas por um homem sério e compenetrado. Cumprimentamo-nos, e ele disse em tom informal: “Soube que você tem muitas perguntas precisando de respostas, isso é verdade?” “Sim”, respondi. “Tenho muitas questões que precisam ser esclarecidas, embora eu já preveja as respostas a algumas delas.”
O benfeitor olhou-me seriamente e disse: “Esperávamos muito de você. Investimos muito em você. Tem consciência disso, não tem?” Constrangida, respondi que sim. “Em seu programa reencarnatório, constava que nasceria em família espírita, que receberia toda a educação moral de que necessitava e que, aos 9 anos de idade, perderia sua mãe que já completara sua tarefa junto a você.” E ele continuou: “Assim ocorreu e, depois da desencarnação de sua mãe, seu pai assumiu as rédeas da família. Você permaneceu na casa espírita, onde, aos 14 anos, iniciou atividades junto à evangelização das crianças. Seu trabalho junto a esses pequeninos foi muito bem realizado, e todos gostavam muito de sua atuação, desde os pequeninos até os dirigentes da casa. Lembra de tudo isso?” Mais uma vez, respondi timidamente que sim.
Pausadamente o benfeitor ia passando as informações, destacando episódios da vida, enquanto eu revivia as cenas em minha tela mental. Prosseguindo, ele acrescentou: “Eis que chega o momento de sua prova, quando reencontra seu parceiro de outras vidas, que, nessa última existência, atende pelo nome de Philipe, e novamente se envolvem, remontando a um passado recente. Você tem claro em sua mente que esse envolvimento poderia ter sido diferente, certo?” Apenas balancei a cabeça, concordando. “Você sabia que a gravidez deveria ter sido evitada, mas não se protegeu. Você sabia que, em sua última existência, já passara por processo parecido e que deveria evitar recair nesse erro. Embora a gravidez fosse o plano para o futuro, mais uma vez vocês anteciparam. O que fazer numa situação dessas? Seu amado mais uma vez a convenceu de que o melhor era fazer o aborto. Não precisa me dizer que você foi levada àquela clínica sem saber o que iria acontecer, porque você sabia. Intimamente, você sabia. Estou mentindo?” Aos prantos balbuciei que não. “Pois é, minha cara, a história se repete. E agora?”
Eu estava em frangalhos, não parava de chorar. Tinha consciência de que havia recebido uma oportunidade única e que havia desperdiçado. O que fazer agora? Como iria ficar de agora em diante? “O que será de mim?” — questionei-me. “Como vai ser de agora em diante? As cobranças irão ser maiores por parte dos nossos mentores.” Mas, interrompendo essa linha de pensamento, o companheiro bondosamente disse: “Não, querida, a cobrança não é de nossa parte. A cobrança é de sua consciência. A cobrança também é desse companheiro que mais uma vez você rejeitou, impossibilitando sua encarnação.”
Em desespero, disse que voltaria à Terra e o receberia de qualquer maneira, mas o benfeitor, sabiamente, retomou a palavra e disse, em tom esclarecedor: “Não, minha filha, você não está em condições de executar tal tarefa. Esse aborto causou sérios danos ao seu corpo físico, causando sua desencarnação, e, como consequência, tais ações danificaram seu corpo perispiritual. De agora em diante, iniciaremos uma longa jornada para que possa recompor o organismo que plasma o corpo físico.”
Chorei como nunca, sendo acalentada por minha mãe que permanecia ao meu lado, amparando-me. Após uma pausa para me acalmar, perguntei ao benfeitor a razão pela qual estava ali, se meu lugar não seria o umbral, onde eu acordara depois da desencarnação. Nosso amigo disse que, embora eu tivesse cometido grave erro e existissem muitos companheiros que me queriam em zonas umbralinas, tinha a meu favor algumas conquistas. Questionei que conquistas seriam essas e por que razão eu estava sendo tão bem amparada.
Após esse questionamento, pude de fato perceber a bondade e a justiça de Deus a se manifestar, pois tudo Ele aproveita. Uma tela à minha frente se abriu e algumas imagens começam a aparecer, momento em que minha mãe sussurrou ao meu ouvido: “Veja minha filha!” Eram cenas diversas de quando eu evangelizava as criancinhas na casa espírita. Uma compilação de vários momentos, finalizando com uma homenagem póstuma que as criancinhas fizeram a mim, logo após minha desencarnação.
O benfeitor amigo, então, destacou: “É por elas que você aqui está. Estamos atendendo aos pedidos dessas crianças que, diariamente, lembram-se de você em suas preces.” “E agora?” — perguntei. “Agora começaremos nova jornada. Você voltará para os bancos de estudo e retomará uma série de leituras, preparando-se para uma nova existência. Como forma de reparar os danos ao perispírito, nessa nova vida, provavelmente, você não poderá ter filhos e deverá se dedicar aos filhos alheios. Enquanto isso, iremos trabalhar juntos, para trazer de volta o amigo que tanto a ama, mas que, por ora, traz o ódio em seu íntimo, por lhe ter sido negada a oportunidade de reencarnar. Uma nova jornada se inicia, mas não tenha dúvidas, o processo não será nada simples.”
Fui encaminhada para o lar de minha mãezinha, que irá me acompanhar em toda essa fase, ajudando-me a superar as dificuldades que serão muitas. Toda vez que o companheiro que seria meu filho, e que não o recebi, grita por justiça, sinto dores horrendas na minha alma e ainda choro por isso. Mas com a certeza de que a vida continua, estou trabalhando junto a crianças, para que eu possa, um dia, reerguer-me e fazer cumprir o planejamento que estamos realizando. Em breve estarei com vocês, na condição de criança encarnada por aí. Espero ser recebida de braços abertos por vocês. Espero encontrar uma casa que acolha meu coração e que oriente minha alma, pois necessito muito disso.
Jovens queridos, abracem a causa do bem, evangelizando almas e amparando corações. Meu agradecimento, meu abraço e meu carinho a todos.
Joana
(Mensagem psicografada pelo médium Edmar Reis Thiengo, no dia 4/12/2012.)
autores, Diversos. Juventude Interrompida: Relatos e alertas dos jovens do além (Portuguese Edition) (pp. 31-36). Casa Editora O Clarim. Edição do Kindle.
Diga “sim” à incessante viagem da vida
Luciana Moura
Pedro vinha há tempos se preparando para fazer uma viagem. Não uma viagem qualquer, mas, sim, a mais importante de sua vida! Daquelas que alguém fica anos esperando, sonhando, imaginando... Daquelas que, quando finalmente acontece, você pessoalmente organiza e planeja cada pequeno detalhe para que não exista a menor possibilidade de que algo saia errado. Se você também sonha com uma viagem assim, pode imaginar a ansiedade que tomou conta de Pedro quando, finalmente, se confirmou a data do seu embarque!
Muitos acordos foram feitos entre ele e os motoristas que o levariam ao seu destino. Eles já se conheciam havia muito tempo e acertaram tudo sobre o período que passariam juntos durante o trajeto e também depois dele, pois a convivência seria longa. E falando em tempo, como a viagem duraria alguns anos, Pedro se preocupou com todas as atividades que faria lá, chegando, inclusive, a realizar alguns cursos para se preparar melhor para o que viesse pela frente. Não queria, mesmo, que qualquer coisa pudesse dar errado. Também fez muitas pesquisas e procurou guardar na memória todas as informações que seriam úteis para o tempo de permanência em seu destino.
E assim foi se aproximando o dia de sua partida!
Nas noites anteriores ao embarque, Pedro sentiu dificuldade até para dormir. “Imagina quando chega o grande dia?” — ele pensava. Realmente, nesses momentos Pedro não conseguia mais nem relaxar, imaginando o embarque, a viagem e a chegada ao destino tão esperado! Os minutos custavam a passar e seu coração batia cada vez mais acelerado, esperando...
Até que... o grande dia chegou!
Seus amigos mais queridos foram despedir-se dele, afinal, ficariam muito tempo sem se ver e a saudade seria inevitável. Sabe o que foi mais legal? Rolou até uma festa surpresa de despedida! Muitas lágrimas também rolaram... um misto de antecipação da ausência e ao mesmo tempo insegurança de sua parte, afinal, por mais que ele se tivesse preparado, não sabia dos imprevistos que iria encontrar pela frente.
Para dar mais força a ele, diversos corações amigos foram à sua despedida e abraçaram carinhosamente “Pepê” (como era chamado pelos mais íntimos). Até cartazes e faixas eles preparam com mensagens de otimismo! Foi mesmo uma grande festa e Pedro ficou feliz de verdade. Mais do que isso, Pedro sentiu em seu coração que tudo daria certo!
Depois de muitos abraços, promessas, votos de felicidade e despedidas, Pedro finalmente acenou aos seus amigos, respirou fundo e se dirigiu ao veículo que veio buscá-lo para que a grande viagem começasse. Antes de entrar nele, Pedro cumprimentou com carinho os dois condutores. Tudo já estava acertado entre eles, mas ainda assim reafirmaram mutuamente os compromissos que assumiram quando planejaram os detalhes do programa.
O caminho era longo e Pedro tentou acomodar-se o melhor que pôde dentro do carro. No balancinho gostoso da viagem ele foi sonhando, idealizando, contando quanto tempo ainda faltava para chegar. Ficou sonolento, até cochilou um pouco. Distraiu-se pensando no rosto das pessoas que iria encontrar ao chegar e quase não reparou quando os condutores pararam o transporte. Procurou encontrar o olhar dos motoristas pelo retrovisor, mas não conseguiu estabelecer com eles qualquer conexão. Ele, então, perguntou em voz alta qual era o problema, mas parecia que ninguém o ouvia mais.
Pedro só tinha certeza de que aquele não era o combinado; aquela parada não estava prevista. Ainda sem entender o que estava acontecendo, reparou, surpreso, que o veículo começou a realizar uma série de manobras que indicava estar entrando em sentido contrário ao seu destino final. Sem acreditar, ele viu a embarcação assumir a posição de retorno ao ponto de partida. Falando ainda mais alto, quase aos gritos, Pedro tornou a perguntar o que estava acontecendo. Novamente seus motoristas ignoraram suas indagações. Ele se agitou no banco traseiro, começou a bater no vidro que o separava da frente, mas, por mais barulho que fizesse, era como se ninguém o ouvisse.
O veículo assumiu uma velocidade expressiva, e o caminho de volta foi sendo realizado sem que Pedro conseguisse ao menos enxergar a paisagem do entorno. Lágrimas de frustração turvavam ainda mais sua visão, os soluços brotavam de sua garganta e ele só conseguia gritar e chorar. Nem assim havia qualquer reação de seus condutores. Ao chegar ao ponto de partida, os dois simplesmente abriram a porta, ajudaram Pedro a descer do veículo, disseram — como em uma justificativa — que mudaram de ideia e partiram, tão rápido quanto foi possível.
Pedro, de repente, viu-se só. Olhou em volta e viu sua vida esvaziar-se. Sentiu que todos os seus sonhos, planos, tudo aquilo que há tempos esperava realizar se havia perdido. A mudança de ideia de seus dois condutores na grande viagem, Joana e Philipe, havia provocado a destruição de todas as suas esperanças por uma vida melhor, repleta de novos significados. Sozinho, caindo de joelhos, no auge no desespero, Pedro só conseguia gritar:
“Socooooorro! Socoooooooooorro! Socorro...”
autores, Diversos. Juventude Interrompida: Relatos e alertas dos jovens do além (Portuguese Edition) (pp. 36-39). Casa Editora O Clarim. Edição do Kindle.
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