domingo, 22 de setembro de 2024

Livro Voltei - Resumo

 Voltei (Virada Cultual CEEFA - Set/2024)


Frederico Figner adota o pseudônimo de irmão Jacob pelas mãos de Chico Xavier.

Wikipedia

(Milevsko, 2 de dezembro de 1866 - Rio de Janeiro, 19 de janeiro de 1947), foi um empresário e jornalista nascido na Boêmia, atual República Tcheca, que atuou como pioneiro da indústria fonográfica brasileira, no comércio de máquinas de escrever e outros utensílios de escritório, tendo sido também um importante membro do movimento espírita brasileiro, em termos de apoio material, trabalho caritário e como autor de textos em defesa do Espiritismo durante mais de 30 anos.


Com 15 anos, partiu como emigrante para Bremershaven, de onde, a bordo do vapor "Main", como passageiro de terceira classe, rumou para os Estados Unidos da América, levando apenas o dinheiro para a travessia. Ainda muito jovem e buscando ampliar seus horizontes, chegou ao país no momento em que Thomas Edison estava lançando comercialmente um aparelho que registrava e reproduzia sons por intermédio de cilindros giratórios.

Fascinado pela novidade, adquiriu um desses equipamentos, alguns quilos de cera e vários rolos de gravação, embarcando com sua preciosa carga em um navio rumo a Belém do Pará, onde chegou em agosto de 1891, sem conhecer uma única palavra do Português.

Passou por Manaus, Fortaleza, Natal, João Pessoa, Recife e Salvador antes de chegar ao Rio de Janeiro, em abril de 1892, já falando e entendendo um pouco do idioma português e com um razoável quantia de dinheiro. Na Cidade Maravilhosa, Figner viria a abrir em 1900 a Casa Edison, em um sobrado da rua Uruguaiana, onde importava e comercializava os primeiros aparelhos de reprodução sonora e os primeiros fonógrafos.


A mansão Figner

Fred Figner era um homem à frente do seu tempo e, para coroar o sucesso nos negócios, decidiu erguer uma residência que espelhasse seu perfil empreendedor. A hoje conhecida Mansão Figner, no Flamengo, abriga o Centro Cultural Arte-Sesc e o restaurante Bistrô do Senac. É considerada um exemplo arquitetônico raro de “casa burguesa do início do século 20” . Figner utilizou-a como hospital, em 1918, durante a pandemia conhecida como Gripe Espanhola. Apesar dele próprio estar acometido pela enfermidade, atuou como um prestativo auxiliar de enfermagem, transformando seu palacete em uma improvisada enfermaria de campanha que chegou a abrigar quatorze pacientes em seu interior.


Retiro dos Artistas

Fred era um homem generoso e solidário. Pela própria natureza do trabalho nas suas duas gravadoras havia se tornado amigo de muitos músicos e cantores de sucesso. Em uma época que antecedeu à criação da Previdência, ficou consternado com a situação de penúria que alguns desses artistas tinham de enfrentar ao chegar à velhice. Sensibilizado com esse verdadeiro drama social, não titubeou e decidiu doar o terreno, em Jacarepaguá, para a construção da modelar instituição Retiro dos Artistas, que funciona até os dias de hoje.


Relação com o Espiritismo

Nos últimos anos do século XIX, Frederico Figner teve o primeiro contato com o espiritismo durante suas conversas com seu cliente Pedro Sayão, filho de Antônio Luís Sayão, famoso doutrinador espírita do final do século. Não deu muita importância ao que ouvia até o momento em que presenciou alguns casos de cura e de benefícios promovidos pelo espiritismo. Trabalhou incessantemente na Federação Espírita Brasileira até pouco antes de morrer, atendendo a doentes que procuravam a instituição procurando por tratamento espiritual.


Livro VOLTEI (Fev/1948)


ÍNDICE

A luta continua

1. De volta


Dificuldade No Intercâmbio

Ponderações Necessárias

Primeiras Visitas

Tentativa e Aprendizado

2. À frente da morte


Preparativos

Modificação

No Grande Desprendimento

Minha Filha

3. Em pleno transe


O Salmo 23

Recebendo Socorro

Em Posição Difícil

Entre Amigos Espirituais

4. Vida nova

Repouso Breve

Impressões Diferentes

Surpreendido

De Retorno A Casa

5. Despedidas


Atenções Perturbadoras

Desligado Enfim

Em Dificuldades

Ante A Necrópole

6. A passagem


Na Expectativa Inquietante

Entre Companheiros

O Aviso De Bezerra

A Partida

7. Incidente em viagem


Atravessando Sombria Região

Nova Advertência

A Ponte Iluminada

Em Oração

8. A chegada


Na Paisagem Diferente

Reencontro Emocionante

Velhos Amigos

Em Repouso

9. Esclarecimentos


Reanimado

O Repouso Além Da Morte

Recebendo Explicações

O Problema Do Esquecimento

10. Nova moradia espiritual


Comentários Fraternos

Na Intimidade Do Lar

O Parque De Repouso

Reencontrando A Mim Mesmo

11. A luta prossegue


Organização Educativa

Ambiente Novo

O Magnífico Santuário

Fenômenos Da Sintonia Espiritual

12. Entre companheiros


Visitas Fraternas

Opinião Autorizada

Informações Da Luta Espiritual

Noite Divina

13. Revendo círculos de trabalho


Observações Na Crosta

Cortando A Via Pública

Aula De Preparação Espiritual

Nos Serviços De Doutrinação

14.Excursão Confortadora


Amparo Final

Viagem Feliz

Visita Significativa

A Palavra De Um Grande Benfeitor

15.No Templo


Em Preparo

Em Pleno Santuário

Nova Família De Serviço

Momentos Divinos

16. A palavra do companheiro

O Julgamento Em Nós Mesmos

Ante As Bênçãos Do Serviço

As Esquecidas Virtudes Da Iluminação Interior

Ao Fim Da Reunião

17.Na Escola de iluminação


Instituição Renovadora

Informações Úteis

Em Aprendizado

Conceitos De Uma Cartilha Preparatória

18. Ensinamento inesperado

Experimentação

Ante Um Espírito Perseguidor

Diálogo Surpreendente

Apontamento Salutar

19. A surpresa sublime


Reajustamento

Vivendo As Lições

Novo Despertar

Sábio Aviso

20. Retorno à tarefa

Conselho Fraterno

Ante Os Serviços Novos

Assembléia De Fraternidade

Recomeço

Nótulas da editora

Relativas A Algumas Das Personagens Citados Neste Livro.




1) Mensagem inicial de Jacob


A prática de alguns atos de solidariedade não nos tornam quitados com a Lei; o apoio de algum mentor amigo não nos conduz ao paraíso.


Jacob nos traz a importância de não sermos apaixonados pela ideia elevada, mas sim realizadores dela no mundo. E nos deixa um alerta:


É para vocês, membros da grande família espírita que tanto desejei servir, que grafei estas páginas sem a presunção de convencer. Não se acreditem quitados com a Lei, atendendo pequeninos deveres de solidariedade humana e nem se suponham habilitados ao paraíso, por receberem a manifesta proteção de um amigo espiritual. Ajudem a si mesmos, no desempenho das obrigações evangélicas! Espiritismo não é somente a graça recebida, é também a necessidade de nos espiritualizarmos para as esferas superiores.“


2) Desejo de relatar a desencarnação e as dificuldades do intercâmbio mediúnico [Capítulo 1 - De volta]


Por mais que os Espíritos desejem, a mensagem transmitida depende da cooperação do médium, que nem sempre está bem preparado para esse trabalho.


Quando se me esvaía a resistência orgânica, formei o projeto de endereçar-lhes um correio de amigo, logo que a morte me arrebatasse.


Mas, o serviço não é tão fácil quanto parece à primeira vista. Podemos certamente visitar amigos e influenciá-los; todavia, para isso, copiamos o esforço dos profissionais da telepatia.


. Por vezes, a deficiência do receptor, aliada às múltiplas ondas que o cercam, impede a consumação de nossos propósitos. Se o instrumento de intercâmbio permanece absorto nas preocupações da luta comum, é difícil estabelecer a preponderância de nossos desejos.


Venho recebendo agora preciosas lições, quanto a isto, porque cheguei à leviandade de prometer a mim mesmo que prosseguiria, depois do sepulcro, a corresponder-me regularmente com os leitores de minhas páginas doutrinárias.


As primeiras visitas que efetuei, junto aos núcleos doutrinários, verificaram-se justamente no Rio.


As casas espiritistas, em função de estudo e socorro, eram verdadeiras colméias de entidades desencarnadas. Algumas, em serviço de benemerência evangélica; outras, e em número imenso, vinham à cata de alívio e esclarecimento, a lembrar-nos multidões de acidentados às portas dos hospitais de emergência.


Depois de variadas experiências, vim a Pedro Leopoldo pela primeira vez, após a libertação. Como se me afigurou diferente o grupo que eu visitara, em agosto de 1937...


(...) Rompi as conveniências e pedi a colaboração do supervisor da casa, embora o respeito que a presença dele me inspirava. Não me recebeu o pedido com desagrado.

Tocou-me os ombros, paternalmente, e acentuou, esquivando-se:

-Meu bom amigo, é justo esperar um pouco mais. Não temos aqui um serviço de mero registro. Convém ambientar a organização mediúnica. A sintonia espiritual exige trato mais demorado.

Lembrei-me, então, imperfeito e egoísta que ainda sou, de Ande Luiz. Ele não fora espiritista; no entanto, começara, de pronto, o noticiário do “outro mundo”.

-Não julgue que André Luiz haja alcançado a iniciação, de improviso. Sofreu muito nas esferas purificadoras e frequentou-nos a tarefa durante setecentos dias consecutivos, afinando-se com a instrumentalidade. Além disto, o esforço dele é impessoal e reflete a cooperação indireta de muitos benfeitores nossos que respiram em esferas mais elevadas.



3) Sensações frente a desencarnação [Capítulo 2 - À frente da morte]


O Irmão Andrade, Espírito benemérito dedicado à Medicina, com quem tive a alegria de colaborar alguns anos, recomendara absoluto repouso e tão insistente se fizera o conselho que fui obrigado a abandonar as últimas atividades doutrinárias.

O repouso físico, porém, agravava-me a preocupação mental.

- “Velho Jacob – proclamavam no fundo -, você agora deixará as ilusões da carne. Viajará de regresso à realidade. Prepare-se. Que possui na bagagem? Não se esqueça de que a justiça tudo vê, tudo ouve, tudo sabe”.


A fé preparava-me o espírito, ante a grande transição; todavia, os receios avultavam, as preocupações cresciam sempre.


Estimava a pregação da caridade, convicto, porém, de que a energia seca era indispensável nas relações humanas.

Muita vez, na intimidade de companheiros encarnados e entidades desencarnadas, sentira-me ríspido, contundente.

Fazia frequentemente o possível por não desmerecer a confiança dos que me estimavam, entretanto, nem sempre sabia ser doce na extensão da personalidade.

Prostrado agora; inesperada sensibilidade passou a dirigir-me.


Não me era mais possível governar o leme do barco material e esse impositivo,ao que me pareceu, proporcionava-me acesso a mim mesmo.

Afetava-me a necessidade de ternura e compreensão, como se naquelas horas estivessem ingressando na idade juvenil.


Nas últimas trinta horas, reconheci-me em posição mais estranha. Tive a ideia de que dois corações me batiam no peito.

Observei que frio intenso veio ferir-me as extremidades. Não seria a integral extinção da vida corpórea?

Procurei acalmar-me, orar intimamente e esperar. Após sincera rogativa a Jesus ara que me não desamparasse, comecei a divisar à esquerda a formação de um depósito de substância prateada, semelhante a gaze tenuíssima...

Qual se estivesse sofrendo melindrosa intervenção cirúrgica, sob máscara pesada; ouvi alguém me confortar: “Não se mexa! Silêncio! Silêncio!...”.

Conclui que o término da resistência orgânica era questão de minutos.


Observando-me relegado às próprias obras (por que não confessar?), senti-me sozinho e amedrontei-me. Enforcei-me por gritar, implorando socorro, porém, os músculos não mais me obedeceram.

Busquei abrigar-me na prece, mas o poder de coordenação escapava-me.

Em meio do suor copioso lobriguei minha filha Marta a estender-me os braços. Estava linda como nunca. Intensa alegria transbordava-lhe do semblante calmo. Avançou, carinhosa, enlaçou-me o busto e falou-me, terna, aos ouvidos:

- “Agora, paizinho, é necessário descansar”.


4) Desprendimento do corpo físico [Capítulo 3 - Em pleno transe]


Assombrado, vi-me em duplicata.

Eu, que tanta vez exortara os desencarnados a contemplarem os despojos de que já se haviam desvencilhado, fixei meu corpo a enrijecer-se, num misto de espanto e amargura.

A contemplação do corpo imóvel, não obstante aguçar-me o propósito de observar e aprender, era-me aflitiva. O cadáver perturbava-me com as sugestões da morte, impunha reflexão desagradável e amarga. À distância dele, provavelmente a ideia de vida e eternidade prevaleceria, dentro de mim.

Marta entendeu o que eu não podia dizer. Fez-se mais terna e explicou-me:

- “Tenha calma, papai. Os laços não se desfizeram totalmente. Precisamos paciência por mais algumas horas”.

Alongando o raio de meu olhar, verifiquei a existência de prateado fio, ligando-me o novo organismo à cabeça imobilizada.

Torturante emoção apossou-se de mim.

Eu seria o cadáver ou o cadáver seria eu?

Meu objetivo, agora, era não pensar.

Avançava-se no futuro, estranhas vertigens me assediavam; se me demorava analisando o veículo físico, vigoroso e inesperado impulso me reconduzia para ele.

Que fazer de mim, reduzido a minúsculo ponto sensível entre duas esferas?

Aquietei-me e orei.

Rogando a Jesus me auxiliasse a encontrar o melhor caminho, observei que minha capacidade visual se dilatava.

Ambos os presentes se destacaram nítidos.

Que alegria me banhou o ser!

Numa deles, identifiquei sem obstáculos, o venerável Bezerra de Menezes e , no outro, adivinhei o benemérito Irmão Andrade.

Todavia, meu júbilo do primeiro instante foi substituído pela timidez. Enquanto nos debatemos na lida material, quase nunca nos recordamos de que somos seguidos pelo testemunho do plano espiritual, nos mínimos atos da existência. Falamos, com referência aos Espíritos, com a desenvoltura das crianças que se reportam aos pais a propósito de insignificantes brinquedos. Senti-me repentinamente envergonhado.


(...) explicou-me Bezerra que o processo liberatório corria normal, que me não preocupasse com as delongas, porque a existência que eu desfrutara fora dilatada e ativa. Não era possível – disse, bondoso – efetuar a separação de organismo espiritual com maior rapidez. Esclareceu também que o ambiente doméstico estava impregnado de certa substância que classificou por “fluídos gravitantes”, desfavorecendo-me a libertação.

Mais tarde vim a perceber que os objetos de nosso uso pessoal emitem radiações que se casam às nossas ondas magnéticas, criando elementos de ligação entre eles e nós, reclamando-se muito desapego de nossa parte, a fim de que não nos prendam ou perturbem.


5) Sono reparador e despertar no plano espiritual [Capítulo 4 - Vida Nova]


Irresistível desejo de dormir assaltou-me.

Envolvia-me vasto roupão claro, de convalescente.

Entreguei-me sem resistência e perdi a noção de espaço e tempo no sono abençoado e reparador.

Guardava a ideia de haver rejuvenescido. Toquei meu veículo novo. Eu era o mesmo, dos pés à cabeça.

Fascinava-me, porém, acima de tudo, o novo aspecto da paisagem.

Andava, sem grande desenvoltura; todavia, a lentidão de meus passos obedecia à inexperiência...

A dama atravessou-nos o grupo, sem dar conta de nossa presença.

O campo doméstico reclamava-me o espírito qual poderoso ímã. Entretanto, forças desconhecidas compeliam-me a retroceder.


Recomendou Bezerra ao Irmão Andrade e Marta me assistisse, enquanto cortaria o laço que de certa forma, ainda me retinha às vísceras cadavéricas.

O regresso a casa, com as surpresas de que se fazia acompanhar, trouxe-me penosas impressões.

Retornara a dispneia. Se o leito estivesse à minha disposição, nele buscaria, sem delonga, refúgio confortante.


6) Desligamento do cordão fluídico com o corpo físico [Capítulo 5 - Despedidas]


Amargurado e aflito qual me achava, ponderei os sofrimentos dos que abandonam a experiência física sem qualquer preparação. Se eu, que consagrara longos anos aos estudos espiritualistas, encontrava óbices tão grandes, que não correria aos homens comuns, que não cogitam dos problemas relativos à alma? Ali, à frente de meus próprios amigos, sentia-me num torvelinho de contraditórias sensações.

Mais alguns instantes escoaram difíceis, quando inopinado abalo me revolveu o ser. Supus haver sido projetado a enorme distância.

Confesso que o choque me assaltou com tão grande violência que julguei chegado o momento de “outra morte”.

Assistia, enfim, ao sepultamento de minhas vísceras cansadas.

Todo o local se enchia de gente desencarnada.

Recordemos a parábola e deixemos aos mortos o cuidado de enterrar os mortos.


7) A viagem para a colônia espiritual [Capítulo 6 - A passagem]


Posso hoje dizer que os elos morais são muito mais fortes que os liames da carne e, se o homem não se preparou, convenientemente, para a renúncia aos hábitos antigos e comodidades dos sentidos corporais, demorar-se-á preso ao mesmo campo de luta em que a veste de carne se decompõe e desaparece.


Onde se localizaria minha nova habitação?

Para onde me dirigiria?

Esclareceu-me Marta que outros desencarnados, carentes de amparo, se reuniam aí, esperando também oportunidade de se ausentarem dos círculos terrenos.

O Irmão Andrade, novamente conosco, notificou-me, delicado, que nem todos os socorridos se haviam desencarnado na véspera. Alguns permaneciam liberados desde alguns dias, mas não se apresentavam condições de seguir adiante, senão naquela noite formosa e pacífica. Asseverou que não era fácil abandonar, sozinho, sem maior experiência da espiritualidade superior, o domicílio dos homens. Inumeráveis entidades inferiores cercam os recém-libertos, tentando realgemá-los às sensações do plano físico.

A capacidade de volitar está intimamente associada à força mental, porque, após, sentida oração do supervisor, começamos a flutuar, acima do solo, guardando comigo a nítida impressão de que o vigoroso pensamento de Bezerra nos comandava.


8) Refletindo sobre merecimento da nova morada [Capítulo 7 - Incidente em viagem]


Não nos movimentáramos, por muito tempo, e um facho de luz sublime varreu o céu, não longe, indicando uma ponte cuja extensão não pude, no momento, precisar.

Tão formosa e tocante foi a revelação no horizonte próximo, que muitos nos pusemos em pranto. A emotividade não provinha apenas da claridade que nos tocara os olhos; comovente mensagem de amor transparecia daqueles raios brilhantes, que percorreram o firmamento, copiando a beleza dum arco-íris móvel.

Temor súbito vagueava-me n’ alma.

Teria cumprido com todos os meus deveres? Se constrangido a comparecer ante um tribunal da vida superior, estaria habilitado e apresentar uma consciência limpa de culpa? Como seriam meus atos examinados? Bastaria a boa intenção para justificar as próprias faltas?

Mereceria o ingresso naquele domicílio celestial?


9) Encontrando amigos da Doutrina na colônia espiritual [Capítulo 8 - A chegada ]


Movimentando-se ao nosso lado, os amigos que nos aguardavam, além do despenhadeiro, entoavam cânticos de júbilo. Não havia qualquer nota de tristeza nesses hinos de regozijo.


A que país, afinal fora eu arrebatado pela morte? Teria subido a Terra até ao Céu ou teria o Céu baixado para a Terra?

Em verdade, incoercível desejo de dormir, ampla e despreocupadamente, escravizava-me o sentido. As aflições de natureza física haviam terminado; todavia, certa fadiga sem dor me submetia inteiramente.


Meditando nas festividades cristãs dos tempos primitivos do Evangelho, notei que celeste bando de aves luminosas surgia longe, voando ao nosso encontro.

-Não são aves e, sim crianças....

Quase no mesmo instante, a assembleia de meninos particularizava-se.


-Jacob! Jacob!

Surpreendido, jubiloso, mal contendo o pranto de emotividade, desferi um grito de alegria. Eram Guillon e Cirne, Inácio Bittencourt e Sayão.

(...) uma casa iluminada, de graciosa configuração, se nos deparou aos olhos.

Marta, radiante, indicou o jardim, povoado de flores, murmurando:

-Enfim!

Ingressei na casa acolhedora, sob forte impressão de paz e ventura.

Difícil determinar se me achava, realmente, distante dos círculos terrestres. O ambiente doméstico era perfeito, não obstante mais acentuada beleza nos caracteres interiores. Tapetes, móveis, adornos e iluminação, eram mais belos e mais leves e, apesar de revelarem autêntico bom gosto, não exibiam notas de luxo.

Retratos pendiam das paredes estruturadas em substância semiluminosa.

E, sem saber como, entreguei-me ao repouso, encantado e feliz.


10) Esquecimento das encarnações anteriores [Capítulo 9 - Esclarecimentos]


Acordando do estranho torpor em que me afundara, não conseguiria dizer quanto tempo repousei. Não classificava por sono comum o estado diferente em que permanecera imobilizado. (...) Tratava-se de um repouso desconhecido. As imagens não vagueavam imprecisas, à feição do que acontece no sono vulgar, em que a pessoa; findo o sonho, é incapaz de qualquer consulta aos registros da memória.

Ali os quadros que se haviam sucedido, claros e firmes, demoravam-se amplamente marcados em minha recordação.

Revi naquela maravilhosa e inexplicável digressão da mente, afetos preciosos e abracei meus pais, viajando através de lugares desconhecidos...

Ao despertar, reencontrei o Irmão Andrade junto de mim.


Em poucos minutos, verifiquei, admirado, a necessidade de alimento.

Andrade explicou que o repouso para os desencarnados varia ao infinito.


Vivendo encarnados no Planeta quase dois bilhões de individualidades humanas, esclareceu o benfeitor que mais de um bilhão é constituído por Espíritos semicivilizados ou bárbaros e que as pessoas aptas à espiritualidade superior não passam de seiscentos milhões, divididas pelas várias famílias continentais.


Por que razão não lembrava o período anterior ao meu retorno à carne?

O Irmão Andrade ouviu-me sereno e informou que a reencarnação e a desencarnação constituem vigorosos e renovadores choques para o ser.

(...) na maior parte das vezes a reabsorção das reminiscências se verifica muito vagarosa e gradualmente, evitando-se perturbações destrutivas.



11) Julgamento dos atos – a própria consciência [Capítulo 10 - Nova moradia espiritual]


Pretendia rogar trabalho com aproveitamento de minhas possibilidades na ação útil, contudo, receava. Ignorava se minha pobre tarefa no mundo fôra aprovada pelos poderes superiores. E, no íntimo, eu não desconhecia os meus próprios erros.


Eu era, agora, um homem distanciado do leme. Asilara-me em outra embarcação e em outro mar, sob o patrocínio da generosidade alheia.


Irmão Andrade notificou que a minha colaboração seria examinada na primeira oportunidade, aconselhando-me, todavia, muita meditação e muita calma,...


Porque lhe perguntasse pelo julgamento de meus atos, respondeu que a morte não nos conduz a tribunais vulgares e, sim, à própria consciência, e que, dentro de mim mesmo, encontraria, de acordo com os conhecimentos evangélicos hauridos no mundo, os pontos vulneráveis do meu espírito, de maneira a corrigi-los.


Informou-me Marta de que ela recebera permissão das autoridades para hospedar-me ali, no grande parque de educação e refazimento em que trabalhava.

Incumbia-se de educar crianças, recentemente desencarnadas, em notável organização que visitei em seguida. Colaborava com diversos trabalhadores no auxílio aos pequeninos arrebatados à experiência carnal.


Esclareceu que os edifícios do parque não representavam propriedade particular. Eram patrimônios comuns; orientado pela administração central da coletividade.


(...) tive o contentamento de ver alguns pássaros marcados por peregrina beleza. Cantavam extáticos, quais se fossem minúsculos seres conscientes, glorificando a Divindade.

A plumagem luminosa impunha-me assombro.

Trinavam junto de nós, sem temer-nos. Disse-me, então, o amigo Andrade que os seres inferiores, onde quer que se encontrem, refletem, de algum modo, as qualidades dos seres superiores que os cercam...


Reparei o halo de luz que a envolvia e os traços brilhantes que cercavam o Andrade, fixando-me, em seguida, num demorado auto-exame.

Meu corpo espiritual jazia tão obscuro, quanto o veículo denso de carne.



12) Sobre as crianças na colônia e sobre sintonia espiritual com os afetos que ficaram na Terra [Capítulo 11 - A luta prossegue]


A instituição a que minha filha presta concurso ativo impressionou-me pela grandeza.

As crianças não encontrariam paraíso mais doce. Alguns irmãos e numerosas irmãs as orientam e educam com singular devotamento, preparando-as para a reencarnação na Crosta Planetária.


Diversos pequeninos traziam consigo formosos halos brilhantes.


Marta explicou-me que a instituição asila irmãozinhos desencarnados, entre sete a doze anos de idade, e, porque eu indagasse pelas crianças tenras, esclareceu Andrade que, para essas, quando se não trata de entidades excepcionalmente evoluídas, inacessíveis ao choque biológico da reencarnação, há lugares adequados, onde o tempo e o repouso lhes favorecem o despertar, a fim de que lhes não sobrevenham abalos nocivos.


Informou-me a filha de que as criancinhas não obstante viveram ali, em comunidade, dividem-se, no esforço educativo, por turmas afins. Caracterizam-se os grupos por variados graus de elevação espiritual e as classes se subdividem pelas aptidões e tendências, examinados os precedentes de cada uma.


Se o Espírito de ordem sublimada se desenfaixa dos laços da carne, quite com a lei que nos governa o destino, em período infantil, readquire, de pronto, as mais altas expressões da própria individualidade e ergue-se aos mais elevados planos.


Experimentei, porém, a maior surpresa quando me deu a conhecer a assembleia dos meninos-orientadores. São meninos e meninas de passado mais respeitável e por isso mesmo mais acessíveis aos ensinamentos edificantes da instituição.


(...) nos achávamos numa colônia espiritual de emergência, situada em planos menos elevados.


Passamos a extensa câmara destinada ao descanso, mas bastou que me entregasse à quietação para que certo fenômeno auditivo e visual me perturbasse as fibras mais íntimas.

Vi perfeitamente, qual se estivesse dentro de mim, às filhas queridas, então na Terra, e alguns poucos amigos, que deixara no mundo, dirigindo-me palavras de saúde e carinho.


Meu coração pulsou apressado. Como atender aos apelos?

Ia gritar, suplicando socorro. Todavia, o Irmão Andrade, mais prestativo e prudente que eu poderia supor, abeirou-se de mim e cientificou-me de que aquele era o fenômeno da sintonia espiritual, comum a todos os recém-desencarnados que deixam laços do coração, na retaguarda.



13) Visita de Guillon e Schutel [Capítulo 12 - Entre companheiros]


É imenso consolo pensar que a morte não interrompe o trabalho sadio e edificante.

Os ideais nobres possuem suas verdadeiras raízes na vida espiritual e, além do túmulo, podemos continuar o serviço que se afina com as nossas tendências e esperanças.


Que contentamento pensar na continuidade da colaboração digna! Que conforto verificar que os meus defeitos não me anularam, de todo, para a obra doutrinária que tanto amara no mundo!


Guillon e Schutel vieram abraçar-me.

Estavam como que remoçados e profundamente felizes.

Auréolas de tênue luz irisada acentuavam-lhes a simpatia irradiante.


Perguntando a Guillon quanto ao motivo pelo qual não se comunica mais frequentemente em nosso meio, (...) Os companheiros de luta devem agir em campo livre; qual aconteceu conosco, fazem a corrida ao estádio da fé.


(Guillon) Salientou que não vale morrer sem a regeneração íntima, porque ninguém avança um palmo no caminho da eternidade, sem luz própria. Daí continuar acreditando que o maior serviço prestado à Doutrina é, ainda, o da própria conversão ao Infinito Bem.


Guillon e Schutel convidaram-me a visitar o Rio, junto deles.



14) Uma reunião mediúnica visto pelo plano espiritual [Capítulo 13 - Revendo círculos de trabalho]


O retorno ao Rio emocionava-me.


Relembrando os últimos instantes na experiência material, retomava mal-estar indefinível. A dispnéia parecia uma entidade imaginária, pronta a individualizar-se, dentro de mim, toda vez que a evocava em pensamento. Bastava recordar certos sintomas do esgotamento que experimentara no corpo de carne, para registrá-los imediatamente no organismo espiritual.


Era, contudo, uma novidade para eu devorar a distância nas vias públicas, dentro da noite; sem ser visto pelos semelhantes encarnados.


Observei que muitas criaturas permaneciam acompanhadas por Espíritos benignos ou por sinais luminosos, que me deixavam perceber o grau de elevação que já haviam atingido, mas o número de entidades gozadoras das baixas sensações da vida física, a seguirem suas vítimas, de perto, era francamente incalculável.


O quadro mais inquietante, porém, era constituído por um viciado em drogas e pelas entidades em desequilíbrio que se lhe jungiam. Parecia um homem subjugado por tentáculos de polvos enormes.

Compreendi, com mais exatidão, que o viciado de qualquer espécie é compelido a procurar material emotivo para si e para os que o obsidiam, caindo invariavelmente na insaciedade que o caracteriza.


Penetrávamos respeitável instituição, onde cooperaríamos na transformação de entidades perigosas pela avançada cultura desviada para o mal.


Conduzido por Guillon a extensa sala, com surpresa forte aí encontrei Leopoldo Cirne rodeado de dezenas de entidades menos evolutivas, a lhe escutarem a palavra, atenciosas.

Era uma aula perfeita na qual o velho amigo preparava futuros companheiros para a contribuição espiritual de ordem elevada.


Ninguém se eleva do chão planetário, ostentando asas alheias e, daí, as organizações numerosas de assistência e socorro sobre a Terra mesmo.

Cirne é um dos pioneiros dessas escolas de preparação espiritual.


Se na esfera carnal trabalhamos na condução do próximo para que aprenda a bem morrer, cooperamos agora a fim de que saiba renascer com proveito.


Os trabalhos de socorro aos desencarnados endurecidos estavam iniciados com a prece do orientador da reunião.

Naturalmente, poderiam ser instruídos em nossa esfera de luta – afirmou Guillon, compreensivo -, entretanto, os benefícios decorrentes da colaboração atingiriam particularmente os amigos encarnados, não somente lhes aumentando o conhecimento e a experiência, mas também lhes suprimindo lastimáveis impulsos para o mal.


Reparei, então, com mágoa, a diferença que existia entre mim e os abençoados companheiros que me haviam trazido. Ao passo que nenhum deles era visível aos irmãos ignorantes e perturbados, não obstante as irradiações brilhantes que lhes marcavam a individualidade, notavam-me a presença, aos cursos preparatórios de espiritualidade superior.

Certa entidade reconheceu-me e gritou:

-Aquele, ali não é o Jacob?

E mirando-me de alto a baixo, acentuou:

-Que é da luz dele?


(Guillon) -Não se atormente, meu caro. Medite, ore e, no momento oportuno, receberá os necessários esclarecimentos. Esteja certo de que a sua luz virá.


15) Excursão aos EUA e o encontro com Thomas Edison [Capítulo 14 - Excursão Confortadora]


Eu não providenciara luz para mim mesmo. Conduzira muitos desencarnados à fonte sublime das claridades evangélicas, mas esquecera as próprias necessidades.


Marta, porém, pediu-me serenidade e reflexão. (...) Não era lícito entregar-me, daquele modo, ao desânimo.

Ainda que houvesse perdido o tempo, de todo, não me cabia supor que as lágrimas bastassem ao trabalho reparador. Competia-me o trabalho de renovação incessante para o bem.


(Marta) propôs uma excursão rápida. Ela sabia de meu íntimo desejo de visitar a Califórnia, atendendo aos apelos do coração. Por lá, alguns laços queridos me aguardavam o espírito.

Em breve tempo achávamo-nos fora do abençoado pouso de serviço e refazimento.

Notei que atravessávamos outras colônias espirituais cheias de vegetação e casario, embora menos ricas de beleza.


-Nestes planos – disse-me a filha -, a ligação mental com a Terra ainda é enorme. Muita gente que “matou o tempo” vive por aí com sede de reavê-lo. São saudosistas da experiência na carne que estimam viver, por enquanto, quase que exclusivamente do passado. Não praticam males graves, porém, não se aplicaram ao bem, tanto quanto deviam. Queixa-se de mil infortúnios, mas recusam qualquer norma regenerativa.


Supunha-nos muito longe de atingir a estação de destino, quando a ternura filial me indicou a linda paisagem da Califórnia.

Recordando minha passagem pelas terras abençoadas da América, lembrei alguém a cuja inteligência e bondade nunca dispensara suficiente admiração.

-Marta, não seria possível avistar-nos com Thomas Edison?


Passei a usar o inglês, para melhor entender-me.

Conduziu-me Marta ao nobre edifício, onde expôs o propósito que nos movia a um cavalheiro de respeitável figura, mas, surpreendido, ouvi o interpelado anunciar que o grande benfeitor já fora avisado quanto à nossa visita e aprestava-se para o encontro. Ele Habitava – esclareceu o informante – esfera muita elevada, mas viria imediatamente receber-nos por quinze minutos. Não dispunha de mais tempo


Continuaríamos, além da morte, assim isolados uns dos outros pelas fronteiras linguísticas?

Marta explicou-me com paciência que o espírito dos lares nacionais domina nos círculos mais imediatos à mente encarnada e que, à medida de nossa elevação, encontraremos mais largas demonstrações de entendimento coletivo,...


Demorávamos-nos entretidos na palestra reconfortante, quando vi Edison em pessoa. Tamanha luminosidade lhe coroava a cabeça venerada, que tive ímpetos de ajoelhar-me.

(O) admirável cientista declarou que, não obstante desencarnado, continua trabalhando sem descanso, à frente dos perigos que ameaçam a atualidade terrestre. (...) Declarou que a desintegração atômica, praticada na América, é seguida com indivisíveis preocupações pelas Forças Tutelares do Planeta, afirmando que a Humanidade vive, no momento, aflitivo período de transição, sem a menor perspectiva de paz duradoura, em virtude dos sentimentos belicosos que orientam os coração.



16) Reunião no Templo [Capítulo 15 - No Templo]


À noite, quando as constelações se derramavam no céu muito azul, todos nós, em alva roupagem, tomamos o caminho do santuário.


Algumas dezenas de companheiros tão obscuros quanto eu mesmo e explicou:

-Aqui Jacob, se alinham os cooperadores do seu trabalho edificante, que prosseguirá mais ativo.

Reconheci muitos deles, que haviam partido anos antes de mim.


Lastimavam todos, qual ocorria a mim mesmo, não haverem aproveitado as horas no corpo físico, dentro da eficiência desejável.


Elucidou Andrade que eu poderia continuar repousando, ao lado de Marta, por mais tempo, e que, no instante oportuno, mobilizaria o grupo na assistência fraterna; a que me dedicara nos últimos anos da experiência carnal, para que a desencarnação não me impusesse intervalo ruinoso às atividades.


Voltando à presença de Guillon e de outros amigos, reparei que o silêncio se fez profundo e indefinível.

Bezerra, nimbado de intensa luz, tomou lugar entre a grande assembleia e o conjunto de irmãos que oravam extáticos, e alçou ao Mestre Divino; sentida prece.


Quando Bezerra terminou, oh! Intraduzível maravilha!

Na câmara alva surgiu, de repente, uma estrela cujos raios tocavam o chão.

Tão comovedoras vibrações se espalharam no recinto que não suportei a companhia dos iluminados.


Marta seguiu-me, simbolizando um anjo guardião pressuroso e terno, e, lembrando a hora em que a vi, carinhosa e linda, nos serviços de materialização do Pará, em 1921, enquanto eu ainda vestia a carne física, ajoelhei-me, humilde, no que fui por ela acompanhado.


Guillon e os outros me fitavam com lágrimas e, contemplando a estrela que começava quase imperceptivelmente a tomar forma humana, gritei, em pranto, que eu não era digno daquelas manifestações de apreço e nem merecia a visita divina que principiava a revelar-se. Fortalecido por sobre-humana coragem, confessei minhas faltas e salientei meus defeitos, em alta voz, abertamente, sem omitir erro algum.

Declarei que, por mim, falava a sombra em que me envolvia e afirmei que não devia ser examinado por amigo e, sim, julgado na qualidade de réu, passível de justa condenação.


17) As orientações de Bittencourt Sampaio [Capítulo 16 - A palavra do companheiro]


Entre o êxtase e o assombro, notei que a estrela se transformava lentamente.

Era o magnânimo Bittencourt Sampaio, cuja expressão resplandecente constituía o que imagino num ser angélico.


Pousando a destra sobre a minha fronte, continuou, com nobreza e sinceridade:

-Jacob, fez bem anunciando as próprias faltas neste plenário fraterno!

A própria consciência lavra em nós irrevogáveis arestos.

Somos o fruto de nossa sementeira.

Erramos e acertamos, aprendendo, corrigindo e aprimorando sempre, até à conquista do Supremo Equilíbrio.

Não te prendas, pois, às sombras destrutivas do remorso ou da queixa.


-Desdobrar-se-á o serviço doravante em companhia dos mesmos associados de abençoada luta.

Os círculos de vida que povoamos, agora, são de prosseguimento.

Na experiência humana, temos a semeadura.

Na vida espiritual que nos é acessível começa a colheita.

O favoritismo não existe para o Governo Universal.


Todos aqueles que, de alguma sorte, estiveram em tia companhia na fraterna comunhão de interesses espirituais, constituem a legião afetiva, junto da qual seguirás caminho afora, na distribuição de amor, luz e verdade.


É necessário, Jacob, encontrar a paz, dentro de nós mesmos, na batalha pela vitória da luz, quanto o Senhor a demonstrou, perseguido e crucificado.


Deixa, Jacob, que rujam tempestades do mundo, esquece as recordações violentas do passado, emerge do “homem velho” e caminha para o Alto!

Irradiar-se-á, então, tua luz brilhante e pura!

Amemos o trabalho transformador!

A vida nada deve aos inúteis.


Perdera, momentaneamente, a curiosidade doentia que me orientara até ali.

Por que avançar no conhecimento cerebral, de alma às escuras? Cabia-me mudar de rumo.



18) No curso preparatório [Capítulo 17 - Na Escola de iluminação]


Se fosse fustigado pelos amigos com palavras rudes, logo após a desencarnação; se me relembrasse descaridosamente os erros, talvez me refugiasse na própria resistência, acentuando as sombras que me dominavam a alma.

Provavelmente inventaria recursos contra o serviço da luz. As advertências, todavia, alcançavam-me, silenciosas. A assistência de minha filha, os cuidados do Irmão Andrade, as palestras de Guillon e o devotamento de Bittencourt Sampaio transbordavam amor que renova e eleva sem alarde.


(Guillon) Atribuiu-se-me as dificuldades à transitória inadaptação à vida espiritual e aconselhou-me um curso rápido numa das escolas de iluminação existentes ali.


-Nesse serviço novo, Jacob, procure ser menino outra vez. Não guarde ideias preconcebidas. Esqueça o homem de negócios que foi, olvide a sua posição de comandante com subordinados e pessoas agradecidas à sua disposição. Chega sempre o momento em que nos cabe devolver ao Senhor as dádivas que nos empresta, a título precário. De mente lavada e fresca, você aprenderá melhor o sentido da vida real.

Saber recomeçar aqui é uma ciência agradável e ao mesmo tempo complexa.


(...) fui conduzido pelo Irmão Andrade a uma das dependências do mesmo templo que visitáramos na véspera.

Algumas dezenas de Espíritos aí se achavam em contacto com os instrutores.


Vendo-me a sós com o instrutor que me atendia, surpreendido gravei suas palavras estimulantes e afáveis.


-Você apreciará ensinamentos e valer-se-á das possibilidades da escola, com a eficiência precisa, em meio de Espíritos que lhe são desconhecidos até agora. Em matéria de aprendizado iluminativo, as afeições terrestres nem sempre ajudam.

Comumente perturbam, aliás. A conquista de luz interior demanda certa violência aos interesses do “eu” e os parentes ou afins, por vezes, tocados de afeição exclusivista, de amor-próprio ferido. Isto, na maior parte das ocorrências, envolve a alma numa redoma de perigosa ilusão, tal como se um material isolante nos afastasse do clima real da vida. Cada qual se nós é um problema particular na Criação Divina.

Enfrentemos corajosamente os nossos enigmas. Se for preciso libertar das zonas inferiores o coração, para religa-lo aos planos mais elevados, tenhamos suficiente valor para faze-lo. Em tarefa como a que se vai iniciar, a demora da mente nas fórmulas mais respeitáveis de retenção pode ser ruinosa.


Nenhum conhecido. Nenhum laço que me fizesse retomar mentalmente o passado.


Dentro em pouco, familiarizara-me no curso. Destina-se a organização ao suprimento de valores educativos aos Espíritos procedentes da esfera carnal, mas sem grandes compromissos no desvio do bem.


Na vida real do Espírito, o sofrimento perde o aspecto sombrio. Não é entendido tão-somente por recurso expiatório ou regenerativo, mas também por bênção salvadora que aprimora e ilumina sempre. O homem agarrado ao prazer fácil de um minuto perde a bendita sementeira da eternidade. Somente por isso é que não extrai do obstáculo, da dor e da dificuldade o conteúdo de alegria imperecível que oferecem à alma.


Grandes e abençoadas oportunidades de subida,

a luminosas culminâncias, foram perdidas; e agora, qual me ocorre, reparam o tempo

menosprezado por intermédio de mais intenso labor.



19) Que falar sobre o trabalho de doutrinação? [Capítulo 18 - Ensinamento inesperado]


Certo companheiro de aprendizado convidou-me a experimentar praticamente as lições da escola iluminativa em que nos reajustávamos.

Iríamos ao Rio, onde recebêramos valiosas bênçãos da fé. Procuraríamos alguns dos casos de doutrinação e socorro, junto aos quantos funcionáramos, e aplicaríamos, então os princípios recebidos.


Lutara durante muito tempo com perigoso obsessor de um alcoólatra inveterado. Não conseguira demovê-lo, renová-lo. Gostaria de observar o caso “in loco” e, com as preocupações a que me compelisse, extrairia certa amostra do serviço maior que me aguardava.


Em breve, achávamo-nos na cidade, à noitinha.


O companheiro que nos seguia de perto (Ornelas) explicou que inúmeros irmãos de outros círculos, impossibilitados, por longos decênios, de retomar o corpo terreno, se dedicam a tarefas obscuras e sacrificais, entre as almas endurecidas ou sofredoras, a fim de conquistarem, pela abnegação e pelo heroísmo silencioso, a irradiação luminosa que lhes falta. Vastos anos despendem no esforço de renúncia, adquirindo humildade no trato de almas rebeldes e ásperas, quais semeadores buscando a dádiva da flor e do fruto ao contacto do chão bruto. Em geral, são homens e mulheres que se desmandaram na autoridade e no dinheiro, na inteligência ou na beleza, assumindo graves compromissos morais,...


O alcoólatra, cuja situação me levara a diversos serviços de preces e doutrinações nos últimos tempos de minha experiência no corpo, achava-se num bar suburbano a encharcar-se. Ao lado dele, o temível perseguidor dava expansão a impulsos menos dignos. Cada copo cheio era nova taça de venenoso fluido que ele aspirava com estranha volúpia.


Antes de qualquer entendimento, Ornelas advertiu-me que, fora dos laços físicos, o socorro dos Espíritos transviados exige outros recursos, além das armas verbais. Achávamo-nos, ali, esclareceu prestimoso, sem o elemento controlador da mediunidade.. (...) A maioria dos médiuns, porém, ainda mesmo quando sonâmbulos puros, de algum modo controlam os comunicantes irrequietos ou infelizes, exercendo determinada censura sobre as palavras rudes ou inconvenientes que desejam pronunciar. Estaria naquele instante com um obsessor, frente a frente. Deveria preparar-me para demonstrar-lhe os melhores sentimentos do meu coração, porque, da parte dele, me daria a conhecer as notas mais íntimas da própria consciência.


Abeiramo-nos da dupla lastimável.

(O obsessor) Voltando-se para nós e sentido-nos a observação calma, ao que me pareceu concentrou-se para melhor resistir-nos, sorriu escarninho e, detendo-se de modo especial sobre mim, gargalhou franco.

A princípio, molestei-me. Experimentei mal-estar intraduzível.

O Espírito endurecido a envolver-se em sombria nebulosa arremessava contra mim forças envolventes e perturbantes.

Ornelas sacudiu-nos os ombros vigorosamente e disse:

-Vejo-lhe a inexperiência. Não tema. Centralize a vontade e reaja com todas as energias de que dispõe. Prepare-se para ouvir e falar com serenidade. Suas condições psíquicas virão à superfície do rosto e do verbo. Não se deixe abater. Ajudá-lo-ei.


Diálogo Surpreendente

Ornelas, pousando a destra sobre minha fronte, aconselhou-me a prosseguir, prometendo inspirar-me nas observações convenientes.

(…) a colaboração magnética de Ornelas me alimentava, causando-me grande reconforto…..

Foi assim o meu primeiro diálogo, após a morte, com um Espírito desviado do bem:

-Meu irmão – disse-lhe emocionado -, não se resolve a libertar nosso amigo doente, já de si mesmo tão miserável?

-E você, nem mesmo depois de “morto” desiste de me apoquentar? – revidou o obsessor, raivoso. (...)


O verdugo fez um esgar de ódio e voltou a comentar:

-Não lhe reconheço autoridade para conselhos,. Você foi sempre um homem áspero, indisciplinado, voluntarioso. Muita vez, acabava de apontar-nos o bom caminho para seguir estrada contrária. Agora que ser apóstolo...


-Frequentemente, após deixar os aparelhos mediúnicos através dos quais trocávamos ideias, eu lhe seguia os passos, discreto, e notava que você não agia de conformidade com os próprios ensinos.

Semelhantes frases, ditas à queima-roupa, desconcertavam-me. (...)


Terminado o longo e desagradável diálogo em que me vi inesperadamente envolvido, aplicamos passes de socorro ao irmão encarnado, que se mantinha em aflitivas condições de enfermidade e embriaguez. Após enorme relutância, o terrível perseguidor consentiu em que eu orasse, colocando-lhe a cabeça entre as minhas mãos. Supliquei ao Senhor fervorosamente que nos amparasse, a ele e a mim, para que ambos pudessem melhorar o coração e subir no conhecimento e na prática do bem.

Finda minha primeira observação pessoal de serviço, o obsessor fitou-me de maneira diferente. Pareceu-me não tanto agressivo….


Afinal, quem doutrinara no caso? Seria eu o portador de socorro ao Espírito infeliz ou fora o Espírito sofredor quem me beneficiara coma verdade?


O companheiro mais experiente, compreendendo quanto se passava dentro de mim, aproximou-se enquanto regressávamos ao domicílio, em plena noite, e falou com cativante inflexão de bondade:

-Jacob; em toda parte seremos defrontados pela própria consciência. Se louvarmos nossos amigos pelo incentivo e pelo júbilo que nos proporcionam, agradeçamos aos nossos adversários gratuitos a ousadia com que nos demonstram as nossas necessidades.


O conselho refrigerou-me a alma dilacerada. Pela primeira vez, compreendi que assim como chega um momento em que os juízes do mundo são julgados pelas obras que realizaram, surge também o minuto em que os doutrinadores da Terra são doutrinados pelos serviços que deixaram de fazer.


20) E brilhe a vossa Luz [Capítulo 19 - A surpresa sublime]


Depois da morte, o julgamento, por mais desagradável, é uma bênção. Pouco a pouco entendi que era necessário ouvir com humildade, a fim de agir com proveito. O contato direto com um obsessor vulgar aclarara-me a consciência. Salientara ele as sombras que ainda me envolviam e que os abnegados amigos da primeira hora velavam, movidos de piedade evangélica. É imprescindível evitar a precipitação, e meditar antes de atacar novas obras.


Era preciso buscar humildade no autoconhecimento, através das acusações merecidas ou imerecidas? Não me faltaria coragem para fazê-lo. Sempre que os intervalos naturais dos estudos e tarefas do instituto iluminativo me favoreciam, dirigia-me incontinenti para as zonas de Espíritos transviados, exercitando a minha capacidade de suportação.


Da boca de inúmeros infelizes e ignorantes, ouvi longas recordações de mais atos. Criticavam-me acerbamente, discutiam-me propósitos e intenções. Antigas faltas de épocas recuadas, que eu supunha esquecidas, eram trazidas à tona dos remoques verbais. Erros da mocidade, omissões da idade madura, gestos eventuais de aspereza, pequenas promessas não cumpridas, problemas de sentimento não liquidados, tudo, enfim, era resolvido pelos inimigos do bem, dos quais me aproximei nas melhores disposições de entendimento fraterno.


Por mais de duzentos dias, consagrava-me à teoria de iluminação na escola e à prática intensiva dos ensinamentos, junto aos irmãos desventurados, quando, certa noite, de volta ao lar espiritual, sozinho; fui assaltado por furioso grupo de clérigos desencarnados, os quais evidenciavam, nas palavras e nos gestos, profunda ignorância e lastimável insensatez. (...) Embuçados em capuzes de trevas, contei-os um a um. Eram dezesseis figuras de aspecto sinistro. Acercaram-se de mim; violentos e sarcásticos.


Aqueles punhos errados e erguidos contra mim não me intimidavam e nem me sugeriam reação. Achava-me tranquilo, não obstante surpreso. Trouxe, contudo, à memória as lições evangélicas de que me achava em pleno curso e, isolando a mente da gritaria infernal, pus-me em meditação.

Não nos aconselhara o Senhor a orar pelos que nos perseguem?


Tocado por sincero desejo de auxiliá-los, entreguei-me à prece, não como de outras vezes em que emitia palavras de louvor e súplica com bases menos profundas no sentimento. Intentava, com toda a alma, ser útil àquela falange de entidades inconscientes.


Em verdade, não possuía algo de bom em mim mesmo; entretanto, Jesus permanece rico de bondade e ternura em todos os dias da vida. Atender-nos-ia o apelo, viria em socorro de nossas necessidades...

Decorridos alguns minutos, observei que, ao me contemplarem em oração, os circunstantes se afastaram um tanto, embora continuassem a crivar-me de doestos e zombarias.


Quando descerrei as pálpebras úmidas pelo pranto de emotividade a que a prece me conduzira, notei que os adversários se afastavam cabisbaixos e vencidos.

Sobrevivera o imprevisto. Tomado de assombro, verifiquei que branda luz de um roxo carregado brilhava em torno de mim.


Surpreendido com semelhante luminosidade, senti-me chumbado ao solo. Quem a estaria irradiando a meu lado?

Cerrei os olhos novamente para agradecer a presença do benfeitor que, por certo, ali se encontrava junto de mim; no entanto, apesar de recolher-me à intimidade do próprio “eu”, via ainda os raios a se renovarem no meu íntimo.


(...) lobriguei o vulto de alguém que procurava evidenciar-se. Era Bittencourt Sampaio a estimular-me o coração para o bem.

– “Jacob” – disse ele, não te admires da claridade que te rodeia. Ela pertence a ti mesmo. (...) A concentração de amor verdadeiro produz bendita claridade na alma. A luz é substância divina gerada nas fontes superiores do Espírito Eterno. (...)

A mente que atira para fora de si o obscuro e pesado material dos interesses menos dignos prepara-se valorosamente para o celeste sinal da irradiação espontânea.

A tua luz crescerá com a dilatação de teu devotamento ao Bem Infinito”.



21) Retorno ao Trabalho [Capítulo 20 - Retorno à tarefa]


O trabalho é das maiores bênçãos de Deus no campo das horas.

Agora que alguns raios de luz se faziam sentir dentro de mim, buscava penetrar a grandeza do ato de orar e meditar. Pouco a pouco, perdi o interesse pelas indagações de toda sorte ....


(Bezerra) O seu trabalho, pois, é de prosseguimento. Organize um entendimento com os amigos de sua boa luta e retorne aos processos de auxílio.

O Espírito vale pelas expressões divinas que pode traduzir no próprio caminho, porque o Criador atende a criatura, através da criatura. Regresse, contente, aos seus casos de socorro. Representam eles a sua melhor oportunidade de servir ao Senhor. Ajudando, libertando e iluminando os outros, você auxiliará, melhorará e engrandecerá a si mesmo.


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