segunda-feira, 6 de maio de 2024

Atuação dos Espíritos amigos em nossa vida

 Casa Espírita Missionários da Luz - DIJ

Mocidade: > 14 anos 03/05/2024


Tema: Atuação dos Espíritos amigos em nossa vida


Objetivo:

- Perceber a ação dos Espíritos amigos em nossa vida;

- Identificar a importância das horas do sono para contatos com os Espíritos Amigos;

- Reconhecer a importância da gratidão a nossos mentores espirituais.


Bibliografia:

O Livro dos Espíritos", Perguntas 401 e 402 (Emancipação da Alma), 459, 489 à 521 (Anjos da Guarda);

Evangelho, Cap XXVIII - Coletânea de Preces Espíritas – II “Aos Anjos Guardiães e aos Espíritos Protetores”;

Entre a Terra e o Céu, André Luiz, Cap.33 (sobre anjos de guarda e espíritos familiares) e cap.34.


Material: música suave, livro Entre a Terra e o Céu, um exemplar de o LE.


Desenvolvimento:


1. Hora das novidades da semana.

2. Exercícios de respiração profunda e prece inicial.


3. Motivação Inicial:


O livro Entre a Terra e o Céu, psicografado por Chico Xavier, pelo Espírito André Luiz, traz um capítulo interessante sobre o cuidado que recebemos dos Espíritos amigos.


Trata-se do caso do enfermeiro Mario Silva.

No fim de um dia de trabalho, ele foi atender a um pedido de socorro para um bebê doente e ao chegar na casa, percebeu que era da ex-noiva dele. Ela era a mãe de Julio, o bebê doente.

Na hora, sentiu repulsa e ódio, pois ainda não havia perdoado o término do noivado por ela, por ter se apaixonado por outro. Teve pensamentos de desejo de vingança e chegou até a pensar em colocar um medicamento que matasse o bebê.

Mas se conteve e deu o medicamento correto. Como o bebê não reagisse, pediu ao pai da criança que chamasse o médico pois o estado dele era muito grave. O médico veio, verificou que não havia como salvar a criança, mas pediu que o enfermeiro permanecesse ali mais algumas horas, auxiliando.

Também estavam ali no quarto, do plano espiritual, André Luiz e o instrutor Clarêncio, que tinham vindo auxiliar, a pedido da Odila (ex-mulher do pai do bebê), que também estava presente. Todos no auxílio ao bebê e aos pais, com exceção de Mario Silva com seus sentimentos contraditórios.

O bebê foi a óbito sendo e Odila levou-o a uma instituição para crianças no plano espiritual. E Mario Silva entrou em crises de remorsos! Saiu correndo da casa aos prantos, ouvindo a voz da consciência chamando-o de assassino. Chegando em casa, não conseguiu dormir, não foi trabalhar no dia seguinte de tanto remorso, e tomou analgésicos para tentar dormir.

Como a mãe do bebê entrou em crise, sem comer, sem reagir, muito enfraquecida, André Luiz e Clarêncio retornaram à casa na noite seguinte ao óbito, para prestar-lhe recursos fluídicos. Estavam no socorro a ela, quando:


Mário Silva, desligado do corpo denso, com a rapidez de um relâmpago, penetrou o quarto, de olhos esgazeados, à maneira de louco, contemplou a doente por alguns instantes e afastou-se.

Volvemos nossa indagadora atenção para o Ministro, que esclareceu, sem detença:

É sabido que o criminoso habitualmente volta ao local do crime. O remorso é uma força que nos algema à retaguarda.

E porque nos inclinássemos à procura do visitante inesperado, o instrutor aquietou-nos, recomendando: – Aguardemos. Mário voltará.

Com efeito, Silva, depois de alguns minutos, regressou ao aposento.

Com a mesma expressão de dementado, fixou a pobre enferma e, dessa vez, rojou-se de joelhos, exclamando: – Perdão! Perdão!... sou um assassino! um assassino!...

Levantamo-nos, instintivamente, com o propósito de socorrê-lo, mas tocado de longe pela nossa influência magnética, qual se fora alcançado por um raio, o enfermeiro projetou-se para fora.


==> vemos aqui que Mario estava desligado do corpo, pelo sono, mas continuava com as crises de remorsos. E quando nos desligamos do corpo pelo desdobramento, vamos buscar nossos inetresses.


Infortunado amigo! – falou o Ministro, contristado. – Sofre muito. Ajudemo-lo a soerguer-se.

Num átimo, ganhamos o domicílio de Mário. Encontrando-o em pesadelo aflitivo, contido no leito à custa de poderosos anestésicos.

Com surpresa para nós, uma freira desencarnada rezava, junto dele.


==> Como aqui temos um diálogo muito interessante entre Clarêncio e a freira católica, pedir licença ao grupo para ler esse trecho.


Interrompeu as preces, a fim de saudar-nos, acolhendo-nos com simpatia.

Estava certa – disse delicada e confiante – de que Nosso Senhor nos enviaria o socorro justo. Desde algumas horas, ocupo aqui o serviço de vigilância. A posição do nosso amigo – e indicou Mário estendido na cama – é francamente anormal e temo a intromissão de Espíritos diabólicos.

Clarêncio assumiu o aspecto de simples visitante, vulgarizando-se ao olhar da religiosa, que se sentia evidentemente encorajada com a nossa presença.

É enfermeira? – perguntou nosso instrutor, cortês.

Não sou propriamente do serviço de saúde replicou a interpelada –, mas colaboro no hospital onde Silva trabalha.

Fitou o moço semi-adormecido e aduziu, piedosa:

É um cooperador devotado às crianças doentes e a cuja assiduidade e carinho muito passamos a dever.

E, numa linguagem genuinamente católica romana, rematou:

Muitas almas benditas têm descido do Céu para testemunhar-lhe agradecimento. Isso tem acontecido tantas vezes que, com alguns médicos e assistentes, fez credor das melhores atenções de nossa Irmandade.

Usando o tato que lhe era característico, nosso orientador indagou:

Como soube a irmã que o nosso amigo se achava assim tão conturbado?

Não recebemos qualquer notificação direta, contudo, ele não compareceu hoje às tarefas habituais e isso foi suficiente para indicar-nos que algo de grave estava acontecendo. Nossa superiora designou-me para verificar o que havia. Desde então, estou presa, de vez que não supunha a existência de tantos Espíritos das trevas na vizinhança. (…)


No leito, Mário gemia inquieto.

O Ministro pareceu despreocupar-se da palestra de ordem pessoal e passou a afagar a fronte do enfermo, dando-nos a ideia de que só ele devia atrair-nos o interesse.


A freira acercou-se respeitosamente de nosso instrutor e disse, calma:

Irmão, Madre Paula costuma dizer-nos que os ouvidos de Deus vivem no coração das grandes almas. Estou certa de que escutastes minhas rogativas. Tenho-vos por emissários da Corte Celeste. Acredito que, desse modo, me compete a obrigação de confiar-vos nosso doente.

(…) (A freira se ausenta)

A maior lição aqui, André, é a da sementeira que produz, inevitável. Mário Silva, na posição de enfermeiro, não obstante a ruinosa impulsividade em que se caracteriza, tem sido prestimoso e humano, tornando-se credor do carinho alheio. Segundo vemos, não é um homem devotado às lides religiosas. É irritável e agressivo.

De ontem para hoje, chega a sentir-se criminoso... Entretanto, é correto cumpridor dos deveres que abraçou na vida e sabe ser paciente e caridoso, no desempenho das próprias obrigações. Com isso, granjeou a simpatia de muitos e encontramo-lo fraternalmente guardado por uma freira reconhecida...

O ensinamento era efetivamente comovedor. Dispunha-me a prosseguir no comentário, contudo Silva começou a gemer e o Ministro, inclinando-se para ele, demorou-se longo tempo a auscultá-lo.

Em seguida, Clarêncio reergueu-se e falou:

Pobre amigo! permanece impressionado com a morte de Júlio, conservando aflitivo complexo de culpa. Tem o pensamento ligado ao pequenino morto, à maneira de imagem fixada na chapa fotográfica. Passou o dia acamado, sob extrema perturbação. (...)


Decorridos alguns instantes, a freira regressou à nossa presença, assistida por outra irmã, que nos cumprimentou com atenciosa reserva.

Ambas haviam sido designadas para a tarefa de auxílio ao cooperador doente. A congregação encarregar-se-ia de todos os trabalhos de vigilância e enfermagem espiritual, enquanto Silva assim permanecesse.

Depois de breve diálogo, saudamo-las com respeitosa cordialidade e nos retiramos, com a promessa de voltar no dia seguinte.



4. Discussão dialogada – Anjo Guardião e Espíritos Familiares


Nesse pequeno trecho do livro, o que podemos retirar de observações interessantes? O que chamou a atenção de vocês? (deixar que se coloquem, enfatizando depois:)


- no momento de crise familiar, a morte do bebê, vemos a presença de Espíritos amigos no auxílio. Julio, ao desencarnar, já é retirado e levado pelo Espírito Odila. Clarêncio retorna para ajudar Zulmira, a mãe de Julio, inconsolada com a morte do filho.

- Mario, uma pessoa comum, sem religião, com sentimentos ainda infelizes, como enfermeiro é exemplar. Com isso, é auxiliado, cuidado, por uma instituição católica, no plano espiritual, que faz guarda em sua casa.



Vamos ver quais os Espíritos que estavam atuando nesse episódio e quais seus papéis? São Espíritos superiores?

==> escrever os nomes no quadro: Clarêncio, André Luiz, Odila; Freira

Clarêncio – instrutor de André Luiz; recebeu o pedido de ajuda de Odila.

André Luiz – ‘estudante’ do serviço no Bem, que acompanha Clarêncio.

- Odila – ex-esposa do pai de Julio. Estava ali na condição de ajudar a família terrena que tinha deixado com sua desencarnação.

- Freira – Espírito de bom coração, mas sem conhecimentos da vida espiritual, da condição dos Espíritos, que velava por Mario.


==> São Espíritos de diversas categorias espirituais, que são nossos amigos, que nos auxiliam.

==> desses Espíritos que trabalham auxiliando esses personagens, quem é mais elevado? Quem é menos? Como podemos saber?


==> algum desses é o Anjo guardião de um dos personagens? ==> Não!


==> Qual a definição de anjo de guarda?

- pedir que um dos jovens leia as pergs. 490 e 492 do LE, vendo a definição de anjo guardião, que é de ordem elevada, e do tempo em que esse guardião acompanha seu protegido.


==> vejam que linda essa fala de São Luís e Sto Agostinho, na perg. 485 do LE:

Eles se acham ao vosso lado por ordem de Deus. Foi Deus quem aí os colocou e, aí permanecendo por amor de Deus, desempenham bela, porém penosa missão. Sim, onde quer que estejais, estarão convosco. Nem nos cárceres, nem nos hospitais, nem nos lugares de devassidão, nem na solidão, estais separados desses amigos a quem não podeis ver, mas cujo brando influxo vossa alma sente, ao mesmo tempo que lhes ouve os ponderados conselhos.


==> Onde fica esse anjo de guarda? Perguntar a um dos jovens: Onde está o seu anjo de guarda?

- em qualquer lugar! A fala de São Luís e Sto Agostinho respondem:

Aos que considerem impossível que Espíritos verdadeiramente elevados se consagrem a tarefa tão laboriosa e de todos os instantes, diremos que nós vos influenciamos as almas, estando embora muitos milhões de léguas distantes de vós. O espaço, para nós, nada é, e não obstante viverem noutro mundo, os nossos Espíritos conservam suas ligações com os vossos.”


==> nesse caso do Mario Silva, nós não vemos os anjos de guarda do Julio, da Zulmira, nem do Mauro! Mas vimos outros Espíritos trabalhando para eles, auxiliando-os. Isso porque existe toda uma cadeia hierárquica de apoio! Nos auxiliamos uns aos outros aqui também, né?


==> pedir que outro jovem leia as pergs. 512, 513 e 514, que fala dos diversos Espíritos que assistem (para o bem ou para o mal) e do Espírito familiar (o amigo da casa).


- no comentário de Kardec sobre esse tema (após a perg. 514), Kardec explica:


Os Espíritos familiares se ligam a certas pessoas por laços mais ou menos duráveis, com o fim de lhes serem úteis, dentro dos limites do poder, quase sempre muito restrito, de que dispõem. São bons, porém muitas vezes pouco adiantados e mesmo um tanto levianos. Ocupam-se de bom grado com as particularidades da vida íntima e só atuam por ordem ou com permissão dos Espíritos protetores. (Comentário de Kardec após a perg. 514)


==> vemos que Odila é um Espírito familiar, que permanece ajudando a sua família terrena. Mas tem pouca elevação. Pede ajuda, quando a situação fica mais crítica.

Tem pessoas que percebem familiares, parentes desencarnados nas casas, junto das famílias.

==> as freiras, são Espíritos simpáticos ao Mario Silva, por reconhecimento a ele pelos cuidados com as crianças doentes.



5. Discussão dialogada – Importância da hora do sono


==> o importante é não esquecermos do nosso anjo guardião! Buscar sempre estreitar cada vez mais nossa conexão com ele.

Qual a melhor hora de fazermos isso? De noite, quando dormimos! Todas as noites, ao dormirmos, nos desprendemos parcialmente do corpo e ficamos livres para entrar em contato com os Espíritos. Kardec tratou desse assunto no LE, no capítulo da Emancipação da Alma.


==> pedir que um jovem leia a perg. 401:


Durante o sono, a alma repousa como o corpo?

Não, o Espírito jamais está inativo. Durante o sono, afrouxam-se os laços que o prendem ao corpo e, não precisando este então da sua presença, ele se lança pelo espaço e entra em relação mais direta com os outros Espíritos.”


==> é um hábito que precisamos ir criando; irmos ampliando cada vez mais essa conexão com nosso Anjo Guardião.



==> É então, uma oportunidade, todas as noites, de entrarmos em contato com nossos Guias Espirituais, pedindo orientações, proteção. E com esses encontros habituais, mais fácil será durante o dia, percebermos as sugestões, as orientações que vem dele.


==> Devemos ser gratos pela constante e incessante assistência que os Bons Espíritos nos dão!


6. Visualização


Propor uma visualização para encontro com nosso Anjo da Guarda. Fizemos ano passado; importante nos permitirmos esses momentos.

==> colocar uma música suave, baixinha.


Neste momento, vamos todos fechar os olhos e ir fazendo e imaginando aquilo que eu for dizendo…

Vamos procurar uma posição confortável.

Vamos respirar fundo uma vez ... duas vezes... sentindo o ar entrar e sair dos pulmões... mais uma vez, respirando fundo.

Agora vamos contar até três.

Um, sentindo os braços e as pernas relaxadas... Dois, sentindo a barriga, o pescoço e a cabeça sem nenhuma pressão... Três, sentindo todo o corpo relaxado e muito bem.


Agora imagine um lugar bonito, cheio de plantas e pássaros e um belo jardim. Veja as árvores, as flores e um lago, com águas tranquilas e limpas.


Agora você vai se imaginar sentado... pode ser em uma cadeira, um banco… neste belo lugar. Você está calmo e tranquilo, ouvindo os passarinhos e sentindo o vento nos cabelos. Sinta o lugar...


Você observa então, que alguém se aproxima lentamente. Observe seu rosto...seu olhar calmo, sereno, um sorriso amigo, doce. Você reconhece nesse ser, o seu anjo da guarda, seu espírito protetor. Não importa como ele se apresente a você. Você sabe, sente que ele é o seu anjo da guarda.


Conforme ele se aproxima, você se sente envolvido por um abraço cheio de energias positivas. Ele se senta na sua frente, seus olhos doces, meigos, fitando os seus olhos... Ele conversa com você. Escute… Sinta a vibração de sua presença amiga junto de si.


Você sabe que ele te ama muito e quer o seu bem, te acompanha desde antes do seu nascimento, te protege sempre, te dá bons conselhos.


Ele diz que você pode conversar com ele sempre que quiser, através da prece. Diz também que ele vai continuar te aconselhando a seguir no caminho do bem. Você está ouvindo tudo com muita atenção. A conversa é calma e tranquila.


Ele então, se levanta e te dá um conselho: um conselho para o bem, mas que só você sabe o que é. Neste momento você está ouvindo este conselho...


Seu anjo da guarda então se despede de você com um abraço especial e diz que estará sempre com você, te auxiliando.


Você, então, o vê se afastar e observa novamente o lugar onde está: um jardim muito bonito. Foi um encontro muito especial, mas agora é preciso retornar para a nossa sala…


Respire bem fundo, lentamente...Aos poucos comece a mover os dedos, mova o pescoço, e de pois, abra lentamente os olhos.



7. Conclusão:


Podemos, e devemos, estar mais atentos às nossas horas de sono! Precisamos ‘saber dormir’!
Nos preparar para esse longo período em que estaremos em contato com os Espíritos!

Vamos bem aproveitar esse tempo e nos conectarmos com nossos Anjos de Guarda na prece, antes de dormir, pedindo que possamos estar com ele durante esse descanso do corpo!



7. Exercícios de respiração profunda, prece final e passes coletivos.


Avaliação:

Encontro com 5 jovens. A hora da novidade foi sobre as questões do vestibular e a mudança de vida na saída do ensino médio para a faculdade.

Não fizemos a visualização pois não deu tempo. Foram lidas as perguntas do LE com relação aos anjos e Espíritos familiares. Tiveram interesse no caso de Mauro Silva e a atuação dos Espíritos amigos. Ficaram em dúvida com relação à ‘ausência’ do anjo guardião nas cenas do caso relatado.


AnexosSubsídios teóricos



Entre a Terra e o Céu, André Luiz/Chico Xavier, Cap.33

E os anjos de guarda? – inquiri.

(…) Clarêncio encarou-me, admirado, e sentenciou:

Os Espíritos tutelares encontram-se em todas as esferas, contudo é indispensável tecer algumas considerações sobre o assunto. Os anjos da sublime vigilância, analisados em sua excelsitude divina, seguem-nos a longa estrada evolutiva. Desvelam-se por nós, dentro das Leis que nos regem, todavia não podemos esquecer que nos movimentamos todos em círculos multidimensionais.

A cadeia de ascensão do espírito vai da intimidade do abismo à suprema glória celeste.

Ligeira pausa trouxe paternal sorriso aos lábios do instrutor, que prosseguiu:

Será justo lembrar que estamos plasmando nossa individualidade imperecível no espaço e no tempo, ao preço de continuadas e difíceis experiências. A ideia de um ente divinizado e perfeito, invariavelmente ao nosso lado, ao dispor de nossos caprichos ou ao sabor de nossas dívidas, não concorda com a justiça. Que governo terrestre destacaria um de seus ministros mais sábios e especializados na garantia do bem de todos para colar-se, indefinidamente, ao destino de um só homem, quase sempre renitente cultor de complicados enigmas e necessitado, por isso mesmo, das mais severas lições da vida? Porque haveria de obrigar-se um arcanjo a descer da Luz Eterna para seguir, passo a passo, um homem deliberadamente egoísta ou preguiçoso? Tudo exige lógica, bom-senso.

Com semelhante apontamento, quer dizer que os anjos de guarda não vivem conosco?

Não digo isso – asseverou o benfeitor.

E, com graça, aduziu:

O Sol está com o verme, amparando-o na furna, a milhões e milhões de quilômetros, sem que o verme esteja com o Sol.

(...) Clarêncio, reconhecendo que o assunto demandava elucidação mais ampla, continuou:

– “Anjo, segundo a acepção justa do termo, é mensageiro.

Ora, há mensageiros de todas as condições e de todas as procedências e, por isso, a antiguidade sempre admitiu a existência de anjos bons e anjos maus. Anjo de guarda, desde as concepções religiosas mais antigas, é uma expressão que define o Espírito celeste que vigia a criatura em nome de Deus ou pessoa que se devota infinitamente a outra, ajudando-a e defendendo-a. Em qualquer região, convivem conosco os Espíritos familiares de nossa vida e de nossa luta. Dos seres mais embrutecidos aos mais sublimados, temos a corrente de amor, cujos elos podemos simbolizar nas almas que se querem ou que se afinam umas com as outras, dentro da infinita gradação do progresso.

A família espiritual é uma constelação de Inteligências, cujos membros estão na Terra e nos Céus. Aquele que já pode ver mais um pouco auxilia a visão daquele que ainda se encontra em luta por desvencilhar-se da própria cegueira. Todos nós, por mais baixo nos revelemos na escala da evolução, possuímos, não longe de nós, alguém que nos ama a impelir-nos para a elevação. Isso podemos verificar nos círculos da matéria mais densa. Temos constantemente corações que nos devotam estima e se consagram ao nosso bem. De todas as afeições terrestres, salientemos, para exemplificar, a devoção das mães. O espírito maternal é uma espécie de anjo ou mensageiro, embora muita vez circunscrito ao cárcere de férreo egoísmo, na custódia dos filhos. Além das mães, cujo amor padece muitas deficiências, quando confrontado com os princípios essenciais da fraternidade e da justiça, temos afetos e simpatias dos mais envolventes, capazes dos mais altos sacrifícios por nós, não obstante condicionados a objetivos por vezes egoísticos.

Não podemos olvidar, porém, que o admirável altruísmo de amanhã começa na afetividade estreita de hoje, como a árvore parte do embrião. “Todas as criaturas, individualmente, contam com louváveis devotamentos de entidades afins que se lhes afeiçoam. A orfandade real não existe. Em nome do Amor, todas as almas recebem assistência onde quer que se encontrem. Irmãos mais velhos ajudam os mais novos. Mestres inspiram discípulos. Pais socorrem os filhos. Amigos ligam-se a amigos. Companheiros auxiliam companheiros. Isso ocorre em todos os planos da Natureza e, fatalmente, na Terra, entre os que ainda vivem na carne e os que já atravessaram o escuro passadiço da morte. Os gregos sabiam disso e recorriam aos seus gênios invisíveis. Os romanos compreendiam essa verdade e cultuavam os numes domésticos. O gênio guardião será sempre um Espírito benfazejo para o protegido, mas é imperioso anotar que os laços afetivos, em torno de nós, ainda se encontram em marcha ascendente para mais altos níveis da vida.

Com toda a veneração que lhes devemos, importa reconhecer, nos Espíritos familiares que nos protegem, grandes e respeitáveis heróis do bem, mas ainda singularmente distanciados da angelitude eterna. Naturalmente, avançam em linhas enobrecidas, em planos elevados, todavia, ainda sentem inclinações e paixões particulares, no rumo da universalização de sentimentos. Por esse motivo, com muita propriedade, nas diversas escolas religiosas, escutamos a intuição popular asseverando: – “nossos anjos de guarda não combinam entre si”, ou, ainda, “façamos uma oração aos anjos de guarda”, reconhecendo-se, instintivamente, que os gênios familiares de nossa intimidade ainda se encontram no campo de afinidades específicas e precisam, por vezes, de apelos à natureza superior para atenderem a esse ou àquele gênero de serviço.”


Entre a Terra e o Céu, André Luiz/Chico Xavier, Cap.34

Interrompeu as preces, a fim de saudar-nos, acolhendo-nos com simpatia.

Estava certa – disse delicada e confiante – de que Nosso Senhor nos enviaria o socorro justo. Desde algumas horas, ocupo aqui o serviço de vigilância. A posição do nosso amigo – e indicou Mário estendido na cama – é francamente anormal e temo a intromissão de Espíritos diabólicos.

Clarêncio assumiu o aspecto de simples visitante, vulgarizando-se ao olhar da religiosa, que se sentia evidentemente encorajada com a nossa presença.

É enfermeira? – perguntou nosso instrutor, cortês.

Não sou propriamente do serviço de saúde replicou a interpelada –, mas colaboro no hospital onde Silva trabalha.

Fitou o moço semi-adormecido e aduziu, piedosa:

É um cooperador devotado às crianças doentes e a cuja assiduidade e carinho muito passamos a dever.

E, numa linguagem genuinamente católica romana, rematou:

Muitas almas benditas têm descido do Céu para testemunhar-lhe agradecimento. Isso tem acontecido tantas vezes que, com alguns médicos e assistentes, fez credor das melhores atenções de nossa Irmandade.

Usando o tato que lhe era característico, nosso orientador indagou:

Como soube a irmã que o nosso amigo se achava assim tão conturbado?

Não recebemos qualquer notificação direta, contudo, ele não compareceu hoje às tarefas habituais e isso foi suficiente para indicar-nos que algo de grave estava acontecendo. Nossa superiora designou-me para verificar o que havia. Desde então, estou presa, de vez que não supunha a existência de tantos Espíritos das trevas na vizinhança.

A palavra da freira saturava-se de tanta bondade espontânea e evidenciava uma fé pura tão encantadoramente ingênua, que a curiosidade me espicaçou o íntimo. A tentação de pesquisar o fascinante problema daquele caridoso esforço assistencial me constrangia a interferir no assunto, mas um olhar de Clarêncio bastou para que Hilário e eu nos mantivéssemos em respeitoso silêncio.

É comovente pensar na sublimidade de sua missão, depois de ausentar-se do corpo terrestre – falou o Ministro, bondoso, talvez provocando alguma elucidação direta, capaz de satisfazernos.

Sim, trabalhamos sob a direção de Madre Paula – informou a interlocutora, sincera –, que nos explica ser a enfermagem nas casas públicas de tratamento uma forma de purgatório benigno, até que possamos merecer novas bênçãos de Deus.

Mas, irmã, vê-se de pronto que o seu coração está comungando a paz do Senhor.

Ela baixou humildemente os olhos e ponderou:

Não penso assim. Sou uma pobre religiosa, em trabalho para resgatar os próprios pecados.

No leito, Mário gemia inquieto.

O Ministro pareceu despreocupar-se da palestra de ordem pessoal e passou a afagar a fronte do enfermo, dando-nos a ideia de que só ele devia atrair-nos o interesse.


A freira acercou-se respeitosamente de nosso instrutor e disse, calma:

Irmão, Madre Paula costuma dizer-nos que os ouvidos de Deus vivem no coração das grandes almas. Estou certa de que escutastes minhas rogativas. Tenho-vos por emissários da Corte Celeste. Acredito que, desse modo, me compete a obrigação de confiar-vos nosso doente.

Clarêncio agradeceu o carinho que transparecia daquelas palavras e expôs que a nossa passagem por ali era rápida, o bastante para ministrar o socorro preciso.

A interlocutora encareceu a necessidade de comunicar-se com o hospital, quanto ao cooperador em agitada prostração, e, prometendo voltar em breves minutos, ausentou-se à pressa.

A sós conosco, o orientador, embora de atenção ligada ao enfermeiro, explicou, atenciosamente:

Nossa irmã pertence à organização espiritual de servidores católicos, dedicados à caridade evangélica. Temos diversas instituições dessa natureza, em cujos quadros de serviço inúmeras entidades se preparam gradualmente para o conhecimento superior.

Sob a direção de autoridades ainda ligadas à Igreja Católica? – perguntou Hilário, admirado.

Como não? Todas as escolas religiosas dispõem de grandes valores na vida espiritual. Como acontece à personalidade humana, as crenças possuem uma região clara e luminosa e uma outra ainda obscura. Em nossa alma, a zona lúcida vive alimentada pelos nossos melhores sentimentos, enquanto que, no mundo sombrio de nossas experiências inferiores, habitam as inclinações e os impulsos que ainda nos encadeiam à animalidade. Nas religiões, o campo da sublimação está povoado pelos espíritos generosos e liberais, conscientes de nossa suprema destinação para o bem, ao passo que, nas linhas escuras da ignorância, ainda enxameiam as almas pesadas de ódio e egoísmo.

E, sorrindo, o Ministro acentuou:

Achamo-nos em evolução e cada um de nós respira no degrau em que se colocou.

Ela, porém, terá penetrado a verdade com que fomos surpreendidos, depois da morte? – perguntei, intrigado.

Cada Inteligência – respondeu o orientador, enigmático – só recebe da verdade a porção que pode reter.

Silva, no leito, dava inequívocos sinais de enorme angústia.

Não ignorava que o meu dever de assisti-lo era trabalho inadiável, todavia o encanto espiritual da religiosa singularmente arraigada aos hábitos terrestres me excitava de tal maneira a curiosidade que não pude conter a indagação espontânea.

Mas essa freira sabe que deixou o mundo, sabe que desencarnou e prossegue, assim mesmo, como se via antes?

Sim – confirmou o instrutor imperturbável.

E estará informada de que a vida se estende a outras esferas, a outros domínios e a outros mundos? Perceberá que o céu ou o inferno começam de nós mesmos?

O orientador meneou a cabeça, dando mostras de negativa e acrescentou:

Isso não. Ela não oferece a impressão de quem se libertou do círculo das próprias idéias para caminhar ao encontro das surpresas de que o Universo transborda. Mentalmente, revela-se adstrita às concepções que elegeu na Terra, como sendo as mais convenientes à própria felicidade.

E ninguém a incomoda aqui por viver assim distante do conhecimento real do caminho?

O orientador assumiu feição mais carinhosamente paternal para comigo e ajuntou:

Antes de tudo, deve nossa irmã merecer-nos a maior veneração pelo bem que pratica e, quanto ao modo de interpretar a vida, não podemos esquecer que Deus é Nosso Pai. Com a mesma tolerância, dentro da qual Ele tem esperado por nossa mais elevada compreensão, aguardará um melhor entendimento de nossa amiga. Cada Espírito tem uma senda diversa a percorrer, assim como cada mundo tem a rota que lhe é peculiar.

E, fixando-me com particular atenção, observou:

A maior lição aqui, André, é a da sementeira que produz, inevitável. Mário Silva, na posição de enfermeiro, não obstante a ruinosa impulsividade em que se caracteriza, tem sido prestimoso e humano, tornando-se credor do carinho alheio. Segundo vemos, não é um homem devotado às lides religiosas. É irritável e agressivo.

De ontem para hoje, chega a sentir-se criminoso... Entretanto, é correto cumpridor dos deveres que abraçou na vida e sabe ser paciente e caridoso, no desempenho das próprias obrigações. Com isso, granjeou a simpatia de muitos e encontramo-lo fraternalmente guardado por uma freira reconhecida...

O ensinamento era efetivamente comovedor. Dispunha-me a prosseguir no comentário, contudo Silva começou a gemer e o Ministro, inclinando-se para ele, demorou-se longo tempo a auscultá-lo.

Em seguida, Clarêncio reergueu-se e falou:

Pobre amigo! permanece impressionado com a morte de Júlio, conservando aflitivo complexo de culpa. Tem o pensamento ligado ao pequenino morto, à maneira de imagem fixada na chapa fotográfica. Passou o dia acamado, sob extrema perturbação.

Observo que não foi à casa de Antonina, conforme previa. Sentiu se vencido, envergonhado... Entretanto, somente nossa irmã possui para ele o remédio indispensável...

Depois de pausa ligeira, indagamos se não nos seria possível socorrê-lo, de modo mais positivo, através de passes, ao que Clarêncio respondeu, seguro de si:

O auxílio dessa natureza ampara-lhe as forças, mas não resolve o problema. Silva deve ser atingido na mente, a fim de melhorar-se. Requisita ideias renovadoras e, no momento, Antonina é a única pessoa capaz de reerguê-lo com mais segurança.

Recordei instintivamente o drama que se desenrolara ao tempo da Guerra do Paraguai, parecendo-me ouvir, de novo, a narração do velho Leonardo Pires.

Assinalando-me o pensamento, o Ministro ponderou:

Tudo na vida tem a sua razão de ser. Noutra época, Silva, na personalidade de Esteves, aliou-se a Antonina, então na experiência de Lola Ibarruri, para se afogarem no prazer pecaminoso, com esquecimento das melhores obrigações da vida. Atualmente, estarão reunidos na recuperação justa. Os que se associam na leviandade, à frente da Lei, acabam esposando enormes compromissos para o reajustamento necessário. Ninguém confunde os princípios que regem a existência.

Decidia-me a desfechar novas interrogações, mas Clarêncio, pousando afetuosamente o indicador sobre os meus lábios, recomendou:

Cessa a curiosidade, André! Quando passamos a explanar sobre a Lei, nossa conversação adquire o sabor de eternidade, e a imposição de serviço nos condiciona ao minuto que passa.

E, indicando o enfermeiro excitado, anunciou:

Na tarde de amanhã, voltaremos para conduzi-lo à residência de nossa irmã. Por intermédio de Antonina, habilitar-se-á para o indispensável reerguimento. Por agora, não podemos fazer mais.

Decorridos alguns instantes, a freira regressou à nossa presença, assistida por outra irmã, que nos cumprimentou com atenciosa reserva.

Ambas haviam sido designadas para a tarefa de auxílio ao cooperador doente. A congregação encarregar-se-ia de todos os trabalhos de vigilância e enfermagem espiritual, enquanto Silva assim permanecesse.

Depois de breve diálogo, saudamo-las com respeitosa cordialidade e nos retiramos, com a promessa de voltar no dia seguinte.

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