Casa Espírita Missionários da Luz - Juventude: > 14 anos 11/08/2023
Tema: Mediunidade de Efeitos Físicos - Agêneres
Objetivo:
Estudar alguns casos de manifestações físicas, entendendo como o Espiritismo explica esses fenômenos;
Analisar exemplos de aparições visíveis, tangíveis ou não, diferenciando esses fenômenos.
Bibliografia:
Livros dos Médiuns, 2ª Parte, Cap. V ‘Manifestações Físicas Espontâneas’ - Fenômeno de Transporte, itens 96 e 99;
Cap. VI – Das Manifestações Visuais, item 100 - pergs 11, 19, 26, 28; itens 102 e 104;
Cap VII – Da bicorporeidade e da transfiguração, item 125;
Cap. XIV itens 160, 161, 165, 167 e 168;
A Gênese, Cap XIV, item II. Explicação de alguns fenômenos considerados sobrenaturais > Aparições. Transfigurações > itens 36 e 38;
RE Fev/1859 > Os agêneres;
RE Jan/1859 > O duende de Bayonne.
Material: prancheta, papel e caneta para cada grupo
Desenvolvimento:
Hora da novidade, exercícios de respiração profunda e prece.
Motivação ao tema:
Falar ao grupo que hoje estudaremos a mediunidade de efeitos físicos.
- Quem sabe que tipo de mediunidade é esse?
- Quem pode dar exemplos?
Kardec tratou esse assunto no Livro dos Médiuns, na 2ª Parte, Cap. V ‘Manifestações Físicas Espontâneas’.
A proposta hoje é estudarmos essa temática a partir de um caso que Kardec publicou na RE de Jan/1859, sob o título de ‘O duende de Bayonne’.
Desenvolvimento do tema
Além de efeitos físicos, vemos diversos outros tipos de mediunidade nesse caso.
O fato foi relatado a Kardec através de cartas que ele recebeu de um dos membros da família.
- Relatar esse caso da Revista Espírita (ver anexo). Os nomes das pessoas foram omitidos.
- Separar o grupo em 2 ou 3 subgrupos, discutirem e responderem às perguntas abaixo, entregando prancheta, papel e caneta para cada grupo:
- Quais os fenômenos mediúnicos o grupo percebeu nesses relatos?
- Porque o Espírito se mostrava a irmã e não à mãe?
- Houve algum fenômeno de emancipação da alma?
- Como o Espírito pôde saber que a família receberia visitas?
- Como o Espírito sabia do conteúdo das cartas antes que a mãe as abrisse?
- Apresentação dos grupos, podendo um complementar o outro.
- trazer maiores informações conforme a bibliografia em anexo:
Fenômenos mediúnicos:
==> “ouvia uma voz’ – audiência
==> “viu uma sombra” – vidência
==> “encontrou algumas moedas” – transporte
==> “Exibiu lhe um castiçal e um livro de orações” – transporte
==> “Abraça-me, porque não posso conservar por muito tempo a forma que tomei”
‘Assim que a abraçou, ele desapareceu no ar” – desmaterializou-se. - aparição tangível não pode ficar muito tempo
==> “um minuto foi bastante para pôr os quartos em completa desordem. Uma substância vermelha, que acredito fosse sangue, tinha sido derramada no soalho” - efeitos físicos
==> “Tomou tua forma tão bem que tua irmã pensou que estivesses na sala” - se apresenta com qualquer forma
==> “ela respondeu que tua irmã estava com teu irmão” - materialização (agênere)
Emancipação da Alma:
==> “logo sentiu que se elevava como uma andorinha” - desdobramento consciente
Mediunidade:
“não me posso mostrar a muitas pessoas” - nem todos são médiuns
Exercícios de respiração profunda, prece final e passes coletivos.
Avaliação:
Encontro com 5 jovens. Não sabiam dizer o que era fenômeno de efeitos físicos. Ao citar as mesas girantes e as irmãs fox, fizeram a conexão. Fizeram a atividade em dupla/trio. Não trouxeram novos questionamentos.
Anexos
Subsídios teóricos:
A Gênese, Cap XIV, item II. Explicação de alguns fenômenos considerados sobrenaturais > Aparições. Transfigurações > 36
É de notar-se que as aparições tangíveis só têm da matéria carnal as aparências; não poderiam ter dela as qualidades. Em virtude da sua natureza fluídica, não podem ter a coesão da matéria, porque, em realidade, não há nelas carne. Formam-se instantaneamente e instantaneamente desaparecem, ou se evaporam pela desagregação das moléculas fluídicas. Os seres que se apresentam nessas condições não nascem, nem morrem, como os outros homens. São vistos e deixam de ser vistos, sem que se saiba donde vêm, como vieram, nem para onde vão. Ninguém os poderia matar, nem prender, nem encarcerar, visto carecerem de corpo carnal. Atingiriam o vácuo os golpes que se lhes desferissem.
Tal o caráter dos agêneres, com os quais se pode confabular, sem suspeitar de que eles o sejam, mas que não demoram longo tempo entre os humanos e não podem se tornar comensais de uma casa, nem figurar entre os membros de uma família.
Ao demais, denotam sempre, em suas atitudes, qualquer coisa de estranho e de insólito que deriva ao mesmo tempo da materialidade e da espiritualidade: neles, o olhar é simultaneamente vaporoso e brilhante, carece da nitidez do olhar através dos olhos da carne; a linguagem, breve e quase sempre sentenciosa, nada tem do brilho e da volubilidade da linguagem humana; a aproximação deles causa uma sensação singular e indefinível de surpresa, que inspira uma espécie de temor; e quem com eles se põe em contacto, embora os tome por indivíduos quais todos os outros, é levado a dizer involuntariamente: Ali está uma criatura singular. *
38. Um efeito peculiar aos fenômenos dessa espécie consiste em que as aparições
vaporosas e, mesmo, tangíveis, não são perceptíveis a toda gente, indistintamente.
Os Espíritos só se mostram quando o querem e a quem também o querem. Um Espírito,
pois, poderia aparecer, numa assembleia, a um ou a muitos dos presentes e não ser visto
pelos demais. Dá-se isso, porque as percepções desse gênero se efetuam por meio
da vista espiritual, e não por intermédio da vista carnal; pois não só aquela não é dada a
toda gente, como pode, se for conveniente, ser retirada, pela só vontade do Espírito, àquele
a quem ele não queira mostrar-se, como pode dá-la, momentaneamente, se entender
necessário.
À condensação do fluido perispirítico nas aparições, indo mesmo até a tangibilidade, faltam
as propriedades da matéria ordinária: se tal não se desse, as aparições seriam perceptíveis
pelos olhos do corpo e, então, todas as pessoas presentes as perceberiam.
Livro dos Médiuns, Cap. V - FENÔMENO DE TRANSPORTE
96. Consiste no trazimento espontâneo de objetos inexistentes no lugar onde estão os observadores. São quase sempre flores, não raro frutos, confeitos, jóias, etc.
“Em geral, os fatos de transporte são e continuarão a ser extremamente raros.”
“Com efeito, é necessário que entre o Espírito e o médium influenciado exista certa afinidade, certa analogia; em suma: certa semelhança capaz de permitir que a parte expansível do fluido perispirítico do encarnado se misture, se una, se combine com o do Espírito que queira fazer um transporte.”
“Só então pode, mediante certas propriedades, que desconheceis, do vosso meio ambiente, isolar, tornar invisíveis e fazer que se movam alguns objetos materiais e mesmo os encarnados.”
“Tende, ao contrário, como certo que, na intimidade, os ditos fenômenos se produzem quase sempre espontaneamente, as mais das vezes à revelia dos médiuns e sem premeditação, sendo muito raros quando esses se acham prevenidos.”
99. (sobre os prejuízos no lugar de origem do objeto trazido)
Um objeto só pode ser substituído por outro objeto idêntico, da mesma forma, do mesmo valor. Conseguintemente, se um Espírito tivesse a faculdade de substituir, por outro objeto igual, um de que se apodera, já não teria razão para se apossar deste, visto que poderia dar o de que se iria servir para substituir o objeto retirado.
Livro dos Médiuns Manifestações Visuais (Cap. VI), item 100.
11ª Poderá aquele a quem um Espírito apareça travar com ele conversação?
“Perfeitamente e é mesmo o que se deve fazer em tal caso, perguntando ao Espírito quem ele é, o que deseja e em que se lhe pode ser útil. Se se tratar de um Espírito infeliz e sofredor, a comiseração que se lhe testemunhar o aliviará. Se for um Espírito bondoso, pode acontecer que traga a intenção de dar bons conselhos.”
19ª A visão dos Espíritos se produz no estado normal, ou só estando o vidente num estado extático?
“Pode produzir-se achando-se este em condições perfeitamente normais. Entretanto, as pessoas que os veem se encontram muito amiúde num estado próximo do de êxtase, estado que lhes faculta uma espécie de dupla vista.” (O Livro dos Espíritos, nº 447.)
26ª De que depende, para o homem, a faculdade de ver os Espíritos, em estado de vigília?
“Depende da organização física. Reside na maior ou menor facilidade que tem o fluido do vidente para se combinar com o do Espírito. Assim, não basta que o Espírito queira mostrar-se, é preciso também que encontre a necessária aptidão na pessoa a quem deseje fazer-se visível.”
28ª Podem os Espíritos tornar-se visíveis sob outra aparência que não a da forma humana?
“A humana é a forma normal. O Espírito pode variar-lhe a aparência, mas sempre com o tipo humano.”
a) Não podem se manifestar sob a forma de chama?
“Podem produzir chamas, clarões, como todos os outros efeitos, para atestar sua presença; mas, não são os próprios Espíritos que assim aparecem. A chama não passa muitas vezes de uma miragem, ou de uma emanação do perispírito.”
(Livro dos Médiuns, Cap. VI - Manifestações Visuais )
102. As aparições propriamente ditas se dão quando o vidente se acha em estado de vigília e no gozo da plena e inteira liberdade das suas faculdades. Apresentam-se, em geral, sob uma forma vaporosa e diáfana, às vezes vaga e imprecisa. A princípio é, quase sempre, uma claridade esbranquiçada, cujos contornos pouco a pouco se vão desenhando. Doutras vezes, as formas se mostram nitidamente acentuadas, distinguindo-se os menores traços da fisionomia, a ponto de se tornar possível fazer-se da aparição uma descrição completa.
Podendo tomar todas as aparências, o Espírito se apresenta sob a que melhor o faça reconhecível, se tal é o seu desejo.
104. O Espírito, que quer ou pode se fazer visível, reveste às vezes uma forma ainda mais precisa, com todas as aparências de um corpo sólido, ao ponto de causar completa ilusão e dar a crer, aos que observam a aparição, que têm diante de si um ser corpóreo. Em alguns casos, finalmente, e sob o império de certas circunstâncias, a tangibilidade se pode tornar real, isto é, possível se torna ao observador tocar, palpar, sentir, na aparição, a mesma resistência, o mesmo calor que num corpo vivo, o que não impede que a tangibilidade se desvaneça com a rapidez do relâmpago. Nesses casos, já não é somente com o olhar que se nota a presença do Espírito, mas também pelo sentido tátil.
(LM, 2a parte, Cap VII – Da bicorporeidade e da transfiguração > Invisibilidade, item 125)
Resta-nos falar do singular fenômeno dos agêneres que, por muito extraordinário que pareça à primeira vista, não é mais sobrenatural do que os outros. Porém, como o explicamos na Revue Spirite (fevereiro de 1859), julgamos inútil tratar dele aqui pormenorizadamente. Diremos tão-somente que é uma variedade da aparição tangível. É o estado de certos Espíritos que podem revestir momentaneamente as formas de uma pessoa viva, ao ponto de causar completa ilusão.
O Livro dos Médiuns, Cap. XIV – Dos Médiuns
160. Os médiuns de efeitos físicos são particularmente aptos a produzir fenômenos materiais, como os movimentos dos corpos inertes, ou ruídos, etc. Podem dividir-se em médiuns facultativos e médiuns involuntários.
161. Os médiuns involuntários ou naturais são aqueles cuja influência se exerce a seu mau grado. Nenhuma consciência têm do poder que possuem e, muitas vezes, o que de anormal se passa em torno deles não se lhes afigura de modo algum extraordinário. (...)
Manifestam-se em todas as idades e, frequentemente, em crianças ainda muito novas.
(LM, Cap. XIV ‘Dos Médiuns’) 3. MÉDIUNS AUDIENTES
165. Estes ouvem a voz dos Espíritos. É algumas vezes uma voz interior, que se faz ouvir no foro íntimo; doutras vezes, é uma voz exterior, clara e distinta, qual a de uma pessoa viva.
(LM, Cap. XIV ‘Dos Médiuns’) 5. MÉDIUNS VIDENTES
167. Os médiuns videntes são dotados da faculdade de ver os Espíritos. Alguns gozam dessa faculdade em estado normal, quando perfeitamente acordados, e conservam lembrança precisa do que viram.
168. A faculdade consiste na possibilidade, senão permanente, pelo menos muito frequente de ver qualquer Espírito que se apresente, ainda que seja absolutamente estranho ao vidente. A posse desta faculdade é o que constitui, propriamente falando, o médium vidente.
REVISTA ESPÍRITA - 1859 > JANEIRO > O DUENDE DE BAYONNE (só alguns trechos)
A família reside perto de Bayonne e as cartas foram escritas pela própria mãe da menina, uma criança de dez anos, a seu filho que mora em Bordéus, pondo-o ao corrente do que se passava em casa.
23 de abril de 1855.
Há cerca de três meses, uma tarde, tua irmã X teve necessidade de sair para fazer uma compra. Como sabes, o corredor da casa é longo e nunca iluminado e X já nos havia dito que cada vez que saía ouvia uma voz a lhe dizer coisas que a princípio não compreendia, mas que depois se tornaram inteligíveis.
Algum tempo depois ela viu uma sombra e, no trajeto, não cessava de ouvir a mesma voz. As palavras ditas por esse ser invisível tendiam sempre a tranquilizá-la e a lhe dar sábios conselhos. X ficava muito perturbada.
_ “Criança”, - dizia-lhe o invisível cada vez que ela se perturbava - “nada temas, pois quero apenas o teu bem.”
Ensinou-lhe um lugar onde por vários dias ela encontrou algumas moedas; de outras vezes nada encontrou. X conformou-se com a recomendação que lhe foi dada, e durante muito tempo ou encontrava dinheiro ou alguns brinquedos que verás. Certamente esses presentes lhe eram dados com o fito de encorajá-la.
Não eras esquecido na conversa desse ser. Muitas vezes ele falava de ti e nos dava as tuas notícias por intermédio de tua irmã. Várias vezes ele nos pôs a par do que fazias à noite. Viu-te a ler em teu quarto; outras vezes nos disse que os teus amigos estavam reunidos em tua casa; enfim ele nos acalmava, sempre que a preguiça te impedia de nos escrever.
De algum tempo para cá, X tem contatos quase que contínuos com o invisível. Durante o dia ela nada vê. Ouve sempre a mesma voz que lhe dirige palavras sensatas, não cessando de estimulá-la ao trabalho e ao amor a Deus. À noite ela vê, na direção de onde parte a voz, uma luz rósea que não ilumina, mas que, em sua opinião, poderia ser comparada ao faiscar de um diamante na sombra.
Agora ela perdeu o medo completamente. Aconselhei X a interrogar o invisível quanto à sua natureza. Eis a conversa de ambos:
X. ─ Quem és tu?
Inv. ─ Sou teu irmão Eliseu.
X. ─ Meu irmão morreu há doze anos.
Inv. ─ É verdade. Teu irmão morreu há doze anos, mas havia nele, como há em todos os seres, uma alma que não morre e que neste mesmo instante se acha em tua presença, te ama e protege a todos.
X. ─ Gostaria de ver-te.
Inv. ─ Estou à tua frente.
X. ─ Contudo nada vejo.
Inv. ─ Tomarei uma forma visível para ti. Depois da cerimônia religiosa descerás; então tu me verás e eu te abraçarei.
X. ─ Mamãe também gostaria de conhecer-te.
Inv. ─ Tua mãe é minha mãe. Ela me conhece. Preferiria manifestar-me a ela do que a ti. Esse era o meu dever, mas não me posso mostrar a muitas pessoas, pois Deus não o permite.
À tarde, à hora marcada, X foi à porta do templo. Um rapaz apresentou-se a ela e disse: “Eu sou o teu irmão. Disseste que me querias ver. Estás satisfeita? Abraça-me, porque não posso conservar por muito tempo a forma que tomei.”
Como bem compreendes, a presença desse ser deveria ter espantado X a ponto de impedi-la de fazer qualquer observação. Assim que a abraçou, ele desapareceu no ar.
Na manhã seguinte, aproveitando o momento em que X deveria sair, o invisível se manifestou novamente e lhe disse:
“Deverias ter ficado muito surpreendida com o meu desaparecimento. Pois bem, eu te quero ensinar a elevar-te nos ares, para que me possas acompanhar.”
Qualquer outra que não X teria ficado com medo de tal proposta. Ela, porém, aceitou-a com entusiasmo e logo sentiu que se elevava como uma andorinha. Em pouco tempo chegou a um lugar onde havia uma multidão considerável.
Reconheceu várias crianças de sua idade que moravam na nossa rua e que faleceram há muito tempo.
Quando voltou, censurei-a por se ter ausentado sem minha autorização e a proibi expressamente de retomar tais excursões. O invisível lhe manifestou pesar por me haver contrariado e lhe prometeu formalmente que, de então em diante, não a convidaria mais para se ausentar sem que eu fosse avisada.
26 de abril.
O invisível transformou-se aos olhos de X. Tomou tua forma tão bem que tua irmã pensou que estivesses na sala. Para certificar-se, ela lhe pediu que tomasse sua forma primitiva. Pois assim que desapareceste, foste substituído por mim. Seu espanto foi grande: perguntou como eu me achava ali, sendo que a porta do salão estava fechada a chave. Então ocorreu uma nova transformação: ele tomou a forma do irmão morto e disse a X:
_ “Tua mãe e todos os membros da família não veem sem espanto e mesmo sem um certo receio todos os fatos que se realizam por minha intervenção. Meu desejo não é amedrontar; contudo, quero provar minha existência e te pôr ao abrigo da incredulidade de todos, pois que poderiam tomar como mentira tua o que seria da parte deles uma obstinação em não se renderem à evidência. A senhora C. é lojista; sabes que é preciso comprar botões; iremos ambos comprá-los. Eu me transformarei em teu irmãozinho (ele tinha então nove anos) e quando voltares para casa pedirás à mamãe que mande perguntar à senhora C. quem estava contigo no momento em que os botões foram comprados.”
X observou as instruções. Eu mandei perguntar à senhora C. e ela respondeu que tua irmã estava com teu irmão, a quem muito elogiou, dizendo que, em sua idade, ninguém poderia pensar que tivesse respostas tão fáceis e, sobretudo, tão pouca timidez. É bom que saibas que o pequeno estava no colégio desde cedo e que só voltaria às sete horas. Além disso, é muito tímido e não tem aquela facilidade que lhe querem atribuir. É muito curioso, não achas? Creio que a mão de Deus não é estranha a essas coisas inexplicáveis.
7 de maio de 1855.
Não sou mais crédula do que se deve ser e não me deixo dominar por ideias supersticiosas. Contudo não posso me recusar a crer em fatos que se realizam sob minhas vistas. Ontem, por volta das cinco horas, o invisível disse a X:
_“É provável que a mamãe te mande a algum lugar, para dar um recado. No caminho serás agradavelmente surpreendida pela chegada da família de teu tio”.
Imediatamente X me transmitiu o que o invisível lhe havia dito. Eu estava longe de esperar tal visita e fiquei ainda mais surpresa por ficar sabendo dessa maneira. Tua irmã saiu e as primeiras pessoas que encontrou foram realmente meu irmão, sua mulher e seus filhos, que nos vinham ver. X apressou-se em dizer que eu tinha uma prova a mais da veracidade de tudo quanto ela me dizia.
l0 de maio de 1855.
Hoje não posso mais duvidar de que algo de extraordinário acontece em casa. Vejo sem medo se realizarem todos esses fatos singulares, dos quais, entretanto, não posso extrair nenhum ensinamento, porque esses mistérios me são inexplicáveis.
Ontem, depois de ter arrumado toda a casa, e sabes que é uma coisa a que ligo especial atenção, o invisível disse a X que, a despeito das provas que havia dado de sua intervenção em todos os fatos curiosos que te contei, eu ainda tinha dúvidas que ele queria eliminar por completo. Sem que se tivesse ouvido qualquer ruído, um minuto foi bastante para pôr os quartos em completa desordem. Uma substância vermelha, que acredito fosse sangue, tinha sido derramada no soalho. Se tivessem sido apenas algumas gotas, eu teria pensado que X se tivesse cortado ou sangrado pelo nariz; mas fica sabendo que o soalho ficou inundado. Esta prova esquisita deu nos um trabalho considerável para restituir ao piso do salão o seu primitivo brilho.
Antes de abrir as cartas que nos escreves, X conhece o conteúdo. É o invisível quem lho transmite.
16 de maio de 1855.
X não aceitou uma observação que a irmã lhe fez, não sei a propósito de quê,.deu uma resposta inconveniente e teve a merecida reprimenda. Castiguei-a e ela foi deitar-se sem jantar. Antes de dormir ela tem o hábito de rezar a Deus. Essa noite ela esqueceu. Mas alguns instantes depois de deitada o invisível lhe apareceu. Exibiu lhe um castiçal e um livro de orações semelhante ao que ela habitualmente usava, e lhe disse que, apesar da punição que ela merecera, não devia se esquecer de cumprir sua obrigação. Então ela se levantou, fez o que ele ordenara e tudo desapareceu quando a prece terminou.
Na manhã seguinte, depois de me haver abraçado, X me perguntou se o castiçal que se achava sobre a mesa no andar superior do seu quarto tinha sido retirado. Ora, esse castiçal, semelhante ao que lhe havia sido apresentado na véspera, não tinha mudado de lugar, assim como o seu livro de preces.
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Evocamos esse Espírito numa das sessões da Sociedade e lhe dirigimos as perguntas abaixo. O Sr. Adrien o viu com a fisionomia de um menino de 10 a 12 anos: bela cabeça, cabelos negros e ondulados, olhos negros e vivos, pálido, lábios irônicos, caráter leviano, mas bondoso. O Espírito disse ignorar por que o evocavam.
Nosso correspondente estava presente à sessão e disse que seus traços correspondem perfeitamente aos que a menina lhe descreveu em várias circunstâncias.
2 ─ Onde apanhaste o dinheiro que davas à tua irmã?
─ Tirei do bolso dos outros. Os senhores compreendem que eu não me iria divertir em cunhar moedas. Pego daqueles que podem dá-las.
3 ─ Por que te ligaste àquela menina?
─ Por grande simpatia.
4 ─ É certo que foste seu irmão, falecido aos quatro anos?
─ Sim.
11 ─ (A São Luís). Seria útil termos às nossas ordens um Espírito assim?
─ Muitas vazes os tendes junto a vós, a vos assistir sem que o suspeiteis.
CONSIDERAÇÕES SOBRE O DUENDE DE BAYONNE
O Espírito de Bayonne é eminentemente benévolo e obsequiador; é o tipo desses bons Espíritos serviçais, cujos feitos nos são transmitidos pelas lendas alemãs, nova prova de que nas histórias lendárias pode haver um fundo de verdade. Aliás é de convir que a imaginação pouco teria a fazer para colocar estes fatos no plano de uma lenda e que os mesmos poderiam ser tomados como uma história medieval se não se passassem, por assim dizer, aos nossos olhos.
Um dos traços mais notáveis do Espírito a quem demos o nome de Duende de Bayonne são as suas transformações. Ele se tornava visível e tangível, como uma pessoa real, não só para a irmã, como para estranhos; testemunha-o a compra de botões na lojista. Por que não se mostrava a todos e a toda hora? Eis o que ignoramos. Parece que não tem tal poder e que mesmo não podia ficar muito em tal estado. Talvez que para isso fosse necessário um trabalho íntimo, um poder da vontade acima de suas forças.
RE Fev/1859 > Os agêneres
Como para nos entendermos necessitamos de um nome para cada coisa, a Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas os chama agêneres, para indicar que sua origem não é o resultado de uma geração.
O fato que se segue, ocorrido recentemente em Paris, parece pertencer a esta categoria.
Uma pobre mulher estava na Igreja de São Roque e pedia a Deus que a auxiliasse na sua aflição. À saída, na Rua Santo Honorato, encontra um senhor que a aborda e lhe diz:
─ Minha boa senhora, ficaria contente se arranjasse trabalho?
─ Ah! Meu bom senhor, responde ela, peço a Deus que me faça este favor, porque estou muito necessitada.
─ Então vá à rua tal, número tanto. Procure a Senhora T... e ela lhe dará trabalho.
Dito isto, continuou o seu caminho. A pobre mulher foi sem demora ao endereço indicado.
A senhora procurada lhe disse:
─ Com efeito, tenho um trabalho para mandar fazer. Mas como não o disse a ninguém, não sei como pôde a senhora vir procurar-me.
Então a pobre necessitada, avistando um retrato na parede, respondeu.
─ Senhora, foi esse cavalheiro que me mandou.
─ Este cavalheiro? retrucou espantada a senhora. Mas é impossível! Este é o retrato de meu filho, falecido há três anos.
─ Não sei como pode ser isto, mas eu vos asseguro que foi esse senhor que eu encontrei ao sair da igreja, onde tinha ido pedir auxílio a Deus. Ele me abordou e foi ele mesmo que me mandou aqui.
De acordo com o que acabamos de ver, nada existe de surpreendente em que o Espírito do filho daquela senhora, a fim de prestar um serviço à pobre mulher, cuja prece por certo ouvira, lhe tenha aparecido sob a forma corpórea, para lhe indicar o endereço da própria mãe. Em que se transformou depois? Sem dúvida no que era antes: um Espírito, a menos que tivesse achado oportuno mostrar-se a outras pessoas sob a mesma aparência, continuando o seu passeio. Aquela mulher teria, assim, encontrado um agênere com o qual conversara.
Perguntarão, entretanto, por que não se teria apresentado à sua mãe?
Nestas circunstâncias, os motivos que determinam a ação dos Espíritos nos são completamente desconhecidos: agem como bem lhes parece, ou antes, conforme disseram, em virtude de uma permissão sem a qual não podem revelar a sua existência de um modo material. Aliás, compreende-se que a sua presença pudesse causar à mãe perigosa emoção. Quem sabe se não se apresentou a ela durante o sono ou de qualquer outro modo? Não terá sido, além disso, um meio de revelar-lhe sua existência?
É bem provável que ele tivesse sido testemunha invisível do encontro das duas senhoras.
Não nos parece que o Duende de Bayonne deva ser considerado como agênere, pelo menos nas circunstâncias em que se manifestou, pois que, para a família, ele teve sempre as características de um Espírito, que nunca procurou dissimular. Era o seu estado permanente. As aparências corporais que revestia eram apenas acidentais, ao passo que o agênere propriamente dito não revela a sua natureza e aos nossos olhos não passa de um homem comum. Sua aparição corpórea pode ter longa duração, conforme a necessidade, a fim de estabelecer relações sociais com um ou vários indivíduos.
Pedimos ao Espírito de São Luís a bondade de nos esclarecer sobre estes diversos pontos, respondendo às nossas perguntas.
1 ─ O Espírito do Duende de Bayonne podia mostrar-se corporalmente em outros lugares e a outras pessoas, além da sua família?
─ Sim, sem dúvida.
2 ─ Isto depende de sua vontade?
─ Não exatamente. O poder dos Espíritos é limitado. Só fazem o que lhes é permitido.
3 ─ Que aconteceria se se apresentasse a um desconhecido?
─ Tê-lo-iam tomado por uma criança comum. Dir-vos-ei entretanto uma coisa: por vezes existem na Terra Espíritos que revestem essa aparência e são tomados como homens.
4 ─ Tais seres pertencem à categoria dos Espíritos superiores ou dos inferiores?
─ Podem pertencer a uma ou a outra. São fatos raros, de que há exemplos na Bíblia.
5 ─ Raros ou não, basta a sua possibilidade para que mereçam atenção. Que aconteceria se, tomando tal ser por um homem comum, lhe fizessem um ferimento mortal? Ele morreria?
─ Desapareceria subitamente, como o jovem de Londres.
6 ─ Eles têm paixões?
─ Sim. Como Espíritos, têm as paixões dos Espíritos, conforme a sua inferioridade. Se tomam um corpo aparente é, por vezes, para gozar das paixões humanas. Se são elevados, é com um fim útil.
7 ─ Podem procriar?
─ Deus não o permitiria. Isto é contrário às leis por ele estabelecidas na Terra e elas não podem ser contrariadas.
8 ─ Se um tal ser se nos apresentasse, teríamos um meio de reconhecê-lo?
─ Não, a não ser pelo desaparecimento inesperado. Seria o mesmo que o transporte de móveis de um para outro andar, que lestes anteriormente.
9 ─ Qual é o objetivo que pode levar certos Espíritos a tomar esse estado corporal? Eles agem para o bem ou para o mal?
─ Muitas vezes para o mal. Os bons Espíritos têm a seu favor a inspiração. Agem sobre a alma e pelo coração. Sabeis que as manifestações físicas são produzidas por Espíritos inferiores, e as de que tratamos são dessa categoria. Entretanto, como disse, os bons Espíritos também podem tomar essa aparência corporal, com um fim útil. Digo isto em princípio geral.
10 ─ Nesse estado podem tornar-se visíveis ou invisíveis à vontade?
─ Sim, pois podem desaparecer quando quiserem.
11 ─ Têm eles um poder oculto superior ao dos homens?
─ Têm apenas aquele que lhes dá a sua categoria na escala dos Espíritos.
12 ─ Têm necessidade real de alimento?
─ Não. O seu corpo não é real.
13 ─ Entretanto o jovem de Londres, embora não tivesse um corpo real, tomou o café da manhã com os amigos e lhes apertou a mão. Que aconteceu com o alimento ingerido?
─ Antes de apertar a mão, onde estavam os dedos que apertam? Compreendeis que o corpo desapareça? Por que não quereis compreender que também desapareça a matéria? O corpo do jovem de Londres não era real, pois se achava em Boulogne; era, portanto, aparência. Dava-se o mesmo com o alimento que parecia ingerir.
14 ─ Se tivéssemos entre nós um ser dessa espécie, isso seria bom ou ruim?
─ Seria ruim. Ademais, não é possível manter contatos prolongados com tais seres. Não vos podemos dizer muita coisa. Esses fatos são excessivamente raros e jamais têm um caráter de permanência. Ainda mais raras são as aparições corpóreas instantâneas, como a de Bayonne.
15 ─ Algumas vezes o Espírito protetor familiar toma essa forma?
─ Não. Não dispõe ele de recursos interiores? Ele os manipula com mais facilidade do que o faria sob uma forma visível e o tomássemos por um de nossos semelhantes.
16 ─ Perguntam se o Conde de Saint-Germain não pertenceria à categoria dos agêneres.
─ Não. Ele era um hábil mistificador.
A história do jovem de Londres, relatada em nosso número de dezembro, é um fato de bicorporeidade, ou antes, de dupla presença, que difere essencialmente daquele de que tratamos. O agênere não tem corpo vivo na Terra; apenas o seu perispírito toma forma palpável. O jovem de Londres era perfeitamente vivo.
Enquanto seu corpo dormia em Boulogne, seu espírito, envolvido pelo perispírito, foi a Londres, onde tomou uma aparência tangível.
Aconteceu conosco um fato quase análogo. Enquanto estávamos calmamente na cama, um de nossos amigos nos viu várias vezes em sua casa, posto que sob aparência não tangível, sentando-nos a seu lado e conversando com ele, como de hábito. Uma vez nos viu de “chambre”, outras vezes de paletó. Transcreveu nossa conversa e no-la remeteu no dia seguinte. Percebe-se bem que era relativa a nossos trabalhos prediletos. Querendo fazer uma experiência, ofereceu-nos refresco. Eis a nossa resposta: “Não tenho necessidade disto, porque não é o meu corpo que está aqui, vós o sabeis. Não há a menor necessidade, portanto, de criar para vós uma ilusão.”
Uma circunstância muito esquisita ocorreu então. Quer por disposição natural, quer como resultado de nossos trabalhos intelectuais, sérios desde a nossa juventude, quase diríamos, desde a infância, o fundo de nosso caráter foi sempre de extrema gravidade, mesmo na idade em que não se pensa senão nos prazeres. Esta preocupação constante nos dá uma aparência de frieza, mesmo de muita frieza. É isto, pelo menos, o que muitas vezes nos tem sido censurado. Mas sob esse envoltório aparentemente glacial, talvez o Espírito sinta mais vivamente do se houvesse uma maior expansão exterior. Ora, em nossas visitas noturnas ao nosso amigo, ele ficou muito surpreso por nos ver completamente diferente: éramos mais extrovertido, mais comunicativo, quase alegre. Tudo em nós revelava a satisfação e a calma de sentir-se bem. Não estará aí um efeito do Espírito desprendido da matéria?
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