Casa Espírita Missionários da Luz
Juventude:
> 13 anos 11/09/2020
Estudo
virtual no Google Meet
- Conhecer como acontecem as reuniões mediúnicas nas CEs e seus objetivos.
Bibliografia:
Livros dos Médiuns, Cap. 25, item 281 (objetivo das evocações), Cap. 29,
itens 324, 331, 333, 335 e 341 (reuniões espíritas);
Diálogo com as Sombras, Hermínio Miranda;
Reuniões Mediúnicas, Projeto Manoel Philomeno de Miranda (papéis dos
participantes e objetivos das reuniões);
Recordações da Mediunidade, Yvonne Pereira, Cap.8 Complexos Psíquicos
Material:
Preparar uma pesquisa de conhecimento prévio através da ferramenta Mentimeter, com as perguntas: “O que são reuniões mediúnicas?” “Quais são os participantes de uma reunião mediúnica?” “Quais os tipos de Espíritos que se comunicam nas reuniões mediúnicas nas CEs?” “Quem escolhe quais Espíritos se comunicarão?”
Obs.: a versão grátis do Mentimeter só permite 2 perguntas. Usar 2 usuários, ou só fazer duas perguntas mesmo.
Desenvolvimento:
1.
Hora
da novidade, exercícios de respiração profunda e prece de início do encontro.
2. Motivação ao tema:
Compartilhar a tela do Mentimeter para que possam pegar o link e código
para responderem às perguntas (via acesso pelo celular)
è para cada pergunta,
copiar a tela com a nuvem de respostas dadas, colando no grupo whatsapp.
3.
Desenvolvimento
do tema
Conduzir o
início das reflexões a partir das respostas na pesquisa. Direcionar as perguntas a diferentes jovens, possibilitando que todos
possam participar.
Qtde: Esclarecer que na nossa Casa, o ideal é em
torno de 10 às 12 participantes. Não existe um número definido como norma.
Papéis: Dirigente, médiuns, dialogadores, sustentação
Objetivo: aprendizado para os encarnados, atendimento
aos espíritos sofredores. Também temos orientações dos mentores espiritais da
Casa Espírita.
Quem se comunica? Espíritos sofredores, obsessores, mistificadores,
mentores espirituais da CE, Espíritos amigos dos comunicantes
Quem escolhe quem vai se comunicar? A equipe espiritual
que dirige o trabalho mediúnico do grupo. Não costumamos fazer evocações. As
comunicações são todas espontâneas.
Como vocês
acham que acontece o diálogo entre o dialogador e o Espírito comunicante?
èO dialogador não sabe quem é o Espírito, então,
precisa conversar com ele para procurar perceber qual o problema dele, a razão
do sofrimento dele, motivo pelo qual os mentores o trouxeram para a reunião. É
preciso muita atenção, respeito, desejo sincero de ajudar o Espírito,
procurando entender sua problemática e orientar com as diretrizes evangélicas.
Todos os
Espíritos que se comunicam sabem que estão desencarnados?
èNão.
Nesse
caso, devemos contar-lhes que já desencarnaram?
èDepende da situação de esclarecimento do
Espírito com relação à vida após a morte. É preciso muito tato e cuidado para
ir passando informações sobre a imortalidade.
O Espírito
comunicante se encontra na sala da reunião mediúnica?
ènem sempre! Às vezes é o médium que se desloca
até o Espírito, através de desdobramento (emancipação da alma)
Quando
acaba o diálogo?
èQuando o Espírito é atendido, adormecido, ou depois de um tempo quando o diálogo não evolui.
4. Fixação do conteúdo: simulação de uma reunião mediúnica. Pedir voluntário para o papel de dialogador. O evangelizador será o Espírito comunicante. Os demais devem acompanhar em silêncio o diálogo. (Informações sobre o Espírito comunicante em anexo)
Após um
tempo de comunicação, fazer a avaliação com o grupo do atendimento feito;
- o Espírito foi atendido?
Reforçar que é sempre preciso avaliar todas as comunicações ocorridas durante a reunião.
5. Prece
final
Avaliação:
Encontro com 11 jovens, com
interesse e participação. Fizemos a nuvem de palavras com as quatro perguntas,
e eles tinham ideias dentro do contexto das reuniões mediúnicas. Ninguém sabia da
existência do papel do dirigente da reunião! Nem das características do papel
do dialogador. A simulação com o caso do Pedrinho foi ótima. 3 jovens
participaram como dialogadores.
Anexos
Informações sobre o Espírito comunicante e
trechos adaptados do diálogo relatado por Yvonne Pereira em Recordações da Mediunidade – Cap. 8 -
Complexos psíquicos:
Pelo ano de 1958, um parente meu, a quem nestas
páginas tratarei pela inicial C, adoeceu
gravemente, declarando os médicos consultados tratar- se de úlcera do
duodeno. Chamada que fui, do Estado de Minas Gerais, onde então me encontrava,
a fim de auxiliar no tratamento ao doente, logo de início constatei, por minha
vez, que, além da enfermidade física, muito bem diagnosticada pelos médicos,
existiam ainda, na pessoa de C, as influências psíquicas deletérias de duas
entidades desencarnadas sofredoras, agravando-lhe o mal, as quais eu distinguia facilmente, através da vidência,
detendo-se, de preferência, no próprio aposento particular de C, uma delas com
a particularidade de se deixar ver deitada no soalho, sobre uma velha esteira e
um travesseiro roto e seboso, sem fronha, e coberto com uns miseráveis restos
de cobertor. (...)
Tratava-se do fantasma de um homem de cor negra, regulando quarenta anos de idade, alto e corpulento, obeso, indicando enfermidade grave, pois dir-se-ia atacado de inchação geral, como quem padecesse de grandes males renais. Os pés, muito visíveis, estavam descalços e traíam inchação impressionante e a entidade se deixava ver muito pobremente trajada.
O meu parente C residia numa casa recém adquirida, no Rio de Janeiro, casa que fora reformada pelo anterior proprietário e que por isso mesmo tomara aspecto assaz agradável. Essa casa, no entanto, fora erguida em terreno onde existira um casebre, sendo este demolido para a nova construção.
Uma vez, transportada ao estado de espírito semi liberto, vi que desaparecera a casa atual e, em seu lugar, via-se apenas um terreno com um casebre construído em adobes, coberto de telhas velhas, com janelas minúsculas, sem vidros, e portas muito toscas, de tábuas grosseiras, e chão de terra batida. Algumas plantações já arruinadas se deixavam ver, tais como couves, quiabos, gilós, etc., e, sobrepondo-se a todas, pela quantidade, arbustos de ervilhas com estacas de taquara. Compreendi que ali existira viçosa chácara de hortaliças, mas que a decadência adviera depois, por circunstâncias que no momento não me foi possível compreender. Dois ou três galos de briga, tipo chinês, iam e vinham pelo terreno, ciscando e cacarejando.
Lixo amontoado a um canto e sinais suspeitos de fogo em círculo indicavam a esterqueira para o adubo às plantas e também que o habitante do casebre fora dado à prática de magias, de “macumba”, como vulgarmente é conhecida a dita prática no dialeto popular brasileiro.
Um negro ainda moço, ou o seu Espírito, corpulento, simpático, cuidava das ervilhas com muita atenção, amarrando-as com tiras de “imbira” às estacas. Usava camisa branca andrajosa, calças escuras com muito uso e sujas de terra, chapéu de feltro velhíssimo, e tudo oferecendo visão de extrema pobreza e decadência. Pés descalços, inchados, como que atacados de elefantíase, enquanto o corpo reluzia, deformado pela inchação.
Com a orientação do Espírito Guia Charles, fui
informada de que aquela entidade chamara-se Pedro, quando encarnada, residira
no casebre, e que, agora, desencarnada, continuava no mesmo local, fixando o
pensamento no cenário passado e, por
isso mesmo, construindo-o ao derredor de si, para seu desfruto
ou seu infortúnio, à força de tanto recordá-lo, sendo, portanto, esse o
seu “ambiente imediato”, ou seja, tipo de criação mental sólida.
Charles acrescentou:
— “Entrego-te esse pobre irmão para que o
consoles dos seus infortúnios, instruindo-o nos princípios da renúncia aos
bens terrenos, que ainda aprecia, pela aquisição dos bens espirituais.
Compreendi que insólita confusão se estabelecera no entendimento do pobre Espírito, o qual, se via nova casa no local da sua e a reforma geral do terreno, também continuava vivendo no seu amado casebre, o que equivale dizer que, criando ele mesmo o seu ambiente, através das recordações fixadas na mente, residia, como Espírito, entre nós outros, os moradores do prédio novo, ao passo que, se se deitava na sua velha esteira, eu o distinguia deitado no soalho do próprio quarto de dormir de C.
A verdade era que, tal fora a série de
sofrimentos físicos que atingira o chamado Pedro, quando homem, que, agora,
traumatizadas a sua mente e respectivas vibrações, transportara para o perispírito os complexos do estado de
encarnação, conservando, por isso mesmo, as aparências da antiga enfermidade e
os sofrimentos outrora experimentados.
Tudo indicava que ele, Pedro, vivera pobremente, do produto da sua pequena horta, e que mais tarde, advindo a enfermidade inclemente, tornara-se miserável, assim morrendo à míngua de recursos. Tratava-se, como se vê, de um pobre ser assaz ignorante e não propriamente mau, mas difícil de se convencer do estado anormal em que vivia, dado, realmente, a sua pequena capacidade de compreensão das coisas.
Lembro-me ainda de que, da primeira vez que me
defrontei com a entidade em questão, de modo a poder falar-lhe:
— Bom dia, Pedrinho, como tem passado você?
— Bom dia, Sinhá... Vai-se indo com a graça de
Deus... Não ando bom nem nada, Sinhá, como a Senhora vê, estou cada vez pior...
— É, vejo que você não está muito bem mesmo... E trabalhando assim... Quer que eu o ajude a amarrar as ervilhas às estacas? Você está um pouco fraco, Pedrinho, esse serviço é penoso para uma pessoa nas suas condições... e assim você se cansará cada vez mais...
- Tenho muitas dores no corpo e não consigo mais me alimentar.
- E você chegou a orar para Jesus, Pedrinho? Jesus está sempre pronto a auxiliar os necessitados. Ele curou cegos, paralíticos, leprosos.
— Ah, Sinhá! Se eu vivesse no tempo dele, não é
verdade que ele me curaria dessa minha doença também?
— O tempo é sempre o mesmo, Pedrinho, o Divino Mestre não nos abandonou, e estou certa de que há de curar também a sua doença... A sua cura já começou, meu irmãozinho, e dentro em breve você não sentirá mais nada do que vem sofrendo, estará fortalecido e feliz, para conquistar o futuro.
_ E mesmo depois da morte, Jesus continua ajudando a todos os que precisam.
— Deus permita que seja assim mesmo, porque eu tenho muito medo de ir para o inferno, quando morrer...
— Quer um médico para se consultar, Pedrinho? Essa doença não vale nada, isso é apenas o seu pensamento, que recorda o tempo em que a doença existiu, fazendo você sofrer novamente... Contudo, ainda assim, você precisa de certo tratamento para a enfermidade da alma, pois é a sua alma que está doente... Será melhor você ir para um hospital, porque lá haverá conforto, tratamento adequado, enfermeiros para atendê-lo, além dos médicos, e tudo será gratuito. Se você quiser, arranjarei sua entrada num hospital muito bom, que eu conheço...
— Eu
quero ir para um hospital, sim, a questão é encontrar uma pessoa para tratar
das minhas galinhas e das minhas plantas... Não posso ir porque, além de tudo,
preciso refazer minha hortinha para ganhar alguma coisa, não posso continuar
nessa miséria...
— Ora, em primeiro lugar está a sua saúde, porque doente ninguém pode trabalhar... Eu tomarei conta de tudo, para você poder ir... Acaso você não confia em mim? pois, conforme você sabe, eu também gosto de criar galinhas, até já possui grande criação de galinhas... e também gosto de tratar de plantas...
_ Você então não tem fé em Deus? Vamos orar, para que o Senhor nos ajude... Tudo há de melhorar para você, tenhamos um pouquinho mais de paciência...
— Sim,
minha Sinhá, eu tenho fé em Deus, sim Senhora... Deus Nosso Senhor até é muito
bom, na verdade e não sei como agradecer tanta bondade que tenho recebido
dele... Não vê a Senhora, minha Sinhá, que, se eu estou sofrendo tanto assim,
também tenho quem me ajude muito, graças a Deus... O culpado da minha desgraça
foi o seu Romano. A Senhora conhece o seu Romano?
— Não, Pedrinho, não conheço, não...
— Pois
ele é o vendeiro dali, da rua de cima, um (italiano) muito “inzigente” e
“ambicioneiro”... Eu tinha uns negócios
com ele, quer dizer, comprava no armazém dele os “mantimentos” para mim, o
milho para as galinhas, que era bem pouco, porque elas pastavam bem, o
querosene para a candeia, o carvão para cozinhar e o sabão para lavar a minha
roupa, os pratos e as panelas. Mas depois eu adoeci, fiquei ruim como a Senhora
não imagina, não pude trabalhar mais, não ganhei nada, pois como era que eu
havia de bater enxada e sair por aí vendendo as verduras, com a febre que me
atacou? Fiquei três meses muito mal, sim Senhora, mas continuei comprando no
armazém do seu Romano. Pois então eu havia de passar fome? E as galinhas então
não precisavam do milho? Mas, não pude pagar nada disso com pressa. Então,
minha Sinhá, foi que o “seu” Romano me fez uma traição tão grande que me deixou
na miséria que a Senhora vê...
— Não pense mais nisso, Pedrinho! O que passou não mais deve ser comentado. Lembrando-se desse triste passado, você se martiriza novamente, sem razão de ser, e piora do seu estado geral... Pense antes em Deus e no futuro e peça forças para esquecer o mau passado e começar vida nova, que será muito melhor do que essa, que tanto o fez sofrer...
— Mas é que a traição foi grande, minha “dona”, eu quero que a Senhora saiba de tudo, porque até hoje o meu coração sangra... Isso “já foi” há muito tempo, não sei mais há quantos anos, não Senhora... Mas agora “já vou” melhorando de vida, graças a Deus. Estou bem aliviado das minhas dores e posso trabalhar um pouquinho... Faltam as ferramentas para revirar a terra, minha enxada, meu ancinho, minha pá, meu machado... O que seu Romano fez comigo não se faz com um cachorro, fique a Senhora sabendo... Eu também sou gente, ou não sou? Então porque sou negro não sou gente? Só ele é que é gente, porque é alvo? Ele veio aqui, eu estava deitado na minha cama, tiritando com o frio da febre. Ele me tirou da cama, fez-me deitar numa esteira velha, dizendo que ela era mais fresca e boa para a saúde do que a cama; carregou minha cama, meu colchão, minhas “cobertas”, minha mesa, meu armário, minhas cadeiras e meus bancos, pois eu tinha a casa muito arrumadinha porque estava viúvo “de pouco tempo”; carregou meu baú de roupa, minhas panelas e meus pratos e minhas latas, carregou até minhas abóboras e minhas couves, sim Senhora, ele fez isso! carregou os quiabos, os gilós, os cheiros verdes, as ervilhas! Nem as galinhas, nem meus galos de briga e os ovos escaparam da ladronice dele, e levou até as minhas ferramentas, tudo para pagar a tal dívida. Então eu devia tanto assim a Seu Romano? Foi ou não foi ladronice dele? Mas eu ia pagar a dívida, sim Senhora, a questão era eu ficar bom para poder trabalhar e ganhar o dinheiro. Não era preciso ele fazer isso, não é mesmo? Só ficou aquela esteira velha, acolá... porque mesmo o travesseiro foi a vizinha aí do lado que me favoreceu, por bondade. Os vizinhos pediram a «seu» Romano para não fazer essa maldade comigo, mas ele respondeu com má criação, dizendo que ia chamar a polícia para me levar para um hospital, que eu devia muito a ele e ele não podia perder... mesmo porque eu não ficaria bom, mesmo, nunca mais, ia morrer, e, antes que outra pessoa arrecadasse o que era meu, arrecadava ele, a quem eu devia muito... A Senhora já viu coisa igual na sua vida? Ah, eu chorei muito, e então foi que fiquei sem recursos para poder trabalhar, piorei muito da minha doença devido ao desgosto sofrido, e até hoje estou assim... e se não fosse a bondade das minhas vizinhas eu até teria morrido de fome, elas é que me traziam a comida, fiquei vivendo de esmolas, minha Sinhá...
— Entregue seu desgosto a Deus, Pedrinho, e não pense mais nisso, para você conseguir a paz do coração. Mais possui Deus para conceder a você do que «seu» Romano teve para levar daqui. Ele é mais infeliz do que você, pois, praticando tal violência, em vez de observar os deveres da Fraternidade para com o próximo, saiu da graça de Deus, enquanto que se você perdoar estará na mesma graça. Não se lembra da resposta de Jesus, quando o apóstolo perguntou quantas vezes deveria perdoar ao ofensor? Jesus respondeu: Perdoa até setenta vezes sete... isto é, perdoa sempre... O melhor é você concordar em ir para o hospital a fim de se restabelecer e poder trabalhar nos serviços de Deus... e não mais com a enxada nas mãos...
— Que Deus Nosso Senhor perdoe a ele e a mim ....... Para dizer a verdade, minha Sinhá, eu já odiei seu Romano muito mais do que odeio agora. Mas no princípio senti um ódio por ele que, se pudesse, eu o teria devorado vivinho... Fiz até um “trabalhinho” com fogo e pólvora, para ver se ele devolvia o que era meu. Quis pôr «um mal» nele, para me vingar. Mas qual! Seu Romano parece até o próprio “manhoso”. Tem o “corpo fechado” a sete trancas, sim Senhora, não pegou nada nele, minha Sinhá, perdi o tempo, piorei da saúde porque me levantei e abusei sem poder, e ainda gastei o último dinheirinho que tinha, para comprar os apetrechos...
— Nisso você fez mal, Pedrinho, porque, desejando o pior para o próximo, você saiu da graça de Deus e se aliou ao Espírito das trevas. A lei de Deus recomenda perdoar e esquecer as ofensas, e Jesus Cristo, nosso Mestre, aconselha nos a amar os próprios inimigos, sem jamais desejar lhes qualquer mal. Não devemos, portanto, exercer vinganças, seja contra quem for. Deus, nosso Pai, é o único que saberá e poderá corrigir com justiça as nossas faltas. Perdoe, pois, a seu Romano e vá sossegado para o hospital, porque eu garanto que dentro em breve você estará forte e alegre para o trabalho que Deus confiar às suas forças.
Inesperadamente, apareceu entre nós a figura
amável de homem negro apresentando-se como comprador de imóveis:
— Desejo
comprar, sim, um terreno por estas imediações, e, dentre alguns que sei estarem
à venda, o seu é o que mais me convém, pela proximidade da Estação da Estrada
de Ferro. A você, meu amigo, conviria muito o negócio. Está doente, e assim não
poderá trabalhar para desenvolver sua lavourazinha, porque não tem saúde nem
recursos e por isso sofre dificuldades sem fim. Venda, pois, o terreno, eu compro e pago à vista... depois trataremos da
escritura... Coloque o dinheiro no Banco, vá para o hospital tratar-se... e
ao restabelecer-se, deixando o
hospital, terá uma quantia razoável para comprar outra propriedade maior e
melhor do que esta, e tocar a lavourazinha... Afinal, sou seu amigo e o aconselho bem... Somos da mesma
raça, da mesma cor. Nossas avós e nossas mães foram escravas, choraram e
gemeram no cativeiro, e isso nos deve unir... E esteja certo, amigo Pedro, que
em mim você terá um irmão leal ao seu dispor, para protegê-lo e defende-lo de
hoje em diante... Suas infelicidades passaram, confie em Deus e nada receie...
_ A senhora acha que deve vender meu
terreninho?
_ Com certeza, Pedrinho! Você não pode perder essa oportunidade. Aceite a oferta e vai com ele ao médico.
— Deus Nosso Senhor é muito bom, na verdade, e Jesus Cristo é o nosso Mestre e Protetor, conforme explicou a minha Sinhá... Seu Romano foi que me fez uma traição muito grande, mas agora, vejam só, encontro gente boa para me ajudar. O que «seu» Romano me fez não se faz com um bicho...
— Esqueça o passado, Pedrinho, esqueça e perdoe, para Deus perdoar também as suas faltas. Agora pense no futuro para recuperar o tempo perdido nas trevas do ódio... E vá com Deus...
Não respondeu e saiu naturalmente, pela porta da rua.
“Imbira”
— fibra de casca de árvores, verdes,
usada pelos homens da lavoura como amarrilho para os seus serviços.
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